sábado, 13 de dezembro de 2008

SHORT CUT - 3


- Você acredita em Deus?


- O que é Deus?


- Como assim o que é Deus? Deus é Deus, ué! É o criador de tudo...


- Você precisa ser mais específico. Não entendi.


- Oras, Deus não se explica, você acredita ou não.


- Hmmm... Você acredita em Xbleshcorfindvunbak?


- Em quê?!?!?


- Em Xbleshcorfindvunbak.


- O que é isso?


- Ahhh... Xbleshcorfindvunbak não se explica, você acredita ou não.


- Mas eu não sei o que é isso!


- Pois é...

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

“BEM-AVENTURADOS OS MANSOS, PORQUE HERDARÃO A TERRA.”

(Mat.5:5)


Mas o que é ser manso? Não, não é gozação com o homem supostamente traído pela mulher...

Essa discussão pode ser muito longa, dependendo de seu credo. Como eu não tenho nenhum, acredito poder generalizar que “manso” NÃO É aquele que confina, escraviza, esfola, mata e come seres que sentem dor, medo, fome, frio e, quem sabe um dia possamos provar, amor pelos seus, inclusive de outras espécies. Então, os herdeiros da Terra serão os animais e não humanos.

Não se engane: se você "apenas" come, você financia essa barbárie comprando a sangrenta carne de seres inocentes. Literalmente. Como o mandante de um crime, você paga para que alguém mate e lhe entregue a presa.
Pensando nisso e navegando pelo oceano sem fim da internet deparei-me com um texto bem interessante que fala diretamente àqueles que, supostamente, seguem a “palavra do Senhor”. Veja:
É desairoso para vós que criaturas atéias e agnósticas, mas dotadas de nobres sentimentos (aliás, os únicos que significam passaportes válidos para a espiritualidade superior), demonstrem maior compaixão e sensibilidade para com as espécies animais do planeta, enquanto os cultores da Lei da Evolução sentam à mesa para se banquetear com os cadáveres sofridos daqueles que sabem constituírem os seus irmãos menores na escala evolutiva.

Que sentido têm os vossos apelos à misericórdia dos seres superiores, se os apelos silenciosos daqueles que rotulais “inferiores” não encontram guarida em vossos corações, cerrados à compaixão e ao respeito? Acaso tendes a ingenuidade de supor que a Divindade Suprema descuida de gerir o mundo que criou, e que os gemidos de dor de seus filhos mais indefesos não comparecem ao tribunal da vida planetária, testemunhando contra a espécie humana e sua crueldade?
E vós, meus irmãos? Que fazeis, sentados à mesa diante dos despojos sangrentos de vossos companheiros planetários, mortos cruelmente para obedecer a hábitos ancestrais repetidos sem avaliação? A quem pensais enganar nessa contemporização com um código ultrapassado de viver? À vossa consciência adormecida, aos espíritos dirigentes do planeta, ao Mestre a quem dizeis seguir, à Divindade que nos criou a todos iguais para a fraternidade, não para o exercício da lei da selva?

.”


A ninguém mais deveis satisfação que à vossa consciência, em tudo que fizerdes; mas temei-a quando vos cobrar, sem apelação, a coerência que vos falta, entre os postulados de compaixão, renúncia e solidariedade de vossa doutrina, e o prazer mórbido que vos acorrenta a devorar vossos irmãos da escola terrestre

Para ler na íntegra: http://www.edconhecimento.com.br/htdocs/pdf/era_uma_vez_um_espirita.pdf







sexta-feira, 28 de novembro de 2008

SHORT CUTS II

Almoço com parentes:


- Então você não come carne...
- Não – respondo.
- Bah!... Quem come capim é o boi!
- Quem come cadáveres é o urubu... E a hiena.
- ...?!...?!...



Almoço com parentes II:


- Mas, na Natureza, os leões comem carne, os tigres comem carne...
- OK, então faça como eles: saia por aí caçando sua presa à unha.
- Ah, mas nós não precisamos mais disso, nós evoluímos, temos supermercado, açougue...
- Então comparar-se à Natureza não tem sentido, certo?
- Hmmm...



Almoço com tias:


- Sendo vegetariano você “não pode” comer carne?
- Posso.
- Mas vegetarianos comem carne?
- Não.
- Mas...
- Eu “posso”, mas não como.




Jantar com turma:



- Mas você não sente vontade de uma picanhazinha na brasa, um torresminho?...
- Eu às vezes sinto vontade de jogar meu carro pra cima de um imbecil e tocá-lo pra fora da estrada, mas não jogo...




Almoço com família:


- Mas Deus nos fez assim, onívoros, capazes de comer qualquer tipo de alimento, inclusive a carne.
- Se você acredita em Deus, deve também acreditar no livre-arbítrio, coisa que Ele inventou e nos deu. Assim, sendo onívoro, Deus lhe propõe uma escolha moral. Livre-arbítrio é isso, uma escolha e, para ser uma escolha “de fato”, não pode ser muito fácil pois senão não é uma escolha, é uma barbada.
- Mas os animais carnívoros comem carne...
- Pois é, eles são “carnívoros” como você mesmo disse. Não têm escolha. Nós temos.

sábado, 22 de novembro de 2008

TECNOLOGIA DE PONTA E A FLANELINHA

Hoje em dia você pode dizer que é gay que ninguém mais liga. Pode dizer que é ateu e boa parte do povo ainda te aceita. Pode dizer que é Palmeirense em meio à torcida do Corínthians - ou vice-versa - e talvez sobreviva.

Mas vá dizer que não gostou do iPhone...
Será crucificado em praça pública, esquartejado e queimado na fogueira.
Com o lançamento do iPhone, Steve Jobs lançou a febre mundial do touchscreen. Essa mania começou com os celulares e agora vai chegando nos computadores e aparelhos de TV.
Todo mundo quer manusear seus aparelhos eletrônicos com as pontas dos dedos. Além de ser mais moderno, mais "bacana", parece ser mais fácil que usar botões. Inclusive li um artigo comparativo de celulares em que o autor critica aparelhos que ainda usam teclas reais, "...que são complicadas de usar". Como se todo mundo, de repente, tivesse ficado retardado.
Mas essa tecnologia de ponta dos dedos (desculpem, não aguentei e tive de fazer esse trocadilho infame) não conseguiu ainda, ao menos que eu saiba, resolver um detalhe importante: as manchas de dedos.

