segunda-feira, 24 de março de 2008

ARISTÓTELES E NIETZSCHE

Olhando agora ele precisava admitir que deixar crescer a barba cerrada e grisalha tinha sido um certo tipo de rebeldia, um tanto tardia e tímida, ele sabia, mas algo meio que nos moldes dos jovens cabeludos e barbudos nos anos 60 e 70. Hippies protestando contra “o sistema”, sabe-se lá o que era isso.

Obviamente, justificou-se com todos os argumentos disfarçantes que encontrou, desde simples preguiça até a economia de tempo no banheiro pela manhã. Mas, em verdade, protestava.

Seu protesto vinha do fundo da alma, não era algo claro nem a ele mesmo. Fazia-o como um impulso que aos poucos foi entendendo. Era rebeldia contra o tipo de vida que levava, escravo do relógio, das cobranças da chefia, das pressões da vida corporativa, dos conjuntos “cabelos curtos-ternos cinza-sapatos pretos-gravata”. Era um protesto contra a exigência de criatividade apenas no discurso num mundo que prezava, antes de mais nada, a homogeneidade inclusive de pensamento – e, por tabela, a mediocridade. Mediocridade difícil de apontar entre executivos bem remunerados. Mas percebia que todos pensavam igual, agiam igual, acertavam e erravam igual, contavam piadas iguais...

Tardio esse protesto, como já disse, pois já passara dos 35 há tempos.

Como única vazão, deixar crescer a barba não foi suficiente para sanar essa revolta interior. Dissonante, doente por não conseguir colocar sua imaginação e suposto talento em serviço, foi se tornando sorumbático, calado, esquivo, exatamente como descreve o
Indicador de Tipos Myers-Briggs com pessoas assim.

Perguntava-se às vezes qual o motivo disso tudo nessa altura de sua vida. Era difícil localizar um momento específico, um evento ou causa única. Percebia que desde muito cedo tinha tendências melancólicas. Passava tardes inteiras preenchendo cadernos de desenho ou brincando sozinho com seu Forte Apache. Brincava também com os amigos, mas ficar só com seus pensamentos – ou, em outras palavras, viajando profundamente num particular mundo de imaginação pura e livre - não era algo estranho para ele. Ler quase inteira a coleção Conhecer e se deslumbrar com as aventuras vikings ou os relatos das Cruzadas enquanto os primos iam pular Carnaval à tardinha causava estranhamento em toda a família, mas fazer o quê, era assim que se divertia acompanhado de uma lata de biscoitos de Maisena.

Melancolia, como diria Aristóteles, é um estado de espírito associado a uma experiência de interiorização profunda e fértil, um estado afetivo propício a todo ser que tenha como projeto compreender e modificar o mundo, mas que traz consigo um peso e imobilidade que infligem simultaneamente ao corpo e a mente, um afundamento nos próprios pensamentos e a perda de interesse pelo mundo exterior, descrevendo os sintomas da bílis negra, uma das muitas substâncias constituintes do corpo humano segundo a medicina antiga.

É mais freqüentemente associada a escritores, pintores, filósofos e intelectuais.

Quem dera...

Para ele, o duro de ser melancólico não era parecer sempre triste, ser considerado esquisito ou sentir o peso da existência em suas costas, mas não ter o talento para tirar algo disso como fez Nietzsche, Fernando Pessoa, Clarice Lispector, Dostoiévski, Machado de Assis, Miguel de Cervantes, Camus, Kafka, Goya, Baudelaire, Dürer... São exemplos de gênios, em que a criatividade surgia a partir da melancolia. Em comum entre os grandes e famosos melancólicos da história da literatura, uma certa insatisfação com a vida.

Nietzsche, que desconfio secretamente ter sido brasileiro, carioca ou baiano, desenvolveu a teoria da criatividade associada à alegria e à vontade de viver. O culto ao peso e à melancolia parecia-lhe antes um dos sintomas do niilismo europeu. Seu projeto de uma "Gaia Ciência" escolheu não o eremita nem o monge como modelo, mas a criança que brinca, o homem que dança, a mulher que canta.

E o brasileiro, o povo, o país, aprendeu direitinho. Aqui, o melancólico é o chato de galocha, o mala-sem-alça.

Não dá futuro ser melancólico em meio a tanto samba, suor e cerveja.

quinta-feira, 20 de março de 2008

QUE DÊ A PRIMEIRA BUZINADA QUEM NUNCA...


O assunto da semana tem sido o espantoso, moroso, torturante e, como todo mundo diz, caótico trânsito aqui em SP.

O Governo e a Prefeitura apressam-se em adotar medidas de urgência para tentar ao menos desafogar alguns corredores. Melhor seria rezar para São Cristóvão...

