terça-feira, 29 de abril de 2008

SAGRADO CORAÇÃO. PORQUE SÓ ELE É ASSIM?

Por que tanta coisa em torno do Sagrado Coração de Jesus?

Achei, entre as instituições que usam esse órgão em particular, paróquias, colégios, universidades, apóstolas, missionários...

Assim como as antigas placas dos automóveis quando tinham apenas duas letras, as combinações em torno de um único órgão do filho Dele irá causar, se já não causa, problemas de homônimos ou de direitos autorais.

E porque ignorar os outros órgãos?

Em nome da sacralidade total, proponho ao Vaticano a santificação do corpo de Cristo como um todo, de modo que todas as associações cristãs do mundo tenham mais facilidade em criar seus nomes.
Desse modo poderíamos ter:

- Associação do Beatíssimo Fígado de Jesus;

- Apóstolos do Milagroso Pâncreas de Jesus;

- Missionários do Santíssimo Intestino Grosso de Jesus;
- Colégio dos Iluminados Rins de Jesus;
- Irmãs do Abençoados Olho Direito de Jesus;

- Beatas do Testículo Esquerdo de Jesus;

- Congregação dos Seguidores do Altíssimo Dedo Mindinho do Pé Direito de Jesus (quantas possibilidades, visto que são 20 dedos...);

...e por aí vai.

Nem precisam me agradecer pela idéia. Foi inspiração divina...

terça-feira, 22 de abril de 2008

GANHE DINHEIRO COM SEU BLOG!


Dia desses li no LINK, um caderno do Estadão, sobre a falta de “empreendedorismo” nos blogs. Faltaria, na opinião de quem escreveu, ambição aos blogueiros.

Em outras palavras, o jornalista/analista dizia que os blogueiros precisavam pensar em maneiras de ganhar dinheiro com seus diários eletrônicos, como inicialmente eram chamados.

Em minha opinião isso é fruto de uma visão deformada pelo reducionismo funcionalista impregnado em nossa sociedade – e nas mentes de todos. Tal funcionalismo exige que tudo tenha uma função, no sentido mais comercial possível da coisa. Em resumo: tudo deve servir para algo e, preferencialmente, com algum valor comercial - gerar dinheiro.

Em nossa cultura e em nossa sociedade, costumamos considerar que alguma coisa só tem o direito de existir se tiver alguma finalidade prática, muito visível e de utilidade imediata.
Se não é para ganhar dinheiro, para que serve então?

Ora, um blog pode servir para uma série de coisas. Expor idéias a respeito de algum assunto, por exemplo. Ou então nos mostrar "...o risco de tomar por certo aquilo que deveríamos prestar atenção cuidadosa, bem como a possibilidade de descobrir, sob o prosaico comum e rotineiro, um universo de extraordinária riqueza e variedade, diante do qual podemos somente nos maravilhar". OK, essa frase é de Matthew Lipman, filósofo norte-americano, definindo a serventia da Filosofia no mundo atual.

Mas quando se publica e troca idéias, estão todos os envolvidos de algum modo obtendo conhecimento. Obtendo conhecimento sobre um assunto, tornamo-nos mais críticos e conscientes em relação àquilo e suas conseqüências ou reflexos no mundo. Tornando-nos mais conscientes, entendemos nossa responsabilidade e, por fim, evoluímos.

Pretensioso, não?

OK, há muito lixo por aí. Mas, se há, possivelmente existe porque também há quem queira ver.

Desse modo, dizer que algo é ou não lixo depende de quem lê, ouve ou assiste – uma questão de nível do interlocutor. Já ouvi um reverenciado maestro brasileiro dizer que Caetano, Gil e Chico Buarque são bobagens em termos musicais...

Mas, voltando ao assunto: nem tudo, acredite, é feito por dinheiro. Há um prazer em expor e trocar idéias que só blogueiros conhecem.