Gordurosas, suadas, meladas, escorregadias...

Até "ontem" ninguém gostava que colocássem dedos nos monitores. Eu, pelo menos, odeio aquelas manchas. De repente, ninguém mais liga pras manchas porque "é legal"... E viva a lambança!



Se não criarem algum tipo de tela imune às manchas, as empresas de tecnologia terão de dar uma de Organizações Tabajara e começar a vender junto de seus aparelhos touchscreen um Kit-Limpeitor, contendo uma flanelinha e um mini-frasco de Vidrex.

Bom, já deve ter dado pra perceber que sou fã dos Blackberries e Palms Treo.

Não que celulares bacaninhas, cheios de malabarismos visuais, não sejam bons mas, como no
cinema, prefiro um filme que se apóie mais em conteúdo que em efeitos especiais.

Celulares atualmente são vendidos como brinquedos, só que pra gente grande. E toda a gente grande parece procurar por brinquedos. Seria esse um sintoma da infantilização dos adultos, algo como "adultecentes" de 30 a 45 anos que não aceitam o fato de já terem deixado de serem jovens?

Ou será o stress generalizado nas cidades grandes que faz com que todos procurem um tipo de escapismo, algo que os tire a todo momento da dura realidade?

Ah, só pra constar: não sou gay.

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

FESTA A FANTASIA

Acredito que a maior parte das pessoas já foi a uma festa a fantasia. É divertido e, talvez, algum psicólogo consiga traçar perfis de acordo com a escolha da fantasia.

Tem sempre piratas, mosqueteiros, cowboys, batmans, mulheres-maravilha, homens-aranha, vampiros, gladiadores e gladiadoras, anakins, faraós e outras mais atualizadas que desconheço pois estou desatualizado em termos de festa a fantasia.

Mas a festa acaba e, a não ser que você tenha menos de 6 anos de idade ou seja alguém contratado para divulgar alguma coisa, você não sai por aí fantasiado. A gente admite crianças no shopping vestidas com a roupa de seu super-herói favorito, mas um marmanjo assim precisaria de cuidados psiquiátricos.

Por analogia, acredito que esteja ocorrendo uma festa a fantasia entre os automóveis atualmente em circulação.

Foram os Crossfoxes, acredito, os primeiros a chegar. Então foram aparecendo os Palio Adventures, Fiesta Trails, Ideas Adventures e tantos outros.

Esses automóveis foram originalmente projetados para serem “street”, andarem na cidade, no asfalto da estrada. Mas, de repente, alguns deles começaram a se fantasiar.

Uns retoques aqui, uns apliques de plástico ali, uma maquiagenzinha pra completar e... SHAZAM! O carro virou um fora-de-estrada.

Não adianta protestar; as situações são parecidas. Carros travestidos de off road são a mesma coisa que pessoas travestidas numa festa a fantasia.

Mas se você não vai ao shopping vestido de Homem-Aranha ou Mulher-Maravilha, porque comprou um destes pseudo-lameiros?

E, ainda por cima, tem coragem de sair por aí?...

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

MENSAGEM DE NATAL

Eu tirei esse texto de uma página do Sentiens (ou foi do GAE ?...) mas acredito que não vão achar ruim eu ter copiado:



A maior e mais contraditória festa da cristandade se aproxima.

Este momento tão especial para os cristãos, com o tempo, se transformou na festa do consumo, os presentes se colocando praticamente no lugar da reflexão.

Esta mensagem quer sugerir um Natal mais próximo do seu sentido original. Na manjedoura onde Maria e José encontraram abrigo para o nascimento do filho de Deus, estavam vários animais que acolheram a família humana.

Como é possível que, na comemoração desse dia tão especial, os cristãos pratiquem o sofrimento de tantos animais, sendo os perus, vacas, bois e bezerros as principais vítimas?

Se o Natal - e toda data religiosa - marca um momento de reflexão, desejamos, como defensores dos animais, que a data possa ser um marco na virada da relação homem animal.

Assista:
http://www.gaepoa.org/site/index.php?m=Video&id=49


Uma frase de (atribuída a?) Churchill: "De vez em quando o homem tropeça na verdade, mas a maior parte das vezes se levanta e segue em frente."


P.S.: àqueles que acharem estranho um post cristão aqui no Café, lembro que alguém já cantou que "...todo artista tem de ir onde o povo está...".

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

MATAR POR DIVERSÃO


A pedido do STF, o IBAMA colocou no ar uma enquete perguntando sobre a aprovação ou não da caça amadora.


PUTZGRILA! E eu que achava que isso era coisa do passado...


Reproduzindo aqui a alegação dos favoráveis à prática, "...os defensores da caça amadorista alegam que as áreas utilizadas para a atividade são uma alternativa de uso sustentado à expansão agrícola e que o dinheiro arrecadado pelas associações são utilizados, também, como apoio na proteção a áreas de planos de manejo e de unidades de conservação".


Somos seres inteligentes (alguns nem tanto...) e com grande poder imaginativo. Sendo assim, é fácil criar argumentos para justificar qualquer coisa. Mas APESAR dos argumentos, há que se admitir que matar por diversão não é algo lá muito ético, certo?


Mas, se você está convencido - como os 35% dos votantes - de que caçar por diversão tem seu lado importante, então aí vão algumas sugestões:


- quer se sentir macho? Vá caçar no mano-a-mano, ou pata-a-pata, que seja, sem armas;

- coloque seus FILHOS para serem caçados. Ora, aqueles pirralhos só choram mesmo, atrapalham sua vida amorosa com a patroa e vão dar despesa a vida inteira. Aproveite e livre-se deles;


- coloque sua MÃE para ser caçada. Aquela velha decrépita só serve para ser visitada e nem bolinhos de chuva faz mais - e você se livra de ter de pagar-lhe o plano de saúde... Não será alvo tão rápido e desafiante como seus filhos, mas servirá bem aos caçadores iniciantes ou ruins de mira;


- vá VOCÊ servir de caça! Quer mais emoção e adrenalina que ter de fugir pra preservar a própria vida? ;


Observação: sogras e cunhados não valem, pois aí voltaria a ser só diversão mesmo, invalidando meu ponto de vista...


