sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

PAPAI NOEL ROUBOU A FESTA DO MENINO JESUS

Li no jornal que as decorações de natal, de modo geral, parecem ter “esquecido” do personagem principal da data, Jesus.

Em shoppings e avenidas, o que se vê é uma profusão de Papais Noéis, renas, gnomos, animais variados e até personagens de filmes de animação.

Mas nada do menino Jesus na manjedoura. Presépios são cada vez mais escassos nesta época, ao menos em locais públicos e comerciais.

A conclusão, óbvia mas não tão simples, é a diversidade religiosa e cultural se afirmando na maior megalópole da América Latina.

Digo não tão simples porque, agora constatado o fato, religiosos de todas as facções irão conclamar seus adeptos a reforçarem suas convicções diante da quase extinção de Jesus nos rituais de Natal.

Nos moldes da lei que obriga ter ao menos uma parte de atores negros em filmes, novelas e comerciais e a outra, a das cotas, que obriga a resguardar vagas nas universidades a afro-descendentes, possivelmente algum lobby evangélico em Brasília irá tentar criar leis obrigando a participação mínima de Jesus nas festas de fim de ano, em total desrespeito às minorias muçulmana, judia, budista, xintoísta, hinduísta e tantas outras.

De certo modo, acho que deixar Jesus de lado é um equívoco, um desvio com intenções comerciais. Um equívoco pois Natal vem de “natividade”, nascimento – o do menino que veio para nos salvar e, afinal de contas, nesta data é isso que se comemora. E uma maquinação comercial por razões óbvias: a imagem do bom velhinho está associada a presentes muito mais que a de Jesus e o comércio precisa desta data como precisaríamos de água num deserto.

Mas Jesus, ao nascer, ganhou três presentes, um de cada Rei Mago. Já pensou se a moda pega e todas as crianças passem a exigir três presentes cada? Os pais não iam gostar muito, mas o comércio está perdendo uma boa oportunidade de explorar três vezes mais a data...

Ok, ok. Nem Joãozinho, nem Pedrinho nem Mariazinha vieram para nos salvar e, esperamos, não morrerão na cruz, mas... Você entendeu, certo?!

Aliás, jamais entendi esse negócio de “veio para nos salvar”.

Salvar de quem? Ou do quê?

Deus ia acabar com o mundo?

De novo?

Ele já tinha mandado um dilúvio, já tinha destruído Sodoma e Gomorra, a "Las Vegas" da antiguidade...

Será que a Terra e a humanidade são versões Beta, nas quais Deus está volta e meia fazendo upgrades?

Ou ele foi crucificado para nos eximir de nossos pecados, salvando-nos de nós mesmos?

Posso concluir que desde então não tenho pecado nenhum, não importa o que eu faça?

Eu ia continuar, mas estão me avisando que o peru já está na mesa.

E pela milésima vez terei de explicar a todos o motivo de eu não comer carne...


P.S.: decorar a cidade com motivos natalinos cheios de neve e cenários com lareiras não é uma idiotice num calor infernal como o nosso?




segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

FELIZ NATAL

Mesmo que você não participe de sessões espíritas nem seja Pai de Santo, não se avexe, o espírito de Natal vai baixar em você.

Isso significa que, nesta época mágica do ano, você vai falar de amor ao próximo, de confraternização, desejar saúde e felicidades a torto e a direitoe terá mirabolantes ilusões esquizofrênicas sobre como será o ano seguinte.

Você vai permitir que as crianças se sentem no colo de um obeso idoso fantasiado de vermelho sem que isso se transforme em acusação de assédio nem processo judicial.

Num calor dos infernos nessa época aqui nos trópicos, você desejará que refresque um pouco usando sabão, papel picado, algodão ou bolinhas de isopor para simular o frio e a neve que nunca viu pessoalmente.

À noite de Natal você chamará “de alegria infinita”, apesar de ter passado por um estresse enorme na fila da rotisserie pra pegar o prato congelado e levar logo pra casa e colocar no forno, de ter enfrentado o trânsito ainda mais caótico e quase ter saído no tapa com aquele que enfiou o carro na vaga que você estava esperando.

Nesta noite de paz e de luz, seu sogro vai dormir e babar no sofá e a mãe de seu marido vai torrar o finalzinho de sua paciência querendo lhe explicar como manusear direito o peru (o do forno, não o do filho dela) e vocês não vão brigar “pois é Natal...”.

Você vai aturar as crianças destruindo sua sala enquanto o bendito relógio não bate meia-noite, que as tias exigem que se espere antes de abrir os presentes.


Aliás, por falar em presentes, você vai ganhar algo de que não precisa ou não gosta, esteja avisado de antemão. Treine sua cara de quem adorou o presente durante a tarde, diante do espelho no banheiro, depois que seu tio já bêbado resolver sair dele.


Ah, e avise a todos de que não é preciso regar a árvore de natal, principalmente se tiver as luzinhas pisca-pisca. Da última vez, o choque que a minha avó levou quase fez parar o marca-passo dela.

Bom, então, Feliz Natal.

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

O NATAL DO IPAD

Dia desses li um artigo no Link do Estadão sobre este ser o natal dos e-readers. Fiquei com algumas dúvidas, pois o preço não é lá o que se pode chamar de "acessível" à grande maioria dos brasileiros, infelizmente. Se este for mesmo o natal dos e-readers, será por terem expectativas muito baixas em relação a eles. Um blog especializado publica, em tom retumbante, que "...já são 30 mil iPads no Brasil...". Trinta mil??? Isso não é NADA comparado aos mais de 10 milhões vendidos pelo mundo.

Poucos dias depois um outro articulista escreveu, no mesmo Estadão, um artigo contestando ser este o Natal do iPad.

Segundo as opiniões do autor, o iPad atualmente disponível é um produto transitório, que será aprimorado muito brevemente e por isso ele afirma ser mais vantajoso, ao invés de correr às lojas adquirir o seu, aguardar o lançamento do iPad 2.

Qualquer um que acompanhe o mundo da tecnologia sabe que um produto começa a ficar velho na semana seguinte ao seu lançamento, ou pela concorrência lançar adversários com mais traquitanas ou pelo simples anúncio de novas tecnologias que em breve poderão ser integradas a eles. E esse ciclo virtuoso não tem fim.