Como não poderia deixar de ser, tais medidas são principalmente compostas de obras – uma oportunidade de superfaturamentos e altos ganhos para os envolvidos – e contratação de mais fiscais de trânsito – uma excelente fonte de captação de recursos, um eufemismo para “indústria das multas” que políticos teimam em dizer que não existe.

Mas essas ações visam, principalmente, as vias de grande fluxo, as avenidas nas quais o trânsito deveria ser rápido (isso sim, não existe). Mas uma voltinha de poucos minutos pelas ruas do bairro onde moro mostrou que falta ainda uma atitude dos governantes: priorizar a educação e conscientização.

Coloquei minhas duas cachorrinhas no carro e fui levá-las numa praça aqui perto, onde as solto e deixo andar, correr, cheirar a grama, encontrar outros cães. Parecia algo simples e corriqueiro, mas com o assunto “trânsito” na cabeça, prestei atenção:

- o motorista dum ônibus, ao parar para pegar e deixar descer passageiros, não encostou no meio-fio. Ficou no meio da rua, segurando uma enorme fila de carros enquanto senhoras de idade avançada tentavam entrar ou sair do ônibus, sob protestos de um “buzinaço” logo de manhã;

- em frente às escolas (tem duas no caminho), as mães continuam estacionando em filas-duplas, afunilando e às vezes impedindo o fluxo de quem só quer passar. É só um minutinho, né...;

- o mesmo acontece em frente à padaria;

- ninguém lembra (ou simplesmente não estão nem aí) das aulas na auto-escola, em que se aprendia (ou deveria aprender) que a prioridade num cruzamento, não havendo vias principais e secundárias, é de quem vem pela direita. Isso evitaria as brecadas bruscas e sustos logo na esquina de casa;

- pedestres, cheios de direitos porque são o lado mais fraco, desrespeitam o semáforo e atravessam a rua enquanto o sinal é verde para os carros, nem se importando com o homenzinho vermelho piscando do outro lado;

- um apressado atravessa pelo meio de uma rotatória como se ali não houvesse marcação nenhuma. Sorte, pois o outro que vinha pela esquerda conseguiu brecar a tempo;

- um caminhão de refrigerantes e cerveja, muito mal estacionado, afunilava a passagem numa rua com carros parados nos dois lados;

- em frente aos diversos edifícios em construção, as betoneiras e as caçambas de entulhos ocupam quase meia via;

- olhando para o relógio, atrasados saem das garagens dos prédios com se mais ninguém transitasse por ali, enfiando estupidamente o automóvel na rua e fazendo o costumeiro e já sem sentido sinal de “desculpas”.

Isso tudo em pouco menos de dez minutos ao volante...

Que dê a primeira buzinada quem nunca cometeu alguma ou sofreu com essas barbeiragens. Obras e fiscais não terão efeito algum frente à falta de educação, displicência e ignorância dos motoristas profissionais ou não.

Em São Paulo, mais que a explosão automobilística e vias apertadas, os motoristas são vítimas deles mesmos.




quarta-feira, 19 de março de 2008

AS PIORES COISAS DE SE DIZER A UM DEPRIMIDO


Quem já teve depressão sabe: ouvimos muita besteira... As "besteiras", na maioria das vezes, são recheadas de boas intenções, ditas por pessoas próximas a nós e que nos querem bem. Mas, talvez por falta de informação, uma frase com uma boa intenção dita na hora errada é pior do que o silêncio.


Se já passou ou passa por isso, com certeza já ouviu uma dessas:


"Isso é coisa da sua cabeça." (De onde mais seria?...)


"Tem tanta gente pior do que você." (Diga isso e faça-o se sentir ainda mais culpado...)


"Você tem tudo, não tem porque se sentir deprimido." (Uma variação da frase acima)


"O dia está tão lindo!" (E eu com isso?..)


"A gente escolhe ser feliz ou não." (CULPA! CULPA!)


"Bom, pelo menos não aconteceu nada." (Depois que você disse que não sabia exatamente por que estava tão triste fazia alguns meses)


"Ânimo!!" (mas qual o motivo?...)


"A gente precisa se ver" (Ah, sim, claro...)


"Dorme um pouco. É o que eu faço quando fico triste."


"Mas você é tão jovem!"


"Você está com TPM?"


"Todo mundo passa por bons e maus momentos."


“Isso passa.” (A VIDA também passa...).


"Você está sendo muito egoísta." (Mais culpa...)


"Você é carente e só quer atenção."


"Como você é preguiçoso!"


"Eu sei como é." (Não, você não sabe!)


"Arranje um objetivo." (Essa é a dificuldade...)


"Reze que passa."


"Leia isso, isso , esse e mais esse..." (...E fique longe de mim, é isso que quer dizer?)


"Não sei por que você esquenta a cabeça, larga pra lá." (Largar o quê? Minha cabeça?)


"Vai curar tua depressão na p.q. te pariu!" (Bem, pelo menos foi honesto.)