Quem dera eu pudesse enviar esses 35% a favor da caça lá para o Planeta dos Macacos.


Será que eles, com seus inteligentes argumentos, continuariam a favor?


Ué... Porque não?!...



segunda-feira, 13 de outubro de 2008

NINGUÉM É INSUBSTITUÍVEL?... BEM, A MAIORIA NÃO.

Auto-ajuda pode encher a alma de esperança, trazer algum sentimento positivo qualquer, tornar o mundo um pouco menos cinzento e coisas do tipo, mas não é algo que se deva levar muito a sério.

Os gurus da auto-ajuda podem espernear o quanto quiserem, criar argumentos (falaciosos), mas é isso aí. Ganham muita grana enganando desavisados que em verdade são loucos para serem enganados.


Anda rolando pela net um texto sob título “NINGUÉM É INSUBSTITUÍVEL?”, no qual a autora acusa executivos de não desenvolverem os grandes talentos escondidos debaixo de seus narizes.

Epa, epa, epa... Calma lá!


Se eu tenho algum talento é um outro que deve desenvolvê-lo? Por que não eu mesmo? Ah, sim, claro, porque é mais fácil jogar a culpa no outro, certo?!


A autora também cita Ayrton Senna, Einstein, Gandhi, Sinatra, Gisele Bundchen e vários outros, dizendo que eles também tinham defeitos humanos, mas eram gênios ou tinham dons insubstituíveis.

Sim, concordo. Mas péra aí: NEM TODOS SOMOS Gandhi, Sinatra, Gisele, Einstein!

Se todos fôssemos Gisele as clínicas de estética e cirurgia plástica não estariam faturando zilhões como atualmente, nem existiriam tantos programas como “Extreme Make Over”.


Se todos fôssemos Sinatra a Máfia iria à falência com nossa folha de pagamento e todos viveríamos só de cantar. Ninguém mais pegaria no batente nas fábricas, nas construções, nos escritórios.


Se todos fôssemos Einstein não haveria mais matadouros pois ele – com sua mente genial – era vegetariano.
Sim, somos todos únicos mas, e daí?...

Infelizmente, business is business e a imensa maioria de nós, humanos normais, medianos, manés, somos mera engrenagem na máquina.


Estraga-prazer? Hmmm...
É um hobby que ando cultivando.


THE HEADSHAKER.

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

PELADOS

Dia desses, zapeando para espantar o tédio, vi Dani Suzuki, em seu programa TRIBOS do Canal Multishow, visitar a Praia do Pinho, em Santa Catarina e Abricó, no Rio de Janeiro, redutos de naturistas.

Mais interessante que as imagens – a maioria formada por gente bem fora de forma – são as elucubrações e ginásticas intelectuais dos pelados em justificar sua prática.

Segundo eles, procuram “...uma maneira de viver em perfeita harmonia com a natureza, abdicando dos valores materiais e exercendo o respeito de uns pelos outros”.

Mas isso só nos finais de semana, né?!...

Porquê naturistas, ao serem perguntados sobre seus motivos, não respondem simplesmente “porque sim” ou “porque eu quero, ué”?

Indígenas em vários países, aqui inclusive, andam nus há milênios e não precisam justificar coisa alguma.

Andar nu e em comunhão com a Natureza é “normal”, é óbvio, é comum, é... NATURAL.

sábado, 6 de setembro de 2008

SHORT CUTS


Almoço entre colegas de trabalho.

- Mas você não come carne?
- Não – respondo.
- Por quê?
- Ele tem dó das vaquinhas... – alguém responde por mim.
- Ah, você é daqueles naturebas que militam pelos direitos animais?...
- Ah, e você é daqueles que não usam o cérebro para pensar que está mastigando um animal morto, sangue, vísceras, tendões, nervos, artérias? – respondo.

Entreolham-se e mudam de assunto.

---x---x---

Almoço com colegas de trabalho II.

- Então você não come nenhum tipo de carne?
- Só se for humana – respondo.
- Credo, carne humana? Tá louco...
- Qual a diferença? – pergunto.
- ... ...

---x---x---

Almoço com colegas de trabalho III.

- Você não come nem frango?
- Nada que tenha pai e mãe... respondo.
- Nem peixe – outro pergunta, mesmo depois de ouvir a resposta anterior.
- Você já ouviu falar nos três “grandes reinos”: animal, mineral e vegetal? Você planta peixe? Já viu um “pé de peixe” numa horta?

---x---x---

Almoço com a família.

- Mas agora que você não come carne, come o quê então?
- TUDO, menos carne – respondo.
- Como assim tudo?...

A ignorância é uma bênção... Só para o ignorante.

---x---x---

Almoço com a família II.

- Olha, fiz esses bolinhos pra você.
- O que tem no recheio? – pergunto.
- É carne, mas não é “carne, carne”... É carne de pastel!

...What a hell I’m doing here? I don’t belong here, I don’t belong here...

terça-feira, 2 de setembro de 2008

É NÓIS NA FITA...

Você já se perguntou por quê (ou será “porque”? Ou então “porquê”, ou ainda simplesmente “por que” – já li mil vezes, mas tenho um bloqueio mental com porquês...) o sucesso de “coisas” como Eguinha Pocotó e Garota Melancia? Da audiência de um Programa do Gugu ou do Big Brother Brasil enquanto que a programação da TV Cultura “dá traço” no IBOPE?

Procurando por respostas você, que assiste ou curte um dos citados entre tantos outros, pensa que “...é coisa do povão”...?

Não, não é. É de classe média, gente com TV, computador e acesso à internet. Possivelmente repetiremos aqui no Brasil a conformação americana de sociedade, de uma classe-média composta por Hommers Simpson.

