sexta-feira, 27 de agosto de 2010

A POLÍTICA DA BUNDA GRANDE

Tenho recebido seguidas vezes, enviado por diferentes pessoas, um e-mail com o título “Virada contra o PT”.

Em época de eleições é assim mesmo: alguém cria um texto com argumentos que misturam verdades, meias-verdades e mentiras, sacode bem para que incautos não percebam a molecagem e disparam por aí como que conclamando a todos salvarem a pátria idolatrada dos monstros que querem devorá-la.

Não bastasse isso, amontoam argumentos negativos e acusações contra um determinado político ou partido como se tais não pudessem ser feitas a praticamente todos os outros. Ora, se o atual chefe do executivo “...tem um belo salário como presidente”, qualquer um que ocupar tal cargo também terá. Não devemos colocar ninguém lá, então? E dizem que nosso atual presidente tem filhos estudando no exterior. Nenhum de nossos presidentes tinham? O futuro presidente não poderá ter?

O texto diz que o atual presidente desconhece os preços nos supermercado, padarias, açougues... Bem, acredito que NENHUM político saiba, menos aquele que decorou tudo na véspera de ser perguntado. Aqui em casa eu que faço as compras de supermercado TODA SEMANA e volta e meia passo na padaria, mas não me perguntem preço de coisa alguma, pois não sei mesmo. Pago a conta no caixa e ponto.

E, claro, entre as tantas acusações não poderia faltar o fato de nosso presidente não ter estudado, “...não poder nem ser gari” segundo o texto. Acredito que para ser um bom governante a pessoa deva ter, no mínimo, profundos conhecimentos de macro-economia, política e comércio internacional, administração, Sociologia, Inglês, Espanhol, Francês e Chinês, pois estes últimos caminham para ser a grande potência num futuro próximo e teremos de nos entender com eles. Antes de votar, veja se seu candidato tem esse mínimo de qualificação. Duvido.

Note bem: não estou aqui para defender partido ou político algum, mas sim desqualificar os argumentos que se utilizam na guerra eleitoral.

As pessoas cobram o tempo todo que os políticos em campanha mantenham o nível, evitem lavagem de roupa suja em público e foquem na apresentação de projetos para o país. Cobram, mas não fazem, pois teimam em repassar a torto e a direito um emaranhado de argumentos fajutos – fajutos nem tanto porque não cabem ao acusado, mas porque caberiam a qualquer um.

Não sou petista, muito menos lulista, abomino as tentativas de controle da mídia, censura e outros pecados de mentes pequenas que compõem o partido mas, na mesma linha de raciocínio do texto atribuído a Luís Fernando Veríssimo, “Nada como a Simplicidade”, já passei pela fase infantilóide de querer mudar o mundo, de querer que o país entrasse para o time do primeiro mundo, de ter medo do fim do mundo, de achar que um presidente culto nos levaria a um outro patamar, de achar que um presidente moderno e arrojado nos levaria a um outro patamar, de achar que um presidente vindo do povo...

Bem, hoje, depois de muito racionalizar, aprofundar o pensamento, meditar, adotei a sabedoria popular ou, em outras palavras, resolvi pensar como pobre: voto naquele que, em sua administração, fez algo me afetou positiva e diretamente.

Nada de elucubrações mais que metafóricas sobre assuntos macroeconômicos, macropolíticos, macroadministrativos que, no fim das contas, não me dizem respeito e nem entendo direito. Como o povo nos confins deste país imenso, que troca seu voto por um saco de feijão, talvez seja sensato eu votar no partido ou candidato que, apenas como exemplo, quase dobrou o salário dos servidores públicos federais.

Sabe como é, né... A gente tem de pensar “no leite das crianças”...

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

EU PREFIRO BICHO

No Estadão de ontem foi publicada uma matéria com o título "Meu bicho, minha vida" e, novamente para NÃO variar, o tom foi jocoso.

Os repórteres ou os editores teimam em buscar, para essas matérias, pessoas com um certo grau de excentricidade na relação com seus pets, a despeito da longíssima e talvez infindável discussão sobre o que é e o que não é ser "normal" seja em que tipo de relação for.

Jornais, revistas e a mídia eletrônica às vezes sutilmente, às vezes nem um pouco, forçam a barra ao apresentar o dono de algum animal de estimação como um tipo de maluco, desequilibrado ou alguém que sofre de profunda solidão.

Mas qual é o limite para uma pessoa ser "normal"? Qual é a régua que mede a normalidade?

Para não variar em nada mesmo, chamaram um indefectível psicólogo que, novidade, alertou para os perigos de se ultrapassarem limites nesse tipo de relação. Segundo o tal profissional das entranhas da mente humana "...o sinal vermelho aparece quando o bicho substitui o desejo, a vontade e a necessidade da pessoa se relacionar com humanos".