Pela lógica do autor, e sabendo do dito acima, quando lançarem o iPad 2 ele deverá esperar pelo iPad 3. E quando, finalmente, lançarem o 3, ele aguardará pelo 4... ...

O iPad, como vários outros produtos da Apple (obs.: eu não sou um fan boy, apenas constato um fato), é um produto de ruptura, de extrema facilidade de uso, de descobrimento de novo nicho. Nenhuma outra marca ou linha de produtos consegue tamanha movimentação de mercado, trazendo em seu vácuo diversas outras empresas dos mais variados setores. Duvida?

Você por acaso viu algum banco lançando aplicativos para alguma outra marca? Você viu jornais e revistas disponibilizando suas edições virtuais para o e-reader da Samsung, da Amazon ou outro? Não, não viu simplesmente porque ninguém deu bola. Mas bastou o iPad surgir que todo o mercado de e-book, aplicativos, jogos e tudo o mais entrar em ebulição.

Ficar esperando o modelo definitivo não é racional. E, por falar nisso, a aquisição de um iPad passa muito longe de uma decisão racional: é a fissura de participar dessa onda.


terça-feira, 16 de novembro de 2010

LULA, TIRIRICA E O PORTEIRO DO PUTEIRO

Há milênios circula pela internet uma estória (pra boi dormir) do tal Porteiro do Puteiro, um homem que não sabia ler nem escrever mas que vence as adversidades e se torna multimilionário. Algumas vezes atribuem essa estória à vida do Sr.Tramontina. Pura balela...

O objetivo torto dessa infelicidade é mostrar que é possível superar as dificuldades da vida, sejam quais forem. Será que o autor é ou já foi professor escolar?

Minha mãe foi professora primária da rede pública por quarenta anos. Ao final de sua carreira, pouco antes de se aposentar, dizia que atualmente a maior dificuldade de um professor é convencer um aluno de que estudar é importante.

Ao tentar fazê-lo, seja qual argumento utilizasse o aluno, lembrando de seus ídolos no esporte, na TV e, mais atualmente, na política, questiona: pra quê estudar tanto se fulano, sicrano e beltrano não estudaram nada e foram muito mais longe e ganham muito mais que meu pai?...

Com a lógica rarefeita, própria da idade, fica muito difícil para o professor argumentar com o aluno de primário. Se até nosso presidente da República e agora um deputado federal não precisam ler e escrever, porque ele precisa?

Por que estudar tanto quanto seu pai, que fez escola, colegial, faculdade, cursos especiais, MBA mas rala de segunda a sexta, de antes do Sol raiar até tarde da noite e nem pode lhe pagar uma viagem à Disney, enquanto que outros, semi-analfanetos ou analfabetos funcionais, aparecem na TV com carrões importados, em jantares cheios de celebridades, viajando por outros países acompanhados de belas mulheres?

Na sociedade do pão e circo, do BBB e das celebridades de vestidos rosa, pessoas que lêem essa estorinha e a repassam como “uma grande lição de vida” precisariam voltar à escola nem tanto para aprender a ler e escrever, mas aprender a PENSAR, principalmente em que país queremos ser ou queremos deixar para nossos filhos (apenas um clichê pois eu não os tenho).

A estória ensina que o valor da pessoa está em suas posses, em sua riqueza financeira, material. Ou seja, o cidadão pode ser um completo ignorante, desde que seja rico. Aí a sociedade o aceitará como um grande homem.

Essa é a lição.



domingo, 7 de novembro de 2010

A PROIBIÇÃO DE LOBATO


Uma celeuma enorme se instalou em toda a mídia diante da tentativa (sem comentários...) de se proibir o uso do livro Caçadas de Pedrinho na rede pública de ensino.

Acredito que você não seja completamente alienado e já tenha lido algo a respeito, pois não vou reproduzir aqui todas as lúcidas opiniões contrárias que encontrei pela internet.

Mas há uma análise que não vi: sobre quem está por trás da tentativa de proibição.

Pelo que pude averiguar, tudo começou com um documento preparado pela Secretaria de Promoção da Igualdade Racial, enviado ao Conselho Nacional de Educação (CNE).

Vamos por partes.

Se lermos a Constituição, carta magna que rege a nação, veremos que no Brasil não existe a divisão de raças – somos todos brasileiros, independente de cor, credo, opção sexual, situação financeira, para que time torcemos ou como penteamos o cabelo. Se assim é, a existência dessa tal Secretaria não é um contra-senso? Promover a igualdade de algo que não existe?

E como se promove a igualdade olhando apenas para um lado da questão - negros e mulatos? Como ficam os índios, os verdadeiros primeiros e massacrados habitantes da Terra Brasilis? E os asiáticos?

E como promover igualdade criando privilégios para uns em detrimento de outros, utilizando-se da imposição de lei, subjugando a realidade social e de mercado?

E o CNE, então? Foram os 12 conselheiros deste órgão que acataram por unanimidade a “denúncia” da Secretaria que promove a Igualdade da Coisa Inexistente.

Por “conselheiros”, seja lá onde for, eu costumava imaginar pessoas muito acima da média em intelecto, cultura, informação, discernimento. Mais uma de minhas ilusões é desfeita. Nenhum deles pensou que essa pataquada poderia terminar no bafafá que terminou? Que bando de manés!...

Não consigo acreditar que os nobres senhores e senhoras que ocupam os cargos públicos por nós remunerados tenham feito essa lambança por ignorância. A enormidade dessa boçalidade politicamente correta só pode ser explicada por uma tentativa equivocada de autopromoção.

Se isso continuar, em breve não mais poderemos não apenas ler certos livros, mas também proibirão músicas, filmes, peças de teatro.

Imaginem, por exemplo, Jorge Benjor tendo de alterar sua música para “A Bandaaaaa do Zé Afrobrasileirinho chegoooou”...

Eu ia escrever mais umas, mas Nelito Fernandes foi mais rápido que eu.

A burrice crônica que afeta nossas "otoridades" continua tentando proibir ao invés de educar, tirar de vista ao invés de explicar, esconder ao invés de discutir o assunto.

E assim continuamos todos burros - como eles - para sempre.