Esse post deveria estar no
Não Seja Medíocre, do colega e um dos únicos três leitores deste blog no planeta, Roberto Bechlufft, mas como ando ficando sem assunto (uma possível prova de minha mediocridade), vou postar assim mesmo.

No elucidativo Nossa classe média é culturalmente pobre
(leia inteiro aqui) Marcelo Spalding cruza uma pesquisa da FGV com dados publicados pelo jornalista Carlos Scomazzon em sua coluna do portal Artistas Gaúchos, "Afinal, quem tem acesso à cultura no Brasil?" e constata que, se por um lado o dinheiro está chegando às camadas menos favorecidas da população com o devido alarde midiático feito pelo Homem de Nove Dedos, trazendo-a a um novo patamar social – o de classe-média – o mesmo não acontece com o que se chama, arbitrária e jocosamente dirão alguns, de cultura.

Quem fez Humanas, principalmente Comunicação, na faculdade deve ter estudado o fenômeno de down–up cultural, uma reversão na qual o que antes era “cultura imposta pelas elites” (ópera, balé clássico e essas coisas que hoje quase ninguém mais gosta) começa a perder espaço para a cultura popular. Nada de mal nisso não fosse a indústria cultural perceber seu potencial de lucros, pasteurizar o processo e se aproveitar dele com o que de pior se produz em nome da audiência.

Mas, claro, ninguém tem tempo ou quer pensar sobre isso. Aliás, ninguém mais quer pensar sobre coisa alguma. Todos já têm problemas demais, não é mesmo?

Pois é. Depois não reclame de que não tem nada de bom na TV.

Aliás, se não tem nada de bom na TV, por que (porque, porquê, por quê...) você não pega um livro?...

terça-feira, 29 de julho de 2008

FILMES PARA VOCÊ FICAR ESPERTO

Nenhum é novo e já foram vistos por quase todo mundo, mas vale a pena lembrar deles pois são inacreditavelmente atuais (a idiotice humana é eterna).

Se você é daqueles que pagam uma fortuna (ou gostaria de pagar) pra ouvir falarem aqueles gurus de marketing e administração ou se fica entusiasmado quando, em sua empresa, o RH contrata um desses gurus pra dar uma palestra, não deixe de ver MUITO ALÉM DO JARDIM, um clássico com Peter Sellers.

De modo direto, o filme mostra como muitas pessoas vêem e ouvem somente aquilo que querem - e acham o máximo - mesmo vindo de um... Bem, assista ao filme.

A outra dica é um filme um pouco mais recente, mas o engraçado é que coloca na telona uma idéia sobre a qual eu havia pensado tempos atrás (mas não tive a competência nem a idéia de transformar em roteiro cinematográfico...). Eu imaginei como seria o mundo se o nivelamento cultural por baixo continuasse pressionando as pessoas e elas seguindo as "tendências" sem pararem pra pensar... O filme que traduz o futuro que vislumbrei é IDIOCRACY.

No primeiro, um sutil e cínico humor. No segundo, inteligente e escrachado.

NÃO PERDA!!



sexta-feira, 18 de julho de 2008

CHURRASQUINHO DE CACHORRO SÓ DEPOIS QUE A VISITA FOR EMBORA



Você já deve ter visto na mídia por aí, se tem algum interesse pelo grande evento esportivo que está por vir – a Olimpíada de Pequim (ou Beijing, que parece nome de doce de festa infantil e talvez por isso adotemos outra grafia) – que os chineses irão temporariamente suspender a oferta de carne de cachorro em seus restaurantes no intuito de não ferir os sentimentos dos turistas estrangeiros.



Isso é engraçado... OK, é trágico, mas falo sobre o raciocínio (a falta dele) das pessoas.
Certa vez, num grupo de discussão sobre direitos animais, criei o maior rebu sobre esse assunto. Os integrantes queriam, de algum modo, criar sanções a produtos chineses e coreanos porque eles comiam cães. Aí eu fiz a pergunta: vocês comem carne de vaca, porco ou galinha? Se sim, qual a diferença destas e da carne de cachorro? (ao ver um bife no açougue você tem ABSOLUTA certeza de qual animal veio?...).As respostas foram iradas, sarcásticas, esotéricas, mas nenhuma foi lógica.

A questão é PURAMENTE cultural.

Arriscando-me a ouvir piadas sem-graça, afirmo que NÃO HÁ ABSOLUTAMENTE DIFERENÇA NENHUMA entre um bicho e outro. Todos são carne, todos sentem fome, frio e medo. Todos
sofrem nos “calabouços” em que são criados, onde passam suas vidas presos para nos servir de
alimento.

Um parêntese: você se chocou com a cena de humanos servindo de pilhas para alimentar as máquinas em Matrix? Veja na foto ao lado como são criados os seus bifes de frango...



Do outro lado do mundo, a vaca é um animal sagrado. Ai daquele que molestar uma delas. Ninguém as come, jamais. Para os indianos somos um bando de ignorantes, brucutus cujas almas nunca evoluirão ou subirão aos céus por violarmos a sacralidade da vaca. Em alguns templos também por aqueles lados são os ratos as divindades. Ninguém pode – nem tenta – feri-los. Vivem em paz, felizes, soltos pelas ruas.



Quem tem razão? Nós, ocidentais, ou os indianos? Não há como determinar isso de maneira universal, extra-cultural, honesta, lógica, sensata, imparcial.

Pouca gente entendeu esse ponto de vista ou, por comodidade, preferiram não pensar muito a respeito. Pensar é um dos mais árduos trabalhos humanos e por isso mesmo são poucos os que se dispõem a fazê-lo. As pessoas querem mudar o mundo mas não querem mudar a si mesmas. Querem que chineses e coreanos parem de comer cães mas não abandonam seus churrascos bovinos de final de semana.

Ser vegetariano não é algo que cobro ou tento impor a ninguém, é um posicionamento exclusivamente pessoal. Mas em Ética vemos que a imparcialidade não é possível. Ela não existe, é uma cômoda auto-ilusão daqueles que temem se posicionar. Desse modo, quem não se posiciona está, automaticamente, tomando a posição da ideologia vigente, da maioria, dando espaço para ela existir tranquilamente.