"Você tem que sair disso sozinho e não é se entupindo de remédios antidepressivos que vai conseguir".


"Todo mundo passa por isso". (Ou seja, deixe de ser besta.)


"Não se entrega, não".


"Um dia desses eu passei a tarde procurando uma sandália, andando debaixo de um sol quente e não encontrava, já tava começando a dar uma depressão..."


"Às vezes eu fico em casa sozinha e também me dá uma depressão..."


"Depressão que nada! Essa é a desculpa mais usada no exército para quem quer se aposentar mais cedo."


"Não entendo por que você está cansado. Não faz nada o dia inteiro..."


E você, já ouviu outras além dessas?


Obs.: essas frases, além de ter ouvido muitas, eu pesquei em http://www.geocities.com/vip132/melhoresepiores.html

terça-feira, 11 de março de 2008

CÉLULAS-TRONCO, O DIREITO À VIDA, O CATOLICISMO HIPÓCRITA E A INCOERÊNCIA CONVENIENTE.





Em termos embrionários, somos todos iguais...










O pedido de vista do ministro Carlos Alberto Menezes Direito, uma estratégia para adiar o julgamento da questão, não impede o debate nacional sobre o assunto, felizmente.

O causo é realmente polêmico, difícil e, aparentemente, vai se definir pela melhor argumentação, independente de ciência ou religião.

Não é coisa pra se discutir em "mesa de bar" como é o propósito desse blog, mas o que me incomoda demais é a INCOERÊNCIA CONVENIENTE.

Muito além de questões apenas católicas, científicas ou técnico-jurídicas, discute-se o direito à vida, algo pra lá de filosófico, quase metafísico.

O Presidente Bush, em seu fanatismo religioso direitista, é contra as pesquisas pois fere o direito à vida, mas é ele mesmo que envia milhares de soldados ao outro lado do mundo pra explodir vidas. Hmmm...

Aqui no Brasil, os que são contra as pesquisas pelo mesmo motivo central - direito à vida - se vencerem a questão possivelmente irão comemorar com um grande churrasco.

EI!!

Mas estamos falando de VIDA, não? O boi que virou churrasco não era uma vida?

Os que defendem "a vida" são todos vegetarianos? Duvido.

Como de costume, apegam-se a pedaços convenientes de idéias e argumentos, deixando de lado a parte que incomoda, que contraria sua argumentação.

Por que a Igreja não condena as pesquisas com animais (vivissecção)? Por que a Igreja não condena a alimentação carnívora?

Simplesmente porque não é conveniente...

Se vamos defender a vida, que defendamos TODAS elas, não apenas aquelas que, potencialmente, poderiam vir a engrossar as fileiras nos bancos das missas de domingo.

quarta-feira, 5 de março de 2008

AVE...


Entre os céticos, agnósticos, ateus, cientistas em geral, parte da intelectualidade e de gente comum como eu e você é comum ouvir e aceitar a idéia de que as religiões foram, no decorrer da história da humanidade, as grandes responsáveis pelo atraso nos avanços das ciências e das artes, não esquecendo que sob acusações de blasfêmia ou heresia muitas das mais fantásticas e inovadoras idéias nas cabeças pensantes rolaram - junto com as cabeças - ou, para manter a vida, calaram.

Ignorando que contra fatos não há argumentos, religiosos têm tentado ao longo dos séculos refutar essa idéia.

Mas o que dizer, tratando de fatos um tanto presentes, sobre a ação direta de inconstitucionalidade contra os dispositivos da Lei de Biossegurança que tratam das células-tronco impetrada pelo procurador-geral da República, Cláudio Fonteles?
Saudadas pela maioria absoluta dos estudiosos do mundo inteiro como a descoberta mais promissora das ciências biomédicas, as pesquisas com células-tronco são permitidas em países culturalmente tão distintos entre si como Espanha, Finlândia, Japão, Israel e Reino Unido. A grande exceção, como se sabe, são os Estados Unidos, onde o poder político do fundamentalismo religioso no governo Bush chegou a níveis sem paralelo nas sociedades desenvolvidas da atualidade. E foi por inequívoca motivação religiosa, apesar dos seus desmentidos, que o então procurador-geral da República, Cláudio Fonteles, entrou com a ação no Supremo.

Fonteles cita diversos “cientistas” que concordam com sua visão mas esconde que, dentre estes, um é representante da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, a CNBB; outro integra o Núcleo de Fé e Cultura da PUC de São Paulo, uma iniciativa da Arquidiocese de São Paulo; um terceiro, além de pertencer ao Núcleo de Fé e Cultura, é correspondente da Pontifícia Academia Pro Vita, entidade criada pelo Vaticano. Sobre os cientistas estrangeiros que menciona, Fonteles omite que são ambos integrantes da Opus Dei, a organização católica mais reacionária do mundo e que seis dos nove brasileiros citados são autores de obra coletiva patrocinada pela Pastoral Familiar da Igreja Católica. Ele só fala, portanto, da patota de sua fé – como escreveu
André Petry em artigo na Veja.