P.S.: Pedrinho ainda corre risco de ser enquadrado na Lei de Crime Ambiental por caçar animal em risco de extinção.

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

MISTÉRIOS DE HUMANIDADE - capítulo Brasil

Alguém poderia me explicar...

... porquê, contrariando toda a lógica do comércio eletrônico no planeta Terra, o Pão de Açúcar vende MAIS CARO VIA WEB que nas lojas reais?

... porquê, ao contrário de todo o resto da galáxia, no Brasil ainda não temos iPad nas lojas?

... porquê, diametralmente em oposição ao mundo evoluído, um livro eletrônico nacional custa às vezes mais caro que um livro impresso?

...que conta é feita e que custos são agregados para que um mesmo mero relógio de pulso custe aqui exatas DEZ VEZES MAIS que no exterior?

... o que se passa na cabeça de um povo que elege um palhaço analfabeto – e, como se não bastasse, ignorante - como um de seus líderes?

Parecem brincadeira, mas são perguntas sérias, com implicações que nem sempre percebemos ou conseguimos compreender.

Se alguém souber me explicar em detalhes, como se eu tivesse 5 anos – sem inventar estórias como a das cegonhas - agradeço.


segunda-feira, 1 de novembro de 2010

SIMETRIA E COERÊNCIA

Note uma coisa: Dilma Roussef foi eleita em 2010, na mesma corrida aos cargos públicos em que se elegeu Tiririca, campeão de votos.
Isso é uma amostra da coerência entre os eleitores, não?



quarta-feira, 27 de outubro de 2010

“A ÚLTIMA MINORIA”...


...é o excelente título dado ao artigo escrito por Fábio Ulhoa Coelho, jurista e professor da PUC-SP, publicado no Estadão do dia 25 de outubro.

Em seu artigo ele explica como é falsa a ideia de que um ateu seria um cidadão com menos moral e ética que um religioso.

Há uma confusão generalizada em torno da moral e da ética, que são conceitos autônomos, independentes de qualquer religião. Ao contrário, as religiões ao longo do tempo se apropriaram de alguns (não todos, infelizmente) dos tópicos da moral e da ética e desde então se apresentam como fornecedoras exclusivas destes valores. Não é verdade.

Um ateu que aja dentro de preceitos morais e éticos, mesmo que segundo sua cultura e seu tempo e apesar disso, é uma pessoa muito mais firme em seus alicerces que seus concidadãos religiosos.

Digo isso porque, pelo que tenho observado, existem três tipos de pessoas religiosas:

- a medrosa, que, segundo o que se ouve em igrejas e se lê em textos religiosos, “é temente a Deus”. É aquela pessoa que se apavora com a ideia do Inferno, do pecado, da punição Celestial e, principalmente por essas razões, prefere acreditar em Deus e ter uma religião. A base de sua fé e estilo de vida é o medo;

- a interesseira, aquela que acredita (ou diz que acredita) em Deus, segue alguma religião e diz ter fé sempre dando ênfase nos benefícios que isso trará, tais como uma pós-vida no Paraíso junto ao Senhor, graças divinas e bênçãos;

- e a ingênua, que também pode ser chamada de “mentalmente preguiçosa”, que nunca parou para pensar sobre o que lhe martelaram a vida toda. Ela segue a manada, é acrítica, prefere nem pensar sobre o assunto (nenhum assunto – se lhe trouxerem qualquer coisa mastigadinha, melhor).

Ora, para ser uma pessoa correta não deveria ser (e NÃO É) necessário temer a ira divina nem esperar recompensas por bom comportamento em vida. Bastaria viver tentando não causar dano de espécie alguma – moral, psicológico, físico, financeiro... - ao seu semelhante, nem a ninguém.

Pascal tentou provar matematicamente que acreditar em Deus é um bom negócio. Sem sombra de dúvidas, ele é o patriarca dos medrosos e dos interesseiros.

E como disse Einstein: “Se as pessoas são boas só por temerem o castigo e almejarem uma recompensa, então realmente somos um grupo muito desprezível.”

Desprezível é o preconceituoso... Assim como eu em relação aos religiosos... Ops!

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

ELE ESTÁ ENTRE NÓS

- E aí, como foi a viagem?
- Foi boa. Viajar é sempre bom, né!?

- Conseguiu passar ileso na PF do aeroporto?
- Ah, passei... Nem trouxe muita coisa, mas fiquei com receio de passar com o iPad.

- Putz, trouxe um?! E aí, gostou, é bom mesmo?
- É legal...

- Hmmm, não senti firmeza.
- Pois é... É bacaninha e tals...

- Pô, mas dá pra fazer um monte de coisas nele, não?
- Dá pra acessar a internet e enxergar as coisas melhor que na tela do celular.

- Ele é um leitor de livros eletrônico não? Já baixou algum?
- Ia baixar só pra ver como é, pois os que eu quero ler não encontrei.

- O pessoal das editoras ainda tá se preparando, nem foi lançado aqui ainda. Mas tem um monte de joguinhos, não tem?
- Tem, mas não sou fã. E tem de pagar pra baixar.

- Mas você pode usá-lo em qualquer lugar, levar pra lá e pra cá...
- Trabalho em casa... Além disso, tem o risco de ser assaltado. Não é tão leve assim e não costumo sair com bolsa...

- Pô, mas então porque comprou?
- Ganhei de presente.

- Não gostou, dá pra mim.
- Nnnnnnn... Tem uns apps free e baixei um que o transforma num rádio relógio e despertador. Está na cabeceira da cama.

- Caro esse seu despertador,hein?!
- Chique nos úrtimo.

terça-feira, 28 de setembro de 2010

TROCAR 6 POR MEIA DÚZIA

Somente nessa semana recebi 4 vezes mensagem com um link para assistir ao vídeo do Pr. Paschoal Piragine Jr sobre as eleições 2010, no qual ele exibe um vídeo (um vídeo dentro de um vídeo, êta metalinguagem...) com alertas à platéia sobre os problemas do país.

Fome, miséria, falta crônica de tudo quanto é serviço básico num país que se diz civilizado, isso sabemos e concordamos com ele.

Apesar do acertadíssimo conselho que dá ao final – NÃO votar no PT nem em ninguém desse partido – há dois pontos que me preocupam: a questão gay e o aborto.