E prazer, se for de graça, melhor. Se "gratuito" para quem bloga, sem amarras, rabos-presos ou necessidade de se ganhar dinheiro, por exemplo, nem se fala.

Uma outra “falta” que o jornalista vê nos blogs é a de "vontade de mudar o mundo".
Ele admite que seu texto é apenas uma provocação, mas que provocação mais ultrapassada, sô...

Cheira a bolor, cheira à lama de Woodstock.

Não que devamos apoiar a mesmice, o continuísmo, mas mudar o mundo?... Isso é muito anos 60, muito cafona, usando um termo da época em que todos queriam mudar o mundo deixando barbas e cabelos crescerem.

Assim como as barbas e cabelos foram inúteis e só deram lucro aos barbeiros quando o movimento murchou, não são os blogs que vão mudar coisa nenhuma, mas sim uma série intrincada de fatos e variáveis incontroláveis.

Imagine o tamanho do caminhão da Granero necessário para mudar o mundo...


quinta-feira, 17 de abril de 2008

A DIFÍCIL TAREFA DE SER ÉTICO

Numa certa aula num curso que estou fazendo o tema era marketing global e o assunto girava em torno da necessidade de preocupação com a ética, indo da mais prosaica honestidade na relação comercial às questões referentes ao trabalho escravo, dando como exemplo o extrativismo de cacau na Costa do Marfim, além do tradicional e desastroso da Nike.

Foram colocadas questões com as quais as empresas e seus profissionais devem se orientar para, no mínimo, terem melhor imagem corporativa, como responsabilidade social, preocupação com o meio-ambiente, educação, saúde dos funcionários e sociedade, ações sociais pró-ativas e outras.

Tudo ia bem até que, num momento mais relaxado e apenas para dar um exemplo, o professor disse que “...poderíamos tentar, num encontro numa churrascaria, montar uma ONG...”... Ops!

Nesse momento, como uma pedrada uma questão me atingiu: ser ético é, a despeito da extensão desse assunto, respeitar “o outro”. Isso nos leva à reflexão sobre quem é esse tal de “outro”.

Seres humanos com cor da pele diferente da minha podem ser considerados “o outro”?
Sim, após muito sofrimento, humilhações e enfrentamento de diversos desafios, pessoas de pele escura deixaram de ser vistas como coisa, como mercadoria importada da África e passaram a ser tratadas como gente. Ainda têm problemas, às vezes escancarados, às vezes mais velados como aqui no Brasil, mas conseguiram um bom avanço. A humanidade, de modo geral, evoluiu na questão do racismo.

Seres humanos de sexo diferente do meu podem ser considerados “o outro”?
Sim, após muito sofrimento, humilhação e enfrentamento de diversos desafios, mulheres conseguiram direito ao voto (lembram das Sufragistas?...), acesso ao mercado de trabalho e outros avanços. Ainda têm problemas, às vezes velados, às vezes escancarados como as vítimas de excisão (amputação do clitóris - a UNICEF revela que três milhões de mulheres na África e no Médio Oriente são sujeitas a mutilação genital todos os anos) mas, de modo geral, a humanidade evoluiu bastante em relação ao sexismo.

Seres NÃO-humanos e, portanto, bem diferentes de mim podem ser considerados “o outro”?
Cientistas afirmam que DNAs de humanos e chimpanzés são 98% idênticos.
Afirmam, também, que diversas espécies têm linguagem própria e se comunicam de modo até sofisticado (eu acredito que todas tenham, nós humanos é que somos ignorantes e não compreendemos). Descobriram que orangotangos e alguns cães conseguem fazer contas simples.

Não é preciso ser cientista para perceber que animais sentem fome, frio, medo e dor, muita dor nos laboratórios de pesquisas, nas fazendas industriais, nos abomináveis rodeios, na produção alucinada de ovos, na pré-preparação de aberrações como o foie gras.

A diferença definitiva entre animais e humanos é a incapacidade dos primeiros de protestarem e defenderem seus direitos mas, se você se pretende ético, não espera por isso. Respeita e deixa-os viver.