A tese de Fonteles é um sofisma. Invocando o princípio constitucional da defesa da vida e sustentando que as pesquisas com células embrionárias destroem vidas humanas, pede que sejam banidas. Primeiro, a lei só liberou os estudos e as terapias do gênero com embriões descartados, porque inviáveis, nas clínicas de reprodução assistida ou congelados há no mínimo três anos.

Um embrião sem nenhuma chance de ser implantado em um útero, cujo outro possível destino é o lixo, ou um embrião congelado, que aos genitores não mais interessa implantar, em hipótese alguma poderia ser considerado vida, ou vida em potencial. Mesmo no útero, na reprodução natural, a implantação do embrião só ocorre a partir do 6º dia - e os biólogos trabalham com aglomerados celulares (blastocistos) de até 5 dias.

Outro assunto religioso de nossos tempos: o que pensar sobre a campanha
coercitiva sem precedentes no País iniciada por “pastores e fiéis” da Igreja Universal contra o jornal A Folha de S. Paulo e orquestrada em 56 municípios simultaneamente?

Se a igreja e o seu fantasticamente bem-sucedido CEO pedissem a abertura de processo contra o jornal e a jornalista, no foro apropriado, seria um caso legítimo de quid pro quo. Nessa hipótese, a liberdade de imprensa pressupõe isso. Mas a liberdade de imprensa não pressupõe que a parte atingida responda com ações simultâneas em 20 Estados. É uma tentativa torpe de amordaçar os meios de comunicação sob a capa de uma busca legítima de reparação pela via judicial.

A TV Record, ligada à Igreja Universal do Reino de Deus, usou recentemente grande parte do programa Domingo Espetacular, no horário nobre, para
atacar a imprensa e ameaçar o trabalho de repórteres.
Perguntinha: nenhum evangélico protestou contra a publicação do livro “
Bispo S/A”, pela editora católica Ave Maria?

Aliás, católicos, não é pecado falar mal assim dos outros?!...

E por que volta e meia algum evangélico dá uns chutes nalguma estátua de santo católico?

E por que esse clima de hostilidade entre uns e outros se Jesus, supremo inspirador e líder cristão, ensinou a dar a outra face?

E por que, cargas d’água, quando se fala em
ensino religioso nas escolas só se contempla o catolicismo/cristianismo? Como fico eu, que venero e rezo regularmente para Beavis & Butthead?

Num país pluricultural como o nosso, não podemos ser todos cristãos apenas por imposição dos primeiros portugueses que aqui chegaram (ué, e os índios que já estavam aqui ainda antes destes?!) ou daqueles que atualmente nos colonializam. You know...
Na constituição federal são atribuídos os exercícios sacerdotais à apenas três categorias religiosas: o Padre (sacerdote católico), o Rabino (sacerdote judaico) e o Pastor Protestante (sacerdote de confissão evangélica). Ficam de fora as religiões não cristãs (Islamismo, Budismos etc.) e religiões cristãs que estão fora da classificação de católicos e protestantes (Kardecismo, Umbandismo etc.).

Onde encontraríamos professores aptos a dar aulas democraticamente em todas as religiões, sem pender ideologicamente para um lado ou outro, já que em muitos casos elas são excludentes em suas visões?



Mais: a quem interessa – e com que finalidade política e econômica de longo prazo - o ensino religioso nas escolas?

Por que as religiões, de modo geral, não param com seu proselitismo exagerado, eletrônico impresso e agora judicial, em busca de mais e mais fiéis? São todos bonzinhos e querem salvar os desgarrados do rebanho?

Não. É porque as Religiões teriam muito a perder.


São “business” que movimentam muito, mas muito dinheiro.

terça-feira, 4 de março de 2008

FIGHT THE POWER!

Esse era o título de um hip hop do Public Enemy lançado na trilha sonora de Faça a Coisa Certa, de Spike Lee, em 1989.

Como o "poder" (sobre o que vai pra mídia, o que é mais indicado na internet e tudo o que nos empurram goela abaixo) hoje está nas mãos da imbecilidade generalizada (vide post abaixo, anterior), vamos à luta com duas sugestões de livros:

Trata-se de um alerta, como adverte o subtítulo “Uma análise pungente da (ir)realidade corporativa”. Especialista em comunicação, Luli Radfahrer analisa, de maneira bem-humorada, mas nem por isso menos séria, as distorções entre discurso e prática apresentadas nos livros de auto-ajuda.