Utilizando as mesmas técnicas dos políticos que critica, o vídeo afirma que a Lei da Mordaça poderá criminalizar àqueles que discordam da prática da homossexualidade. Há graves problemas e equívocos aqui. Em primeiro lugar, a Lei da Mordaça não tem nada a ver com isso. É um projeto de adendo à lei que, originalmente , tem a finalidade de estabelecer sanções àqueles encarregados de investigação, inquérito e processo por divulgação de informação produzida no âmbito de suas respectivas funções, algo muito mais relativo às falcatruas cometidas por funcionários públicos em todos os escalões que com preferências sexuais.

O artigos 3º. e 4º. da lei de 1965 relacionam como abuso de autoridade, entre muitos, quaisquer atentados à liberdade de locomoção, à inviolabilidade do domicilio, ao sigilo da correspondência, à liberdade de consciência e de crença, ao livre exercício de culto religioso, à liberdade de associação, aos direitos e garantias legais assegurados ao exercício do voto, ao direito de reunião, à incolumidade física do indivíduo, aos direitos e garantias legais assegurados ao exercício profissional.

A chamada "Lei da Mordaça" acrescenta como abuso de poder atentados à liberdade de manifestação do pensamento, à intimidade, à vida privada, à honra e à imagem, ao direito de não discriminação, ao direito de ampla defesa e ao contraditório, à proibição da escravidão e da servidão, aos direitos e garantias constitucionais e legais assegurados aos acusados.

Será que é disso que batistas tem medo? De não poderem vociferar contra à liberdade de manifestação (parada Gay), à vida privada (união homossexual), ao direito de não discriminação (deixá-los entrar onde bem entenderem)?

Tem-se aqui um fenômeno não raro hoje em dia: uns exigem o direito de protestar e trabalhar por proibir a prática de outros, ignorando completamente o direito deste outro baseando-se puramente em suas próprias crenças. Oras, se batistas são contra a homossexualidade, então não sejam homossexuais e não admitam em suas fileiras pessoas com essa opção. Mas interferir no direito de escolha do outro e querer impor o ponto de vista de uma religião a praticantes de outras é ditatorial, não acham? É o mesmo que palmeirenses quererem proibir o uso de camisas preto e branco e obrigar a todos vestirem apenas verde.

Ou pior ainda: pessoas como eu, vegetarianos convictos, proibirem o consumo de todo e qualquer tipo de carne no país.

Não é justamente isso – esse tipo de imposição unilateral - que recentemente fez com que até mesmo Hélio Bicudo se voltasse contra o PT de Lula?

Cada religião tem sim toda a liberdade de que precisa para seus cultos e cultores, mas não pode de maneira nenhuma interferir com aqueles que não fazem parte de sua congregação. Conheço ótimas pessoas gays, algumas vivendo com seus pares e não me sinto ameaçado por eles. Minha família não desmoronará por causa das escolhas sexuais de outros. São pessoas cultas, simpáticas, educadas, trabalham, pagam seus impostos, não incomodam ninguém... Não há motivo REAL para não terem direitos tanto quanto eu e você de termos união reconhecida por lei, plano de saúde, etc., etc., etc.

Ainda mais polêmica é a questão do aborto. Afirmo com todas as letras: ela NÃO é uma questão de religião ou crença, NEM científica nem jurídica mas, antes deles, é um problema de saúde pública.

Proibir algo nunca deu bons resultados em lugar nenhum deste planeta, principalmente sobre coisas que tem demanda constante. Muito pelo contrário: dá origem a mercados negros, paralelos. No caso, centenas de milhares de mulheres e crianças morrem anualmente justamente porque o procedimento, proibido, é realizado em clínicas clandestinas. Continuar proibindo o que sempre foi proibido não está ajudando em nada. Não sei qual seria a solução ideal, mas penso que deveria ser permitido e cada um deveria seguir sua própria consciência. Alguns afirmam que o procedimento traz consequencias psicológicas nefastas a quem o pratica. Mas é claro! Imagine você fazer algo que é demonizado pelo resto da sociedade...

Se sua religião é contra o aborto, não faça. Se você tem dúvidas científicas quanto ao início da vida ou questões quanto ao direito do feto à vida, não faça. Mas você NÃO tem o direito de impedir que outros façam e, pior torná-los criminosos por isso. E lembre-se de que não estamos falando de um bebê de três quilos, todo rosinha com covinhas nas bochechas, mas sim de algo menor que seu dedinho da mão e sobre o qual muito discutem, sem chegar a uma unanimidade, os especialistas de todas as áreas. O vídeo mostrado pelo padre, que deveria arder no inferno por mentir descaradamente ao público, é sobre outro tipo de procedimento médico.

Uma coisa é legislar pelo bem estar e ordem social, outra bem diferente é impor crenças, hábitos e costumes de uma facção a todas as outras. É um equilíbrio delicado, uma zona repleta de áreas cinzentas, em algumas questões as fronteiras podem ficar por demais fluidas e não serem muito claras, mas é algo pelo que temos de zelar com absoluto respeito e imparcialidade.

O que falta, de fato, nesse país é educação acima de tudo, muita leitura e respeito às escolhas dos outros. Caso contrário, seguindo como ovelhas o que prega Pr.Paschoal em seu vídeo, estaremos trocando 6 por meia dúzia.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

CENSURA NA ARTE. ARTE?!?

Lady Gaga, a atual foco dos 15 minutos de fama no mundo, já foi criticada de tudo quanto é jeito. O argumento recorrente nas críticas à artista (artista?!?) é que ela não é nada mais que um amontoado de clichês do passado, uma Madonna pasteurizada e fake, que se esforça ao máximo para “causar”, seja lá o que for.

Nos dias atuais, isso não deixa de ser uma estratégia até inteligente. Não importa muito a qualidade do que você faz (e a qualidade artística de Lady Gaga é bastante questionável...), mas sim, como dizem, estar na mídia custe o que custar. Não é nada mais que o antigo “falem bem, falem mal, mas falem de mim”.

Muitas personalidades (Ah! Ah! Ah!) do mundo artístico sobrevivem assim, de estar na mídia.

Ocupando capas de revistas, jornais, blogs, sites, portais, grupos de discussão, Gaga vai ficando em evidência e isso, no final das contas, se transforma em milhões de dólares em sua conta-corrente.