Há um velho ditado, atribuído por vezes a Confúcio noutras a mestres Zen, que diz:

“Antes de tentar mudar o mundo, dê três voltas ao redor de sua casa”.
Verá que há muito a mudar e perceberá que a mudança deve começar em você, depois no resto.

quarta-feira, 16 de julho de 2008

A FÉ REMOVE MONTANHAS, MAS NÃO A IDIOTICE


Aproveitando que meu caro colega (e um dos únicos leitores desse blog) Roberto Bechtlufft escreveu sobre os seguidores da doutrina
Testemunhas de Jeová lá no Não Seja Medíocre, aqui vai minha contribuição para a abertura dos olhos e mentes. Afinal, todo mundo que faz uma Pausa prum Café e começa a usar o cérebro e passa a não querer mais ser medíocre.

Num envelope dourado brilhante chegou a solução de todos os meus problemas: a MEDALHA MILAGROSA de Nossa Senhora de Fátima, da Associação Católica dessa mesma.

Funciona mais ou menos como se a medalhinha fosse uma conexão 24x7 online com Nossa Senhora, entende?...

Os folhetos afirmam que Nossa Senhora prometeu a Santa Catarina Labouré o alcance de todas as graças a quem usasse a medalha. Dizem também que o ornamento salvou a vida de um funcionário da TAM naquele acidente fatídico e adicionam mais algumas estórias de salvamentos incríveis e, no final, claro, o boleto para sua doação partindo de R$15,00 ou “...o que Deus lhe inspirar a dar”.

Não tenho nada contra atividades comerciais que visam o lucro, mas quando se trata de fé – ou o abuso da boa fé de muitos pela má fé de alguns – aí fico irritado.

Supondo que exista realmente algum objeto que tenha forças e poderes superiores ou desconhecidos que rearranjem a linha dos acontecimentos e distorça a realidade em favor de uma determinada pessoa, é de se supor que esse objeto seja único, raríssimo e, por isso mesmo, valiosíssimo, como a Arca da Aliança procurada por Indiana Jones no primeiro filme.

Cópias da Arca teriam o mesmo poder? Acho que não. Então como as centenas milhares de cópias dessa medalhinha, possivelmente produzidas na China, podem ter algo de especial?
Resposta possível: é a fé que você deposita nelas que proporciona milagres em sua vida.

Ora, se é assim posso depositar minha fé em qualquer coisa que eu carregue o tempo todo, como meu celular, meu iPod, meu pingente com o kanji “Paz Interior” ou minha aliança de casamento.

Mas essas medalhas foram abençoadas com água benta. Como benta? Ah, elas foram molhadas em água que foi exposta às palavras de um pedófilo em potencial, sei...

Nos folhetos, o padre organizador dessa campanha promete incluir nas intenções da Santa Missa os nomes de todos os integrantes da família daquele que colaborar com uma doação, mas não há em lugar nenhum qualquer formulário para envio dos nomes.
Esse padre tem mesmo poderes sobrenaturais e adivinha o nome de todo mundo?

E como é mesmo aquele episódio bíblico de não adorar imagens?...
Sei, católicos se defendem dizendo que isso não é adoração, é uma homenagem ou coisa do tipo. Em dois mil anos tiveram tempo de criar argumento pra tudo...

Aleluia, irmão! Salve Maria! Que Alá esteja convosco! Shalom! Que os céus não lhe caiam sobre a cabeça!...

terça-feira, 8 de julho de 2008

LEI SECA E TOLERÂNCIA ZERO SÃO MUITO DIFERENTES


Brasileiro é um povo besta mesmo. Está tão acostumado à zorra que quando alguém tenta pôr ordem no caos começa a se insurgir, criar argumentos contrários fantasiosos, invocar direitos esquecendo os deveres.

Bastou endurecer um pouco a vigilância em relação aos bêbados ao volante que alguns já questionam a validade da ação. Ora, qualquer coisa é melhor que nada frente ao absurdo que vemos todo dia nas ruas.

Lei Seca é uma definição que se tornou famosa após a proibição ter sido adotada nos Estados Unidos em 16 de janeiro de 1919, quando foi ratificada a 18ª Emenda à Constituição do país, entrando em vigor um ano depois, em 16 de janeiro de 1920. Não deu certo...

No Brasil NÃO EXISTE Lei Seca, mas um dispositivo legal que só vigora durante a época das ELEIÇÕES. O que existe aqui é uma modificação no Código de Trânsito Brasileiro que recebeu esse infeliz apelido por proibir o consumo de qualquer quantidade de bebida alcóolica por condutores de veículos. É algo extremamente razoável frente à nossa realidade com cada vez mais cretinos ao volante.

Na última década do Século XX, o número de mortos em acidentes de trânsito no Brasil foi de cerca de 25.000 pessoas ao ano - 250 mil brasileiros mortos. Para cada morto, 13 outras pessoas sobre­viveram nesses acidentes - 3 milhões de brasileiros feridos. De cada grupo de 13 sobreviventes, cerca de 4 pessoas se tornaram incapacitadas físicas - cerca de 1 milhão de pessoas. (dados da Rede SARAH de Hospitais da Aparelho Locomotor).

Muitos se lembram da implantação do novo Código Brasileiro de Trânsito, não?! Pois bem, o que parecia um duro golpe nos infratores resultou numa pequena redução no número de acidentes e vítimas, no período imediatamente após a implantação do novo CTB, seguido pelo retorno aos níveis anteriores de violência no trânsito, em pouco mais de um mês.

O fato desta mudança de comportamento ter sido tão efêmera nos faz deduzir que este controle social (lei) não foi exercido de forma satisfatória.

Nos EUA, por exemplo, o motorista infrator pode ser preso se não pagar as multas de trânsito, além, é claro, de ter o veículo apreendido. Por que aqui tem que ser diferente? Nossa frota é pequena se comparada à dos EUA. Os dados nos mostram que os brasileiros estão morrendo no trânsito, por ano, mais do que jovens americanos morreram na guerra do Vietnã.