A obra mostra a influência desses manuais para a formação de uma sociedade conformista, com pessoas descontentes com a vidinha que levam (mesmo que ainda não tenham consciência disso). Antes de derrubar o pragmatismo dos livros de auto-ajuda - ou aprimoramento profissional, estratégia corporativa, psicologia empresarial, recursos humanos ou biografia de negócios -, Radfahrer se propõe a fazer uma crítica social.

Uma possível atualização seria “A Arte da Guerra para O Monge e o Executivo, que cultivam Os 7 Hábitos das Pessoas Altamente Eficazes e sabem que Quem Mexeu no Queijo foi o Pai Rico”...rs...rs...

Numa improvável viagem em busca da “resposta definitiva”, seguem um coiote, um sábio taoísta, um bufão, um mestre zen, alguns cientistas e diversos palhaços...

Sabedoria Radical, de Wes “Scoop” Nisker, apresenta as idéias mais significativas, surpreendentes e instigantes da história. Neste best-seller clássico, Nisker reúne os ensinamentos radicais de visionários excêntricos como Albert Einstein, Rumi, Mark Twain, Buda, Lao-tsé, Jesus.

Ao contrário do conhecimento positivo, a sabedoria radical utiliza outra forma de assimilação e abordagem. Alguns chamam essa forma de intuição ou visão, que muitas vezes revela o saber que ultrapassa o entendimento. Os caminhos para a sabedoria radical, segundo o autor, passam pela prece, pela meditação, pela arte, poesia, natureza, narrativas e pelas canções despropositadas.

Descubra o fio comum a essas múltiplas perspectivas e faça uma viagem bem-humorada rumo à Iluminação!

segunda-feira, 3 de março de 2008

ANTIRRACIONALISMO E ANTIINTELECTUALISMO ARROGANTES


Trechos do artigo “Como emburrecer americanos - A venenosa mistura de antirracionalismo com ignorância sobrepuja as previsões mais apocalípticas sobre o futuro da cultura dos EUA, de Susan Jacoby*, publicada no jornal O Estado de S.Paulo de 02/03/2008 e que pode ser lida na íntegra
aqui.

É quase impossível falar sobre de que forma a ignorância da população contribui para graves problemas nacionais sem ser rotulada de "elitista", um dos mais poderosos pejorativos...

A mediocridade, para parafrasear o falecido senador Daniel Patrick Moynihan, tem sido continuamente definida, em várias décadas, por uma combinação de forças até agora irresistíveis. Essas forças incluem o triunfo da cultura do vídeo sobre a cultura impressa (e por vídeo quero dizer qualquer tipo de mídia digital, assim como as mídias eletrônicas antigas); um descompasso entre o nível em elevação da educação formal dos americanos e seu domínio titubeante de geografia, ciências e história básicas; e a fusão do antirracionalismo com o antiintelectualismo.

Primeiro e acima de tudo, entre os vetores do novo antiintelectualismo, está o vídeo. O declínio da leitura de livros, jornais e revistas é agora uma história velha. A falta de leitura é mais acentuada entre os jovens, mas continua a se acelerar e a afligir americanos de todas as idades e níveis de instrução.

Segundo um relatório divulgado no ano passado pela National Endowment for Arts, o hábito da leitura decaiu não apenas entre as pessoas com baixos níveis de instrução. Em 1982, 82% das pessoas com curso superior liam romances e poemas por prazer; duas décadas mais tarde, essa porcentagem era de somente 67%. E mais de 40% dos americanos com menos de 44 anos não leu um único livro - de ficção ou não-ficção - no decorrer de um ano. A proporção de jovens de 17 anos que não lêem nada (a não ser o exigido pela escola) mais do que dobrou entre 1984 e 2004. Este período de tempo, é claro, abarca o surgimento dos computadores pessoais, a navegação na web e os jogos de vídeo.

Será que isso importa? Tecnófilos ridicularizam as lamúrias sobre o fim da cultura escrita como a auto-absorção de (quem mais?) os elitistas. No seu livro Everything Bad is Good For You: How Today's Popular Culture Is Actually Making Us Smarter (Tudo que é Ruim é Bom para Você: Como a Cultura Popular de Hoje Está, na Verdade, nos Tornando mais Inteligentes), o escritor científico Steven Johnson nos assegura que não temos nada com o que nos preocupar.

Certo, os pais podem ver seus "filhos vibrantes e ativos olhando, silenciosamente e boquiabertos, para uma tela". Mas estas características de zumbi "não são sinais de atrofia mental. São sinais de concentração". Tolice. A verdadeira questão é o que crianças pequenas estão deixando de fazer e não no que estão se concentrando, enquanto estão hipnotizados por vídeos que já viram dezenas de vezes.

A diminuição do espaço da atenção pública fomentada pelo vídeo está intimamente ligada à segunda força antiintelectual mais importante na cultura americana - a erosão do conhecimento geral.