Difícil argumentar contra isso. Afinal, alguns milhões de dólares é o que todos nós gostaríamos de ter, não é mesmo?!

Mas Gaga, tão jovem, deve estar gagá. O tal vestido de carne que usou recentemente é idéia antiga: em abril de 1991 já era exibido como arte na Galeria Nacional de Ottawa, Canadá, um vestido feito a partir de carne crua. Eu mesmo já utilizei fotos de modelos “vestidos” assim numa apresentação ppt que transformei em vídeo e postei no YouTube.

Lady Gaga e seus fãs eram muito jovens à época e quanto aos mais velhos ela deve acreditar que não lembramos das coisas...

Pois é nessa linha estratégica – de “causar” - que eu arriscaria colocar Gil Vicente, o tal artista plástico que desenhou ele mesmo matando Lula, Fernando Henrique, Ahmadinejad e outros em sua série de auto-retratos “Inimigos”.

A imprensa, de modo geral, tem se dedicado à celeuma causada pela tentativa de censurar a exibição desses quadros.

Eu tenho alergia mortal à censura, seja ela de que tipo for. No blog da Cultura e Barbárie há um ótimo artigo de Alexandre Nodari sobre conceitos que envolvem liberdade de expressão, censura e vizinhanças.

Mas, sinceramente, aqueles quadros são arte?

Não estaria o Sr. Vicente (e os organizadores da mostra) apostando num lance desesperado por audiência e, como Gaga, querendo apenas “causar”, uma tática cada vez mais usada numa época em que a hipercomunicação e a hiperinformação nos tornam cada vez mais dispersos?

O que faz com que algo, um desenho, pintura ou escultura, seja considerado arte?

Volta e meia penso sobre isso, leio, escuto, encontro diversos pontos de vista, muitos deles contraditórios, mas nada conclusivo. Já escrevi um post aqui no Pausa sobre isso também.

Arrisco um palpite, que nem é novo: o que faz algo ser considerado arte são as pessoas que as contemplam.

Infindável é a discussão sobre o que é ou não é arte. Mas não há como escapar: conseguir ser visto, chamar a atenção para si, atualmente, é arte finíssima, coisa de mestres.

Gaga e Gil Vicente que o digam.

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

VOCÊ VAI DEIXAR SEU CARRO EM CASA?

O próximo dia 22 de Setembro será o tal Dia Mundial Sem Carro.

O objetivo, entre outros, é conscientizar as pessoas sobre a poluição, meios alternativos, meio-ambiente, a vida no planeta e blá, blá, blá...

O real problema de nosso mundo é que nos tornamos a "sociedade do atalho". Sempre que nos deparamos com algum problema sério, real, tomamos a iniciativa mais fácil, preguiçosa e rápida, que invariavelmente se mostra inócua e burra.

Quer fazer algo DE VERDADE pelo ar que respiramos, pelo planeta, pela vida?

Então antes de começar a enviar mensagens a todos sobre deixar o carro em casa saiba que uma matéria do Le Monde mostra que na escala mundial, a criação de gado é responsável por 65% das emissões de hemióxido de nitrogênio (azoto, essencialmente imputáveis ao esterco), enquanto o gado engendra 37% das emissões de metano.

É preciso 4 kg de cereais para produzir 1 kg de frango, e 6 kg de grãos para 1 kg de porco. Este último necessita, além disso, de 4.600 litros de água. Esta quantidade aumenta para 13.500 litros para 1 kg de boi, enquanto apenas 1.000 litros de água são necessários para produzir 1 kg de trigo.

As produções de origem animal - carne, ovos, laticínios - são extremamente poluentes. Os bilhões de toneladas de excreções que delas se originam engendram resíduos nitrogenados nos solos e nos rios. Além disso, a pecuária, por si só, representa 18% das emissões mundiais de gases de efeito-estufa.

Ou seja, uma contribuição para o aquecimento climático que é mais elevada do que aquela dos transportes.

Um outro ponto negativo desta produção é constituído pelo seu próprio consumo. Os pastos ocupam 30% das superfícies emersas, enquanto mais de 40% dos cereais que são colhidos servem para alimentar não diretamente os homens, e sim o gado. Uma vez que as áreas disponíveis são insuficientes para atender à demanda, a criação de gado pode provocar o desmatamento de florestas. Além disso, a pecuária é grande consumidora de matéria-prima e de água...

Resumindo, a produção animal vem sendo objeto de muitos questionamentos. Tanto mais que a Terra, daqui até 2050, terá 9 bilhões de bocas para alimentar.

Você quer MESMO fazer algo pela vida, pelo planeta, pelo meio-ambiente?... Neste próximo dia 22 vá de bike até o resturante vegetariano mais próximo.

FATOS

• No relatório Longa Sombra sobre a Pecuária a ONU conclui que a indústria da carne gera aproximadamente 40% mais gases de efeito estufa do que todos os carros, caminhões, veículos utilitários, navios e aviões combinados do mundo. O relatório afirma que a devastação causada pela indústria da carne é "um dos dois ou três mais significativos fatores que contribuem para os mais graves problemas ambientais, em qualquer escala do local ao global".

• Pesquisadores da Universidade de Chicago determinaram que mudar para uma dieta vegana (que não inclui carnes, nem ovos e nem laticínios) é cerca de 50% mais eficaz em contrapor mudanças climáticas do que trocar um Prius por um carro americano. E de acordo com o Live Earth Global Warming Survival Handbook, "não comer carne" é " a coisa mais simples e eficaz que se pode fazer para reduzir a pegada de carbono".

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

NEGÃO

Cães se conhecem uns aos outros e não sabem seus nomes. Acho bom mas, para contar essa outra estória, vamos dizer que ele se chamava Negão.

Quando eu tinha restrições de horários impostas pelo trabalho levava minhas cadelas para passear na praça próxima de casa à noite, após o expediente.

A primeira vez que vi Negão fiquei receoso: grande, magro, sentado num canto escuro da praça, meio descabelado e olhos amarelados, logo me fez lembrar aquelas cenas de filmes de terror em que os olhos de alguma fera brilham no escuro da noite.