Mas o motorista brasileiro, espertalhão e ainda adepto da Lei de Gérson, essa sim sempre presente por aqui, acha que seus direitos estão sendo violados. Direitos de encher a cara e passar por cima de pedestres, destruir os carros dos outros e outras coisinhas “de menos” se comparadas com sua “necessidade” de beber. Que vá falar sobre seus direitos àquela mãe que chora sobre o corpo do filho ou àquele pai que perdeu mulher e filha num cruzamento.

Ahhh, mas isso só acontece com os outros, não é mesmo?! Eu não, eu tenho controle...

Precisamos aprender a viver com regras. São elas que tornam a vida em sociedade suportável.

segunda-feira, 23 de junho de 2008

BONS TEMPOS...


Dia desses recebi, pela enésima vez, um daqueles e-mails que nos fazem lembrar dos “velhos bons tempos”. Imagens de desenhos animados, seriados, brinquedos, doces e salgadinhos...

Você já deve ter recebido algum assim, não é mesmo?

Algumas dessas montagens são bastante equivocadas, colocando num mesmo “tempo” coisas de décadas diferentes e distantes uma das outras, como Atari e o He-Man, o Xerife Coelho Ricochete e a Família Dinossauro.

Ora, numa eu era criança, na outra eu era adolescente e já não curtia mais coisas de criança (como só velhos adultos saudosos o fazem...).

Outra coisa que noto é que quem prepara essas apresentações não deve ter mais de 30 anos. Se tivesse, incluiria a Vila Sésamo, o Nacional Kid (um clássico), Ultraman, Guzula, Samurai Kid, Besouro Verde, Super Dínamo (outro clássico), todos da mesma época do novamente famoso Speed Racer.

O problema dos velhos tempos é que eles foram tão bons quanto pior ou mais seletiva for nossa memória...

Não faz tanto tempo assim eu precisava ficar em filas de bancos para pagar uma série de contas. O fazia em meu horário de almoço e invariavelmente voltava atrasado para o trabalho, sob o olhar repreensivo do chefe. Não havia internet banking há uma década.

Não havia celular (bem, acho que isso era bom...) e se você quisesse ouvir música andando a pé pela cidade precisaria carregar o seu micro system no ombro, pois não havia MP3 players nem walkmen.

OK, não serei um estraga prazeres. Também tenho minhas boas lembranças.

Estas manhãs frias me lembram – e acho que isso não existe mais – de um padeiro motorizado com sua lambreta (que só muito depois ficou conhecida como vespa) equipada com um grande caixote de madeira na garupa. Ele vinha até a nossa rua entregar pães quentinhos.

Brincávamos na rua – isso também já não existe mais em muitos bairros da cidade – e quando ouvíamos o ronco de sua lambreta nos animávamos. Quando ele estacionava e ia de casa em casa tocando a campainha para entregar os pães, atacávamos o caixote da lambreta e pegávamos pães franceses fumegantes para comer ali, na guia da calçada.

Ele nos via, fazia anotações em uma caderneta com a caneta que carregava na orelha (não havia palmtops) e acredito que depois mandava a conta para nossas mães.

Bons tempos aqueles...

terça-feira, 29 de abril de 2008

SAGRADO CORAÇÃO. PORQUE SÓ ELE É ASSIM?

Por que tanta coisa em torno do Sagrado Coração de Jesus?

Achei, entre as instituições que usam esse órgão em particular, paróquias, colégios, universidades, apóstolas, missionários...

Assim como as antigas placas dos automóveis quando tinham apenas duas letras, as combinações em torno de um único órgão do filho Dele irá causar, se já não causa, problemas de homônimos ou de direitos autorais.

E porque ignorar os outros órgãos?

Em nome da sacralidade total, proponho ao Vaticano a santificação do corpo de Cristo como um todo, de modo que todas as associações cristãs do mundo tenham mais facilidade em criar seus nomes.
Desse modo poderíamos ter:

- Associação do Beatíssimo Fígado de Jesus;

- Apóstolos do Milagroso Pâncreas de Jesus;

- Missionários do Santíssimo Intestino Grosso de Jesus;
- Colégio dos Iluminados Rins de Jesus;
- Irmãs do Abençoados Olho Direito de Jesus;

- Beatas do Testículo Esquerdo de Jesus;

- Congregação dos Seguidores do Altíssimo Dedo Mindinho do Pé Direito de Jesus (quantas possibilidades, visto que são 20 dedos...);

...e por aí vai.

Nem precisam me agradecer pela idéia. Foi inspiração divina...

terça-feira, 22 de abril de 2008

GANHE DINHEIRO COM SEU BLOG!


Dia desses li no LINK, um caderno do Estadão, sobre a falta de “empreendedorismo” nos blogs. Faltaria, na opinião de quem escreveu, ambição aos blogueiros.

Em outras palavras, o jornalista/analista dizia que os blogueiros precisavam pensar em maneiras de ganhar dinheiro com seus diários eletrônicos, como inicialmente eram chamados.

Em minha opinião isso é fruto de uma visão deformada pelo reducionismo funcionalista impregnado em nossa sociedade – e nas mentes de todos. Tal funcionalismo exige que tudo tenha uma função, no sentido mais comercial possível da coisa. Em resumo: tudo deve servir para algo e, preferencialmente, com algum valor comercial - gerar dinheiro.

Em nossa cultura e em nossa sociedade, costumamos considerar que alguma coisa só tem o direito de existir se tiver alguma finalidade prática, muito visível e de utilidade imediata.
Se não é para ganhar dinheiro, para que serve então?

Ora, um blog pode servir para uma série de coisas. Expor idéias a respeito de algum assunto, por exemplo. Ou então nos mostrar "...o risco de tomar por certo aquilo que deveríamos prestar atenção cuidadosa, bem como a possibilidade de descobrir, sob o prosaico comum e rotineiro, um universo de extraordinária riqueza e variedade, diante do qual podemos somente nos maravilhar". OK, essa frase é de Matthew Lipman, filósofo norte-americano, definindo a serventia da Filosofia no mundo atual.