Segundo um levantamento de 2006 da National Geographic-Roper, quase metade dos americanos com idade entre 18 e 24 anos não acha necessário saber a localização de outros países nos quais importantes acontecimentos estão sendo objeto de notícia. Mais de um terço da população acha que "não tem nenhuma importância" saber uma língua estrangeira, e somente 14% consideram importante o conhecimento de línguas estrangeiras.

Isso nos conduz ao terceiro e último fator que está por trás do emburrecimento americano: o problema não é a falta de conhecimento em si, mas a arrogância em relação a essa falta de conhecimento. A questão não é apenas as coisas que não sabemos (considere o fato de que um em cada cinco americanos adultos pensa que o Sol gira em torno da Terra, segundo a National Science Foundation) - mas o alarmante número de americanos que, presunçosamente, concluem que não precisam saber tais coisas em primeiro lugar.

Chame isso de antirracionalismo, uma síndrome particularmente perigosa para nossas instituições e intercâmbio de idéias. Não saber uma língua estrangeira nem a localização de um país importante é uma manifestação de ignorância; negar que tal conhecimento importa é puro antirracionalismo.

Não existe uma cura rápida para esta epidemia de antirracionalismo e antiintelectualismo arrogantes. Esforços repetidos para elevar as notas dos testes padronizados abarrotando os alunos com respostas específicas para perguntas específicas em testes específicos não adiantarão. Além disso, as pessoas que são exemplos do problema geralmente não o percebem. ("Pouquíssima gente acredita ser contra o pensamento e a cultura", observou Hofstadter.) Já está mais do que na hora de uma discussão nacional séria sobre se nós, como uma nação, valorizamos verdadeiramente o intelecto e a racionalidade.

* A premiada escritora americana Susan Jacoby é autora, entre outros, de The Age of American Unreason. É colaboradora dos principais jornais americanos e ingleses.

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

GARANTIA ESTENDIDA - CUIDADO!

Um artigo no 1to1 Weekly da Peppers & Rogers Group (reproduzido parcialmente nos parágrafos abaixo) alerta sobre as más práticas de diversas empresas em busca do lucro fácil.
Sempre disfarçadas de modo a parecer “agregar valor” para o cliente, tais práticas não trazem verdadeiramente nenhum benefício ao consumidor, fazendo-o apenas gastar mais pelo mesmo produto.

O exemplo mais comum e um dos mais graves dessa tendência de comportamento são os programas de “garantia estendida”, oferecidos pelos varejistas com uma alta margem de lucro. Os web sites e blogs têm classificado essa atitude, quase unanimemente, como “fraude”.

Parece um valor pequeno, não é?

A Consumer Reports relatou, em dezembro de 2006, que os consumidores teriam gasto $1,6 bilhões até o fim de 2006 em garantias estendidas para eletrodomésticos e eletrônicos como TVs de plasma e laptops. Em muitos casos, o custo da garantia pode ser mais de 25% do preço total do produto.

Os varejistas insistem em oferecer garantias estendidas porque lucram mais com esse serviço do que com a própria venda dos produtos assegurados. Mas os dados da Consumer Reports mostram que os produtos raramente quebram no período coberto pela garantia estendida, que geralmente é de três anos.
Mesmo quando os aparelhos apresentam algum problema, geralmente o valor do conserto é o mesmo da garantia.

Bem, isso é lá nos EUA. Não sei os números daqui, mas recentemente adquiri dois eletrodomésticos através de televendas de uma grande rede varejista e o televendedor foi bastante insistente sobre a garantia estendida, mas declinei.

E você, anda pagando garantias estendidas? Ajudou em alguma coisa?




terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

VISÃO DE MARKETING

Dando um exemplo sobre a acuidade de argumentação e visão de mercado, um certo professor-coordenador de curso de MBA disse que “...não existe África, mas países da África...”, com o intuito de mostrar a enorme diferença entre eles, tratando-se de universos diferentes e, portanto, diferentes abordagens e estratégias de marketing. Continuando o exemplo com tal continente, pois tinha viajado por lá em suas férias, o professor comentou que esteve no Egito. “Que desenvolvimento!”, exclamou. “África do Sul, então, primeiro mundo! Angola, fim do mundo...”, completou.

Hmmm, não é bem assim...

Angola, país que se auto-destruiu numa guerra civil, está em plena reconstrução. O grupo imobiliário de Amarante - Taminvest – vai investir 230 milhões de dólares (160 milhões de euros) em Angola em dois empreendimentos habitacionais e turísticos de grande dimensão. São dois loteamentos com alguns milhares de habitações, unidades de comércio, equipamentos desportivos e recreativos, que vão gerar dois empreendimentos de luxo, a construir próximo das cidades de Benguela (Blue Ocean) e de Luanda (Bom Jesus), neste último um investimento de 80 milhões de dólares em infra-estruturas, a edificar numa área de 550 hectares.