Ele se aproximou hesitante, não veio diretamente a nós, circundando o que podia ser um invasor hostil. Fiquei preocupado, pois ele poderia realmente se sentir ameaçado (por uma ferocíssima ShihTzu de lacinhos rosa e uma Schnauzer com a personalidade do Garfield).

Estávamos estudando a situação, olhos fixos um no outro apesar de já ter lido que contato visual pode ser interpretado como agressão. Se é verdade, ele que ficasse com medo de mim.

Curiosas e solícitas demais, sem nenhuma noção de perigo, as duas correram para conhecê-lo. Percebi que ele ficou um tanto incomodado, como que com medo delas. Caminhou em minha direção, fiquei firme e, de repente, ele encostou a cabeça em minha perna (quase em minha cintura) pedindo um afago...

Ficamos amigos.

Continuei encontrando Negão por diversas vezes, inclusive depois que ele se associou a um morador de rua. Tomava conta dos apetrechos do homem enquanto ele ia comprar pinga e salame no bar da esquina.

Brincalhão, corria pela praça solto, livre, sem horários nem obrigações. Ambos dormiam no coreto, mas Negão tomava seu banho de sol diário deitado entre os canteiros floridos. Pena nunca ter me ocorrido bater uma foto com o celular. Acho que ainda não me acostumei a tirar fotos com o telefone.

Quando chegava na praça ele corria em nossa direção e sempre vinha me cumprimentar. Algumas vezes levei ração, mas ele ignorava. Estava mais acostumado a comida de verdade, restos que o sem-teto lhe dava.

Uma vez o vi sozinho, do outro lado da Avenida Matarazzo, muito movimentada. Ele parecia estar querendo atravessá-la, mas estava difícil. Estacionei o carro, fui resgatá-lo, acompanhando-o a pé na travessia da avenida e deixei-o na praça, fechando o portão.

Certo dia, novamente na tal praça para o passeio diário, porém agora sem limitações de horário, encontro o morador de rua arrastando um pesado cobertor. Era Negão ali, sem um pedaço de seu flanco direito, sem vida.

Deve ter sido atropelado, mas o tal senhor insistiu em dizer que foi maldade de alguém, que aquilo era coisa feita com facão, que já haviam dito que iam matá-lo pois ele havia encrespado com alguns cães maiores, com donos, que também freqüentam a praça.

Nunca saberemos.

Adeus, Negão.

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

A POLÍTICA DA BUNDA GRANDE

Tenho recebido seguidas vezes, enviado por diferentes pessoas, um e-mail com o título “Virada contra o PT”.

Em época de eleições é assim mesmo: alguém cria um texto com argumentos que misturam verdades, meias-verdades e mentiras, sacode bem para que incautos não percebam a molecagem e disparam por aí como que conclamando a todos salvarem a pátria idolatrada dos monstros que querem devorá-la.

Não bastasse isso, amontoam argumentos negativos e acusações contra um determinado político ou partido como se tais não pudessem ser feitas a praticamente todos os outros. Ora, se o atual chefe do executivo “...tem um belo salário como presidente”, qualquer um que ocupar tal cargo também terá. Não devemos colocar ninguém lá, então? E dizem que nosso atual presidente tem filhos estudando no exterior. Nenhum de nossos presidentes tinham? O futuro presidente não poderá ter?

O texto diz que o atual presidente desconhece os preços nos supermercado, padarias, açougues... Bem, acredito que NENHUM político saiba, menos aquele que decorou tudo na véspera de ser perguntado. Aqui em casa eu que faço as compras de supermercado TODA SEMANA e volta e meia passo na padaria, mas não me perguntem preço de coisa alguma, pois não sei mesmo. Pago a conta no caixa e ponto.

E, claro, entre as tantas acusações não poderia faltar o fato de nosso presidente não ter estudado, “...não poder nem ser gari” segundo o texto. Acredito que para ser um bom governante a pessoa deva ter, no mínimo, profundos conhecimentos de macro-economia, política e comércio internacional, administração, Sociologia, Inglês, Espanhol, Francês e Chinês, pois estes últimos caminham para ser a grande potência num futuro próximo e teremos de nos entender com eles. Antes de votar, veja se seu candidato tem esse mínimo de qualificação. Duvido.

Note bem: não estou aqui para defender partido ou político algum, mas sim desqualificar os argumentos que se utilizam na guerra eleitoral.

As pessoas cobram o tempo todo que os políticos em campanha mantenham o nível, evitem lavagem de roupa suja em público e foquem na apresentação de projetos para o país. Cobram, mas não fazem, pois teimam em repassar a torto e a direito um emaranhado de argumentos fajutos – fajutos nem tanto porque não cabem ao acusado, mas porque caberiam a qualquer um.

Não sou petista, muito menos lulista, abomino as tentativas de controle da mídia, censura e outros pecados de mentes pequenas que compõem o partido mas, na mesma linha de raciocínio do texto atribuído a Luís Fernando Veríssimo, “Nada como a Simplicidade”, já passei pela fase infantilóide de querer mudar o mundo, de querer que o país entrasse para o time do primeiro mundo, de ter medo do fim do mundo, de achar que um presidente culto nos levaria a um outro patamar, de achar que um presidente moderno e arrojado nos levaria a um outro patamar, de achar que um presidente vindo do povo...

Bem, hoje, depois de muito racionalizar, aprofundar o pensamento, meditar, adotei a sabedoria popular ou, em outras palavras, resolvi pensar como pobre: voto naquele que, em sua administração, fez algo me afetou positiva e diretamente.

Nada de elucubrações mais que metafóricas sobre assuntos macroeconômicos, macropolíticos, macroadministrativos que, no fim das contas, não me dizem respeito e nem entendo direito. Como o povo nos confins deste país imenso, que troca seu voto por um saco de feijão, talvez seja sensato eu votar no partido ou candidato que, apenas como exemplo, quase dobrou o salário dos servidores públicos federais.

Sabe como é, né... A gente tem de pensar “no leite das crianças”...

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

EU PREFIRO BICHO

No Estadão de ontem foi publicada uma matéria com o título "Meu bicho, minha vida" e, novamente para NÃO variar, o tom foi jocoso.