Mas quando se publica e troca idéias, estão todos os envolvidos de algum modo obtendo conhecimento. Obtendo conhecimento sobre um assunto, tornamo-nos mais críticos e conscientes em relação àquilo e suas conseqüências ou reflexos no mundo. Tornando-nos mais conscientes, entendemos nossa responsabilidade e, por fim, evoluímos.

Pretensioso, não?

OK, há muito lixo por aí. Mas, se há, possivelmente existe porque também há quem queira ver.

Desse modo, dizer que algo é ou não lixo depende de quem lê, ouve ou assiste – uma questão de nível do interlocutor. Já ouvi um reverenciado maestro brasileiro dizer que Caetano, Gil e Chico Buarque são bobagens em termos musicais...

Mas, voltando ao assunto: nem tudo, acredite, é feito por dinheiro. Há um prazer em expor e trocar idéias que só blogueiros conhecem.

E prazer, se for de graça, melhor. Se "gratuito" para quem bloga, sem amarras, rabos-presos ou necessidade de se ganhar dinheiro, por exemplo, nem se fala.

Uma outra “falta” que o jornalista vê nos blogs é a de "vontade de mudar o mundo".
Ele admite que seu texto é apenas uma provocação, mas que provocação mais ultrapassada, sô...

Cheira a bolor, cheira à lama de Woodstock.

Não que devamos apoiar a mesmice, o continuísmo, mas mudar o mundo?... Isso é muito anos 60, muito cafona, usando um termo da época em que todos queriam mudar o mundo deixando barbas e cabelos crescerem.

Assim como as barbas e cabelos foram inúteis e só deram lucro aos barbeiros quando o movimento murchou, não são os blogs que vão mudar coisa nenhuma, mas sim uma série intrincada de fatos e variáveis incontroláveis.

Imagine o tamanho do caminhão da Granero necessário para mudar o mundo...


quinta-feira, 17 de abril de 2008

A DIFÍCIL TAREFA DE SER ÉTICO

Numa certa aula num curso que estou fazendo o tema era marketing global e o assunto girava em torno da necessidade de preocupação com a ética, indo da mais prosaica honestidade na relação comercial às questões referentes ao trabalho escravo, dando como exemplo o extrativismo de cacau na Costa do Marfim, além do tradicional e desastroso da Nike.

Foram colocadas questões com as quais as empresas e seus profissionais devem se orientar para, no mínimo, terem melhor imagem corporativa, como responsabilidade social, preocupação com o meio-ambiente, educação, saúde dos funcionários e sociedade, ações sociais pró-ativas e outras.

Tudo ia bem até que, num momento mais relaxado e apenas para dar um exemplo, o professor disse que “...poderíamos tentar, num encontro numa churrascaria, montar uma ONG...”... Ops!

Nesse momento, como uma pedrada uma questão me atingiu: ser ético é, a despeito da extensão desse assunto, respeitar “o outro”. Isso nos leva à reflexão sobre quem é esse tal de “outro”.

Seres humanos com cor da pele diferente da minha podem ser considerados “o outro”?
Sim, após muito sofrimento, humilhações e enfrentamento de diversos desafios, pessoas de pele escura deixaram de ser vistas como coisa, como mercadoria importada da África e passaram a ser tratadas como gente. Ainda têm problemas, às vezes escancarados, às vezes mais velados como aqui no Brasil, mas conseguiram um bom avanço. A humanidade, de modo geral, evoluiu na questão do racismo.

Seres humanos de sexo diferente do meu podem ser considerados “o outro”?
Sim, após muito sofrimento, humilhação e enfrentamento de diversos desafios, mulheres conseguiram direito ao voto (lembram das Sufragistas?...), acesso ao mercado de trabalho e outros avanços. Ainda têm problemas, às vezes velados, às vezes escancarados como as vítimas de excisão (amputação do clitóris - a UNICEF revela que três milhões de mulheres na África e no Médio Oriente são sujeitas a mutilação genital todos os anos) mas, de modo geral, a humanidade evoluiu bastante em relação ao sexismo.

Seres NÃO-humanos e, portanto, bem diferentes de mim podem ser considerados “o outro”?
Cientistas afirmam que DNAs de humanos e chimpanzés são 98% idênticos.
Afirmam, também, que diversas espécies têm linguagem própria e se comunicam de modo até sofisticado (eu acredito que todas tenham, nós humanos é que somos ignorantes e não compreendemos). Descobriram que orangotangos e alguns cães conseguem fazer contas simples.

Não é preciso ser cientista para perceber que animais sentem fome, frio, medo e dor, muita dor nos laboratórios de pesquisas, nas fazendas industriais, nos abomináveis rodeios, na produção alucinada de ovos, na pré-preparação de aberrações como o foie gras.

A diferença definitiva entre animais e humanos é a incapacidade dos primeiros de protestarem e defenderem seus direitos mas, se você se pretende ético, não espera por isso. Respeita e deixa-os viver.

Em minha opinião, sim, eles também são “o outro” e, desse modo, não pisaria numa churrascaria para devorar pedaços seus cadáveres, resultado de vidas encurtadas por sofrimentos inimagináveis. A humanidade, de modo geral, ainda não evoluiu nada em relação ao especismo.

Ser ético “mais ou menos” não é ser ético. Ser ético com algumas coisas e não outras não o torna uma pessoa ética. Ser ético por completo é remar contra a maré, é estar sozinho a maior parte do tempo e, mesmo assim, por falta de informação e conhecimento a gente às vezes derrapa.

Ser ético vai muito além de consciência social, imagem corporativa na OMC ou respeito ao meio-ambiente.

Como disse Leo Tolstoy, "Um homem pode viver uma vida saudável sem ter que matar animais para comer; portanto, se ele come carne, participa do ato de tirar a vida de uma criatura meramente para saciar seu apetite. E agir dessa maneira é imoral."

quarta-feira, 16 de abril de 2008

HEROES

Heroes é um clássico de 1977 perpetuado por David Bowie, mais ainda quando ouvido no filmeEu, Christiane F., 13 anos, Drogada e Prostituída...” .

Muito antes da série Heroes chegar à TV...