O Blue Ocean (Praia Azul), nos arredores de Benguela, tem previsto mais de 300 hectares de área edificável (cinco mil habitações de várias tipologias), a implantar em terrenos com mais de 1.300 hectares, com um investimento de 150 milhões de dólares neste empreendimento de luxo, que fica situado a 18 quilômetros de Benguela e inclui serviços de hotelaria, um campo de golfe e uma marina.

Na feira Constrói Angola, realizada anualmente, projetos com residências cujos preços ultrapassam os 2 milhões de dólares disputam espaço e clientela. O Arte Residencial Yetu, da Odebrecht, por exemplo, já vendeu 80 por cento dos apartamentos ainda em construção. Os preços variam de 600 mil a 2,2 milhões de dólares. Ou seja, cada metro quadrado da residência custa 5 mil dólares. As obras iniciaram em Agosto último e terminam em 2009.

Com 16 torres e 76 unidades residenciais, o investimento está orçado em 70 milhões de dólares. Já o Belas Business, outro projeto imobiliário da Odebrecht, cujo fim da primeira fase está previsto para Dezembro de 2008, tem quase todos os apartamentos vendidos, segundo a gerente de incorporações imobiliárias, Túlia Ribeiro. Conforme a dimensão, os preços do apartamento variam de 450 mil a 900 mil dólares. A primeira fase do projeto compreende quatro torres com 112 unidades residenciais, prevendo construir 400 apartamentos até 2012. No total, o empreendimento vai consumir 400 milhões de dólares.

O Futungo Village, um condomínio fechado a Sul de Luanda, do grupo Imocom, expõe o seu projeto com 60 tipos de imóveis já vendidos. Trata-se de vivendas vendidas a 1 milhão e 690 mil dólares e a 1 milhão e 990 mil dólares.

E tudo isso tratando-se apenas de um setor – o de construção civil – como exemplo.

Um país carente de tudo, em tempos de mercados hipersaturados, é uma oportunidade quase inimaginável para todas as empresas e profissionais de marketing com um mínimo de visão.

Bem, talvez não para acadêmicos...

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

QUE MARAVILHA...


Você acreditou, você se entusiasmou, panfletou por e-mail, e vibrou com a inclusão do Cristo Redentor entre as Novas Maravilhas do Mundo.

Segundo estudos feitos na época, a vitória do Cristo injetaria US$271 milhões na economia do Rio e criaria 250 mil empregos.


A campanha, que durou quatro anos, com manifestações de apoio do presidente Lula e dos governadores de São Paulo, José Serra, e de Minas Gerais, Aécio Neves, ambos do PSDB, contou com investimentos da Bradesco Seguros e Vale do Rio Doce.

Só durante a visita do papa Bento 16 ao Brasil, foram distribuídos 2 milhões de folhetos, além de 1,5 milhão de cartazes para serem postos nas paróquias.

Somando recursos públicos, como os R$ 85 mil do Ministério do Turismo, e privados, a campanha parece ter custado em torno de R$ 5 milhões.

E aí?!
Mudou alguma coisa?


quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

HOTÉIS QUE "ACEITAM" CÃES - MENTIRA!


Em meio à grande concorrência entre hotéis e pousadas nas mais variadas cidades turísticas, no litoral, campo ou montanha, é comum os administradores desses negócios recorrerem a promoções, eventos, descontos e buscar diferenciais competitivos na luta pela atenção dos consumidores em férias, finais de semana ou feriados.

Nessa guerra cada vez mais acirrada, alguns desses estabelecimentos descobriram o universo dos proprietários de cães que preferem levar seus pets em suas viagens. É fácil encontrar em sites especializados em animais de estimação listas de hotéis e pousadas que propagandeiam aceitá-los em suas dependências. Algumas dessas listas, elaboradas mais conscientemente, até estabelecem uma hierarquia de aceitação animal, indo do “aceita sem restrições” ao “somente animais de colo, no canil”, passando por outras distinções.

O problema é que além dessas listas estarem sempre defasadas, a propaganda em torno da aceitação do animal é bastante enganosa (ou seriam minhas expectativas quanto a isso muito elevadas?...). Como cachorreiro, dono de uma mini Schnauzer e uma Shih Tzu, já passei por situações nada agradáveis mesmo escolhendo lugares com áreas gramadas, quartos com piso frio, quartos mais ao fundo e com pequenos quintais.

Certa vez, mesmo tendo telefonado antecipadamente para saber sobre as regras para os bichos numa pousada em Ilhabela que anunciava aceitar cães irrestritamente, fui surpreendido ao lá chegar com uma lista de “senões” afixada no lado interno da porta do quarto. Em resumo, os cachorros só poderiam sair dos quartos no colo e serem colocados no chão lá na rua.