Os repórteres ou os editores teimam em buscar, para essas matérias, pessoas com um certo grau de excentricidade na relação com seus pets, a despeito da longíssima e talvez infindável discussão sobre o que é e o que não é ser "normal" seja em que tipo de relação for.

Jornais, revistas e a mídia eletrônica às vezes sutilmente, às vezes nem um pouco, forçam a barra ao apresentar o dono de algum animal de estimação como um tipo de maluco, desequilibrado ou alguém que sofre de profunda solidão.

Mas qual é o limite para uma pessoa ser "normal"? Qual é a régua que mede a normalidade?

Para não variar em nada mesmo, chamaram um indefectível psicólogo que, novidade, alertou para os perigos de se ultrapassarem limites nesse tipo de relação. Segundo o tal profissional das entranhas da mente humana "...o sinal vermelho aparece quando o bicho substitui o desejo, a vontade e a necessidade da pessoa se relacionar com humanos".

Mais: ele observa que o animal não é como uma pessoa (nooossaaa, é mesmo?...) que discorda, discute, tem opiniões diferentes e que isso seria importante ao nosso desenvolvimento "enquanto gente" (esse final é meu).

Gostaria de perguntar a ele se isso é ruim apenas quando a pessoa não se dá conta desse mergulho no mundo animal ou se é ruim também (pior talvez) se a pessoa decide conscientemente, pensadamente que é melhor mesmo se relacionar com animais JUSTAMENTE pelos motivos que ele citou, porém menos brandamente: pessoas nos entendem mal, xingam, magoam, traem.

Isso nos molda? Isso nos faz evoluir? Concordo, se você ainda não tem pelos no corpo.

Depois de certa idade, uma companhia amorosa, carinhosa, sempre de bom humor, que jamais vai interpertá-lo mal ou pensar mal de você e que nunca o magoará ou o abandonará é tudo que alguém pode querer.

Humanos?! Bah, humanos...

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

HÁBITOS, TRADIÇÕES E COSTUMES

E então Sakineh Mohammadi Ashtiani será mesmo apedrejada, por decisão da Corte Suprema do Irã.

Note que não foi um júri popular que decidiu isso, não foi um bando de ignorantes ensandecidos em praça pública movidos pela emoção do momento. Foi uma decisão fria e racional tomada por homens cultos.

A despeito da cortina de fumaça lançada, acusando-a agora também de assassinato para desviar a atenção e minimizar as críticas internacionais, o fato é que uma mulher será morta de maneira grotesca não por acidente nem por descontrole emocional num momento de loucura, mas por argumentos baseados na tradição, hábitos e costumes de um grupo de pessoas, de um país.

Talvez até pior que a morte é o praticado no leste africano, como a excisão e a infibulação, que nem vou descrever aqui, motivadas e justificadas por crenças e hábitos de fé.

Vou levar a discussão para esse ponto: até que onde o argumento da tradição e costumes pode justificar algo?

Essa é uma seara difícil, eticamente complicada por questões culturais, sociais, temporais e diversas outras que nem sei.

Mas é o mesmíssimo argumento utilizado por aqueles que, ainda, utilizam animais para se divertir ou se fartar à mesa.

Vejamos:

- apesar de minguando, as touradas ainda existem na Espanha apenas porque um grupo a defende com argumentos de tradição e cultura;

- idiotas gaúchos (e de outros Estados também) usam o mesmo argumento para defender a Farra do Boi, ainda presente apesar de estar na mira da Justiça;

- a caça esportiva, ou a morte desnecessária de um animal para distrair babacas entediados com suas vidas medíocres e necessitando de auto-afirmação, ainda é praticada em diversos países;

- muita gente ainda diz que come carne porque é hábito...

Não adianta tentar fugir ou jogar também uma cortina de fumaça argumentando que estou misturando humanos e animais. Não subestime a SUA própria inteligência dessa maneira...

Animais, assim como nós, sentem dor, sofrem, sangram. Todos sabem disso, mas usam o “por que é hábito” para se justificar num churrasco. Não existe argumento mais frouxo.

Um ditado Zen Budista diz que “antes de tentar mudar o mundo, dê três voltas ao redor de sua casa”.

Do mesmo modo, antes de criticar o apedrejamento da iraniana, olhe para o seu prato.

terça-feira, 3 de agosto de 2010

VOYERISMO

Usando meu tempo da forma mais medíocre possível na internet, acabei por ler uma crítica ao programa Busão da Band comparando-o, como um “primo pobre” e malfeito , com o BBB da Globo.

O texto centrava farpas no que parecia ser o mote do programa: a nudez de seus participantes.

Mas péralá: quem assiste ao BBB está à procura de quê? Ensinamentos para a vida pessoal ou profissional? Arroubos filosóficos? Profundas reflexões existenciais?

Deixemos de ser hipócritas. Quem assiste ao BBB está pura e simplesmente dando vazão ao seu voyerismo, também está em busca de nudez e torcendo para que o lençol escape e deixe ver algo que o casal esta fazendo, a despeito dos argumentos racionais contrários que utilize para negar isso inclusive a si mesmo.

O que a Band fez foi economizar no verniz, ou melhor, em produção (e disfarces) e ir direto aos “finalmentes”, algo que talvez a Globo tenha receio de fazer para não receber as mesmas críticas e então fica enfeitando o pavão, dourando a pílula mas, no fundo, gostaria de fazer a mesma coisa.

Afinal, o que esperar dos participantes? Pelo pouco que vi em chamadas eles não me parecem ser escolhidos por sua profundidade cultural nem intelectual.

O que o pessoal quer é bunda mesmo, mas tem receio de admitir.


quarta-feira, 21 de julho de 2010

A INTELIGÊNCIA DOS CÃES. SÓ A DELES...


É risível, é cômico e chego a achar ridículas as tentativas de se estabelecer o quanto um animal é ou não inteligente.

Os esforços são enormes, os estudos são detalhados, cientistas e profissionais diversos investem dezenas, centenas, milhares de horas nessas questões (será que não o fazem apenas pelo orçamento $$$ obtido para pesquisa? Hmmmm...) e as divulgam como achados científicos.

O problema de se estabelecer a inteligência de um cão, por exemplo, como no artigo “Quantas Palavras os Cães Entendem” (http://casa.hsw.uol.com.br/caes-e-palavras.htm) é o viés antropocêntrico, ou seja, a “régua” que mede tal inteligência é baseada no ser humano.