Mais: ele observa que o animal não é como uma pessoa (nooossaaa, é mesmo?...) que discorda, discute, tem opiniões diferentes e que isso seria importante ao nosso desenvolvimento "enquanto gente" (esse final é meu).

Gostaria de perguntar a ele se isso é ruim apenas quando a pessoa não se dá conta desse mergulho no mundo animal ou se é ruim também (pior talvez) se a pessoa decide conscientemente, pensadamente que é melhor mesmo se relacionar com animais JUSTAMENTE pelos motivos que ele citou, porém menos brandamente: pessoas nos entendem mal, xingam, magoam, traem.

Isso nos molda? Isso nos faz evoluir? Concordo, se você ainda não tem pelos no corpo.

Depois de certa idade, uma companhia amorosa, carinhosa, sempre de bom humor, que jamais vai interpertá-lo mal ou pensar mal de você e que nunca o magoará ou o abandonará é tudo que alguém pode querer.

Humanos?! Bah, humanos...

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

HÁBITOS, TRADIÇÕES E COSTUMES

E então Sakineh Mohammadi Ashtiani será mesmo apedrejada, por decisão da Corte Suprema do Irã.

Note que não foi um júri popular que decidiu isso, não foi um bando de ignorantes ensandecidos em praça pública movidos pela emoção do momento. Foi uma decisão fria e racional tomada por homens cultos.

A despeito da cortina de fumaça lançada, acusando-a agora também de assassinato para desviar a atenção e minimizar as críticas internacionais, o fato é que uma mulher será morta de maneira grotesca não por acidente nem por descontrole emocional num momento de loucura, mas por argumentos baseados na tradição, hábitos e costumes de um grupo de pessoas, de um país.

Talvez até pior que a morte é o praticado no leste africano, como a excisão e a infibulação, que nem vou descrever aqui, motivadas e justificadas por crenças e hábitos de fé.

Vou levar a discussão para esse ponto: até que onde o argumento da tradição e costumes pode justificar algo?

Essa é uma seara difícil, eticamente complicada por questões culturais, sociais, temporais e diversas outras que nem sei.

Mas é o mesmíssimo argumento utilizado por aqueles que, ainda, utilizam animais para se divertir ou se fartar à mesa.

Vejamos:

- apesar de minguando, as touradas ainda existem na Espanha apenas porque um grupo a defende com argumentos de tradição e cultura;

- idiotas gaúchos (e de outros Estados também) usam o mesmo argumento para defender a Farra do Boi, ainda presente apesar de estar na mira da Justiça;

- a caça esportiva, ou a morte desnecessária de um animal para distrair babacas entediados com suas vidas medíocres e necessitando de auto-afirmação, ainda é praticada em diversos países;

- muita gente ainda diz que come carne porque é hábito...

Não adianta tentar fugir ou jogar também uma cortina de fumaça argumentando que estou misturando humanos e animais. Não subestime a SUA própria inteligência dessa maneira...

Animais, assim como nós, sentem dor, sofrem, sangram. Todos sabem disso, mas usam o “por que é hábito” para se justificar num churrasco. Não existe argumento mais frouxo.

Um ditado Zen Budista diz que “antes de tentar mudar o mundo, dê três voltas ao redor de sua casa”.

Do mesmo modo, antes de criticar o apedrejamento da iraniana, olhe para o seu prato.

terça-feira, 3 de agosto de 2010

VOYERISMO

Usando meu tempo da forma mais medíocre possível na internet, acabei por ler uma crítica ao programa Busão da Band comparando-o, como um “primo pobre” e malfeito , com o BBB da Globo.

O texto centrava farpas no que parecia ser o mote do programa: a nudez de seus participantes.

Mas péralá: quem assiste ao BBB está à procura de quê? Ensinamentos para a vida pessoal ou profissional? Arroubos filosóficos? Profundas reflexões existenciais?

Deixemos de ser hipócritas. Quem assiste ao BBB está pura e simplesmente dando vazão ao seu voyerismo, também está em busca de nudez e torcendo para que o lençol escape e deixe ver algo que o casal esta fazendo, a despeito dos argumentos racionais contrários que utilize para negar isso inclusive a si mesmo.

O que a Band fez foi economizar no verniz, ou melhor, em produção (e disfarces) e ir direto aos “finalmentes”, algo que talvez a Globo tenha receio de fazer para não receber as mesmas críticas e então fica enfeitando o pavão, dourando a pílula mas, no fundo, gostaria de fazer a mesma coisa.

Afinal, o que esperar dos participantes? Pelo pouco que vi em chamadas eles não me parecem ser escolhidos por sua profundidade cultural nem intelectual.

O que o pessoal quer é bunda mesmo, mas tem receio de admitir.