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segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

ENTREVISTAS DE SELEÇÃO

Entrevistas de emprego são, muitas vezes, surreais. A quase totalidade delas utiliza o método MEQuEG – Me Engana Que Eu Gosto.
Fala sério: qual a resposta HONESTA para “onde e como você se vê daqui a cinco anos?”. A resposta-padrão deve ser algo como “ocupando a cadeira de diretor...”, “tornar-me um profissional reconhecido pelo mercado...”, “estar dirigindo meu próprio negócio” e coisas do tipo.
Ora, minha vontade é dizer que não tenho bola de cristal e, apesar de não ser míope, não enxergo tão longe assim. No máximo, posso dizer que espero estar vivo, com saúde e curtindo uma paz interior. Se estiver assim, os demais aspectos de minha vida com certeza estarão em ordem.
Invariavelmente, todos perguntam “...como anda seu Inglês?”. Minha vontade é dizer que ele anda em linha reta, cabeça erguida, fleumático como de costume mas que não tem nada de “meu”, sai prá lá que sou espada. Desde minha primeira entrevista, há mais de 20 anos, me perguntam isso. Nunca precisei usar o Inglês no trabalho, apesar de poder fazê-lo se quisesse.
Talvez a pior pergunta seja “porque devemos contratá-lo?”. A resposta franca: porque estou
desempregado e as contas não param de chegar. Simples, direta, honesta. Mas não é isso que querem ouvir: você precisa elaborar um argumento qualquer sobre suas qualidades, sobre o que você pode fazer pela empresa, que conhecimentos traz e pode aplicar aprimorando resultados...blá...blá...blá.

O mesmo se aplica a uma variação da pergunta acima: “qual seu diferencial em relação aos demais?”. E eu lá conheço os demais?!? Como vou saber quais das minhas centenas de milhares de qualidades não foi pirateada pelos invejosos concorrentes?
“O que você procura nesse novo emprego?”. O salário, minha filha, o salário! Mas o correto é dizer que busca novos desafios, desenvolvimento profissional e chances de contribuir com a empresa e crescer com ela. Que lindo...
Já te encostando contra a parede antes mesmo de contratá-lo, enfiam-lhe esta: “trabalha bem sob pressão?”. Resposta bacana: 
sim, eu sou uma “Lares” em pessoa (alguém lembra do comercial com o casal nipônico?). Ok, Lares é meio antiga e acho que a profissional de RH, se não tiver mais de 40, não vai entender. Diga então que você é meio como uma Clock ou Penedo.
É claro, é óbvio, é humano não gostar nem um pouco de trabalhar sob pressão, mas sua resistência à ela é bem vista no mundo corporativo, além de já deixá-lo pré-avisado de que aquele maluco que vai ser teu chefe berra como louco pelos corredores. Alguns até dizem gostar de pressão, sob a desculpa de que assim produzem melhor... Assim como burros puxam mais rápido as carroças quando chicoteados.
Aí chega a hora fatal, o golpe de misericórdia: “cite um defeito e uma qualidade sua”. A saída que a maioria procura para essa enrascada é dizer que seu defeito é ser exigente demais ou perfeccionista (rs...rs...rs... eu não agüento) e sua principal qualidade pode ser uma entre entusiasmo, persistência, dedicação, responsabilidade e competência técnica (o mundo não me descobriu ainda...).
Sabendo que essas perguntas clássicas são utilizadas desde os tempos de Noé – ele acabou não contratando ninguém pois todos responderam honestamente e construiu a Arca sozinho – e as respostas desejáveis são encontradas aos montes na internet, por que continuam a utilizá-las? Preguiça? Falta de imaginação? Querem verificar se o candidato decorou direitinho as respostas que leu nos sites de RH?
Ou querem perpetuar esse mundo de faz-de-conta?