Usam-se padrões humanos para medir inteligência de cães, golfinhos, macacos. Ora, eu digo que isso é “somar maçã com banana”, como se dizia antigamente.

Porque não usar parâmetros caninos para medir a inteligência de seres humanos? Parâmetros como olfato, visão, audição, instinto de sobrevivência, lealdade, amizade, amor incondicional, geolocalização (sem usar GPS), honestidade, pureza, humor...

Sob padrões caninos possivelmente seríamos os seres mais estúpidos do planeta. A pergunta que deveria ser feita não é quantas palavras os cães entendem, mas sim quantos LATIDOS nós entendemos. Ora, não somos nós tão inteligentes?

Cães se comunicam com outros cães, gatos se comunicam com outros gatos e todos os animais se comunicam entre si com uma variedade enorme de sons E NÓS NÃO ENTENDEMOS PRATICAMENTE NENHUM DELES!

Golfinhos até tentam se comunicar conosco, mas nós achamos que eles estão apenas sendo engraçadinhos...

E não apenas com sons os animais se expressam. Um posicionamento de orelhas, um arquear do corpo, um esticar de pescoço dizem de forma absolutamente efetiva e sem engano o que querem, o que pretendem, ao contrário das palavras que muitas vezes nos enganam, nos confundem, nos levam ao erro.

Um detalhe: irracionais como são chamados, os animais são perfeitamente adaptados a viver no planeta sem destruí-lo, sem deformá-lo, sem poluí-lo, coisas que nós humanos, inteligentíssimos, não conseguimos ainda, mesmo depois de tanta evolução.

Mas a empáfia antropocêntrica e imensa ignorância humana nos impede de ver isso.

quarta-feira, 14 de julho de 2010

MAIS POR MAIS

No mundo dos negócios, nos livros de administração e marketing, nos diversos cursos de especialização a gente aprende um pouco de estratégia de negócios e em nosso dia-a-dia podemos perceber, se conhecermos um pouco do assunto, as estratégias adotadas por uma empresa para sua linha de produtos ou serviços.

Se você conversar por aí, perguntar a opinião das pessoas em geral, certamente irá chegar à conclusão de que o que importa mesmo é o preço, que é ele que determina, na enorme maioria das vezes, o sucesso ou fracasso de uma empreitada comercial.

Em se tratando de estratégia, então adotaria o “mais por menos”, ou seja, entregar a melhor qualidade/quantidade pelo menor preço possível.

Parece lógico, mas não é, pois é isso que a maioria faz e se destacar quando se está no mesmo saco de gatos que é a maioria é muito mais difícil. E, infelizmente nesse caso, milagre não existe. Para cada patamar de qualidade há um custo. Optando por guerrear na zona do menor preço, a realidade nos mostra que nem com mágica conseguirá oferecer alta qualidade.

Não é o que faz, aparentemente, os laboratórios Fleury.

Conto o motivo dessa minha opinião: recentemente tive de fazer uma ressonância de coluna lombar. Fui muito bem atendido na unidade em que estive e como era cedo, quase madrugada ainda, tomei um lanchinho “de grátis” em sua lanchonete. Tudo transcorreu normalmente e minha primeira surpresa aconteceu na saída. A pessoa que me orientava disse que assim que estivesse pronto o resultado do exame seria disponibilizado na internet, mas como havia imagens, um portador iria entregá-lo em minha residência.

Havia achado isso o máximo, até que o resultado chegou em casa. Aí fiquei mais impressionado ainda.

As “chapas” da ressonância chegaram num envelope de papel pardo aparentemente reciclado, que estava dentro de uma sacola também de papel reciclado (sugerida pela frase impressa “O Fleury se preocupa com a saúde do planeta”), embalada cuidadosamente num plástico para que não sofresse danos. Ao abrir tudo isso, mais uma surpresa: um CD com meu nome gravado. Corri colocar no computador, pois acreditava que eram as imagens de minha ressonância. Era mais que isso: um software da GE mostrava o exame como se fosse em tempo real, uma animação, um “filme” com movimento, muito possivelmente, imagino eu, as mesmas imagens em movimento que o médico vê quando realiza o exame, com opção de pausar, adiantar, voltar.

O Fleury cobra mais caro que os outros laboratórios? Sim, cobra. Se for pagar de seu próprio bolso notará a diferença imediatamente. Se for através de plano de saúde, terá de pagar mensalidade de planos “top”, de custo elevado, pois só esses oferecem serviços no Fleury.

Como este laboratório consegue cobrar mais em meio a tanta concorrência e ainda assim estar sempre lotado?

Excelência nos serviços prestados, excelência no “pós-venda”. Mas essa excelência tem de ser notada, sentida pelo cliente e não apenas propalada em textos, cartazes e anúncios.

No Fleury, ao menos nessa experiência que tive, “superar as expectativas do cliente” não é apenas uma frase numa apresentação de Powerpoint nem numa placa no hall de entrada. É realidade visível, palpável, concreta como o CD em minha escrivaninha.

sábado, 10 de julho de 2010

A LOGOMARCA DA COPA 2014


Em uma palavra: lamentável.



Os senhores que aprovaram essa aberração devem estar caducos. E pagaram uma grana preta ao estúdio francês Richard A. Buchel.


Essa logo já foi comparada a Chico Xavier psicografando uma carta (eu não havia pensado nisso), mas eu vejo alguns outros senões.


Se a idéia foi mostrar três mãos segurando uma taça, gostaria de saber qual o motivo disso. A taça a gente segura mesmo com as mãos, mas porque enfatizar mãos num esporte jogado com os pés?


Essa logomarca é mais adequada a um campeonato de vôlei.


O verde o amarelo eu entendi, mas a data, colocada em vermelho (porque vermelho?...) e escrita em tipologia alienígena, toda torta para se encaixar no vão entre mãos me lembrou os desenhos mais toscos que eu fazia quando era garoto.


Nem que voltasse no tempo e esquecesse tudo o que vi e o pouco que aprendi em termos de design – equilíbrio de formas, de cores, significados, subjetividade, funcionalidade, estilo, formas e mensagens – faria algo tão... Tão... Tão pobre.