Heróis são o tema central de qualquer epopéia clássica que se preze e foi estudando-as que Joseph Campbell, autor de “O Poder do Mito” (já o citei antes...), escreveu sobre a saga do Herói. Diz ele que “nas narrativas clássicas o herói começa relutante mas há augúrios e sinais que antevêem sua grandeza pré-destinada. Ele recebe conselhos sábios de um mentor, ganha companheiros inesperados, porém leais, enfrenta uma série de crises cada vez mais críticas, explora o poço de seus próprios medos e emerge vitorioso, levando a vitória ou o talismã de volta à sua tribo, seu povo ou sua nação que o admira profundamente”.

O caminho do herói simboliza a jornada que todo ser humano precisa empreender em direção ao que o psiquiatra suíço Carl Gustav Jung (1875-1961) chamou de individuação. “É a busca por desenvolver nossa singularidade, descobrir e explorar nossos potenciais a fim de nos tornarmos seres únicos”, explica o psicoterapeuta junguiano Ascânio Jatobá.

Heróis nos acompanham por toda a vida. Na infância eles são mais facilmente identificáveis pois usam roupas multicoloridas, capas e têm superpoderes, voam, são à prova de bala, invisíveis, mais rápidos que um raio...

Mas a gente cresce e nossos heróis mudam.

Dá até pra dizer que existe aqueles que curtem mais os anti-heróis. Há quem diga que Indiana Jones é um anti-herói.

Há mais de um tipo de anti-herói. Além dos que buscam satisfazer seus próprios interesses, há também os que sofrem desapontamentos em suas vidas, mas persistem até alcançar o ato heróico. Ainda há o tipo de anti-herói que é bem próximo do herói, mas segue a filosofia de que “o fim justifica os meios”.

O que dizer quando seu herói (ou seria anti-herói?!) é mal-humorado, desbocado, cético, narcisista, quase cafajeste (não, não é o Wolwerine) e manca de uma perna?

Dr.House, chefe do departamento do medicina diagnóstica do fictício hospital Princeton-Plainsboro é tudo isso e muito mais.

Aliás, todas as opiniões sobre o personagem são superficiais - isso em minha nada humilde opinião. Dr. House mantém aquela casca grossa por alguma razão, talvez para se proteger...


Quase como um mestre zen da escola Rinzai, House chama bruscamente seus interlocutores de volta à realidade, ao aqui e agora, ao que realmente precisa ser feito, com o objetivo correto - através de meios nem tanto - com uma clareza e visão que assombra a todos.

Detona valores morais embolorados, implode preconceitos.

Vale a pena uma olhada se você ainda não é fã.


sexta-feira, 28 de março de 2008

DESACOSTUMAR

A gente se acostuma a acordar de manhã, sobressaltado porque está na hora. A tomar café correndo porque está atrasado. A ler jornal no ônibus porque não pode perder o tempo da viagem. A comer sanduíches porque já é noite. A cochilar no ônibus porque está cansado. A deitar cedo e dormir pesado sem ter vivido o dia”.

Ao contrário do slogan da rede de fast food, ele não amava muito tudo isso. Ele estava cansado, realmente cansado.

Não um cansaço físico, mas mental. Cansado de ter de se acostumar, como escreveu
Marina Colasanti em “Eu sei, mas não devia”.

Pensava em como poderia escapar dessa ciranda tristemente viciosa que a cada dia se tornava mais pesada e sem saída.

A gente se acostuma à poluição. À luz artificial de ligeiro tremor. Ao choque que os olhos levam na luz natural. Às besteiras das músicas, às bactérias da água potável. À contaminação da água do mar. À luta. À lenta morte dos rios. E se acostuma a não ouvir passarinhos, a não colher frutas do pé, a não ter sequer uma planta. A gente se acostuma a coisas demais, para não sofrer”.

Mas ele sofria.

Algo lhe dizia, como vozes para um esquizofrênico, que havia sim uma saída, e se angustiava ainda mais por sentir o tempo passar e não encontrá-la.

Foi quando leu sobre a estréia de “
Into the Wild” (Na Natureza Selvagem, aqui), baseado na trajetória de Christopher McCandless rumo ao Alasca em busca (ou fuga) de... Bem... McCandless morreu e só há interpretações possivelmente contaminadas sobre sua escapada.

Pouco depois leu sobre
Jonathan Dunham, um ex-professor canadense que largou tudo e está cruzando o planeta a pé acompanhado de seu burro, chamado Judas. Motivo, nem ele mesmo sabe ao certo. Jornais ao longo de sua rota noticiaram que ele estava caminhando pela paz mundial, para estabelecer um recorde mundial ou para divulgar a palavra de Deus.
"Eles sempre encontram algo para dizer", disse Dunham sobre os repórteres que buscam conhecê-lo.

Lendo isso, lembrou-se da multidão seguindo Forrest Gump enquanto corria. Ele apenas corria.

Dias depois, entre suas séries enlatadas preferidas, viu Jason Gideon (Mandy Patinkin) abandonar a liderança intelectual da equipe de agentes do FBI em “Criminal Minds”, deixando apenas uma carta explicando sobre sua dificuldade em ainda acreditar que as coisas podem dar certo no final.

E espantou-se com Sara Sidle, em pleno breakdown emocional diante de tantas tragédias, despedindo-se de Grisson em “CSI”. A personagem também deixa uma carta dizendo que, apesar de ter feito de tudo para ficar, precisava de um tempo para “repensar”.

Será tudo sintoma de atenção seletiva?

É um erro buscar a felicidade fora de si, dirão alguns. Mas não é de um enorme pedantismo intelectual achar que nada de fora nos atinge e basta procurar lá dentro, que somos dissociados do mundo à nossa volta, que podemos ser imunes a ele?

Não somos: ele nos influencia. Às vezes, demais.

Será que é possível "desacostumar" de tudo e recomeçar em outro lugar, viver outro personagem?


“- ...E o que você vai fazer quando chegar ao Alasca?"
– pergunta o divertido malandro vivido de maneira carismática por Vince Vaughn.

“- Apenas viver, cara, viver...”, responde McCandless.