Em minha opinião, sim, eles também são “o outro” e, desse modo, não pisaria numa churrascaria para devorar pedaços seus cadáveres, resultado de vidas encurtadas por sofrimentos inimagináveis. A humanidade, de modo geral, ainda não evoluiu nada em relação ao especismo.

Ser ético “mais ou menos” não é ser ético. Ser ético com algumas coisas e não outras não o torna uma pessoa ética. Ser ético por completo é remar contra a maré, é estar sozinho a maior parte do tempo e, mesmo assim, por falta de informação e conhecimento a gente às vezes derrapa.

Ser ético vai muito além de consciência social, imagem corporativa na OMC ou respeito ao meio-ambiente.

Como disse Leo Tolstoy, "Um homem pode viver uma vida saudável sem ter que matar animais para comer; portanto, se ele come carne, participa do ato de tirar a vida de uma criatura meramente para saciar seu apetite. E agir dessa maneira é imoral."

quarta-feira, 16 de abril de 2008

HEROES

Heroes é um clássico de 1977 perpetuado por David Bowie, mais ainda quando ouvido no filmeEu, Christiane F., 13 anos, Drogada e Prostituída...” .

Muito antes da série Heroes chegar à TV...

Heróis são o tema central de qualquer epopéia clássica que se preze e foi estudando-as que Joseph Campbell, autor de “O Poder do Mito” (já o citei antes...), escreveu sobre a saga do Herói. Diz ele que “nas narrativas clássicas o herói começa relutante mas há augúrios e sinais que antevêem sua grandeza pré-destinada. Ele recebe conselhos sábios de um mentor, ganha companheiros inesperados, porém leais, enfrenta uma série de crises cada vez mais críticas, explora o poço de seus próprios medos e emerge vitorioso, levando a vitória ou o talismã de volta à sua tribo, seu povo ou sua nação que o admira profundamente”.

O caminho do herói simboliza a jornada que todo ser humano precisa empreender em direção ao que o psiquiatra suíço Carl Gustav Jung (1875-1961) chamou de individuação. “É a busca por desenvolver nossa singularidade, descobrir e explorar nossos potenciais a fim de nos tornarmos seres únicos”, explica o psicoterapeuta junguiano Ascânio Jatobá.

Heróis nos acompanham por toda a vida. Na infância eles são mais facilmente identificáveis pois usam roupas multicoloridas, capas e têm superpoderes, voam, são à prova de bala, invisíveis, mais rápidos que um raio...

Mas a gente cresce e nossos heróis mudam.

Dá até pra dizer que existe aqueles que curtem mais os anti-heróis. Há quem diga que Indiana Jones é um anti-herói.

Há mais de um tipo de anti-herói. Além dos que buscam satisfazer seus próprios interesses, há também os que sofrem desapontamentos em suas vidas, mas persistem até alcançar o ato heróico. Ainda há o tipo de anti-herói que é bem próximo do herói, mas segue a filosofia de que “o fim justifica os meios”.

O que dizer quando seu herói (ou seria anti-herói?!) é mal-humorado, desbocado, cético, narcisista, quase cafajeste (não, não é o Wolwerine) e manca de uma perna?

Dr.House, chefe do departamento do medicina diagnóstica do fictício hospital Princeton-Plainsboro é tudo isso e muito mais.

Aliás, todas as opiniões sobre o personagem são superficiais - isso em minha nada humilde opinião. Dr. House mantém aquela casca grossa por alguma razão, talvez para se proteger...


Quase como um mestre zen da escola Rinzai, House chama bruscamente seus interlocutores de volta à realidade, ao aqui e agora, ao que realmente precisa ser feito, com o objetivo correto - através de meios nem tanto - com uma clareza e visão que assombra a todos.

Detona valores morais embolorados, implode preconceitos.

Vale a pena uma olhada se você ainda não é fã.