Noutra, que apareceu em recente edição da revista Veja e que por telefone nos disseram que os cães poderiam transitar no chão, outro problema: os bichos não poderiam ficar nas áreas da piscina nem das mesas de café da manhã. Ora, mas além dessas só havia o quarto!

Pior: as meninas da recepção nos trouxeram uma reclamação de outro hóspede (também cachorreiro, com seu cão no quarto de cima) sobre latidos e uivos. Ora, quando se decide ficar numa pousada que aceita cães isso é de se esperar e nem deveria ser considerado inconveniente. O barulho de crianças correndo no piso de madeira e adultos gritando com seus filhos fazem naturalmente qualquer cão dar alarme latindo. Se há uma preocupação tão grande quanto ao silêncio, ela deveria começar com os humanos.

Aliás, existem pousadas que de tão preocupadas com a tranqüilidade de seu hóspede nem aceitam crianças...

Sinto-me vítima dos colegas profissionais de marketing, publicitários autores de anúncios, dessas listas e matérias sobre aceitação de animais em hotéis e pousadas.

Tendo estado em vários desses estabelecimentos, jamais vi qualquer estrutura especialmente preparada para tal nem profissionalismo dos funcionários em relação aos hóspedes de quatro patas.

Já é hora do pessoal que trabalha com animais ou talvez os Kennel Clubs por aí estabelecerem uma lista única, oficial e criteriosa, que oriente verdadeiramente o cachorreiro no momento de decidir sua viagem.

Hoje, como as coisas são feitas, não existe um hotel ou pousada que aceite verdadeiramente hóspedes de quatro patas no Brasil.

quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

A IGREJA E A PÍLULA

De repente, num certo dia de verão, uma equipe de advogados do Esporte Clube Corínthians resolve entrar com representação judicial solicitando à Promotoria de Justiça da República (nem sei se isso existe) que seja proibido a qualquer cidadão brasileiro o uso de roupas em tons de verde.

Ah, você está rindo, não é?! Delírio puro, você deve ter pensado.

Mas isso não é muito diferente do que fez a Pastoral da Saúde da Arquidiocese de Olinda e Recife com sua representação judicial solicitando a proibição da tal “pílula do dia seguinte” durante o carnaval no estado.

Ainda que tenha enorme peso a eterna polêmica ética e jurídica sobre o início da vida e o direito da mulher, que deveria ser uma discussão laica, lembrando o exemplo futebolístico acima pergunto: com quê direito uma agremiação (e os católicos são apenas uma agremiação, porém bem grande) pode querer proibir algo a todos os cidadãos, incluindo aqueles que NÃO pertencem aos seus quadros?

Se a Igreja Católica entende que a tal pílula anticoncepcional de emergência é crime e convoca todos os seus seguidores a não utilizá-la, tudo bem. Mas deixem os demais em paz!

Se isso fosse permitido, se cada grupo religioso começar a dar entrada em processos judiciais tentando usar a força da lei em favor de seus pontos de vitas e princípios, o caos rapidamente se instalaria.

Logo, umbandistas iriam querer estender a todos alguns de seus rituais com galinhas mortas, budistas tibetanos iriam exigir que parte das programações da rádios fosse composta por mantras, muçulmanos iriam obrigar a todos que se ajoelhassem em direção à Meca nos finais de tarde, islâmicos iriam fazer todos jejuarem no mês do Ramadam e jurar sobre o Corão em julgamentos, tantristas iriam querer Carnaval o ano todo...

Aliás, carnaval nem pensar!
Todas as mulheres teriam de usar burca...

segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

PRODUTO X MARKETING

Aqueles que trabalham com desenvolvimento de produtos – como eu trabalhei por anos – sabem da difícil luta contra as demais áreas da empresa que têm de enfrentar.

É duro trabalhar com desenvolvimento de produtos e nunca conseguir lançar “aquele” produto por causa das imensas barreiras que as mentes menos brilhantes teimam em colocar na sua frente, não é mesmo?

Querendo elaborar o melhor dos produtos para o seu mercado, é preciso se desdobrar e gastar muita energia contra as negativas das áreas Técnicas, os problemáticos questionamentos das áreas Operacionais, os intrincados cálculos dos Financeiros, as exigências das áreas Comerciais, os palpites aleatórios e contaminados por gostos pessoais das Diretorias...

Steve Jobs, à frente da Apple, trouxe a empresa de volta aos lucros e a um patamar que, apesar de criticada por muitos, é cultuada quase como religião.

Mas o que faz de Jobs Jobs (e da Apple, Apple)?

"Na Apple, quando as pessoas têm a visão de um bom projeto, elas o perseguem sem medir esforços", disse a VEJA o diretor de design da Philips, Oscar Peña.

Outro especialista, Mark Rolston, da californiana Frog Design, complementa: "Na grande maioria das empresas não é isso o que ocorre. Em geral, um produto é definido a partir do que é mais barato ou, pior, com base no que é mais conveniente".

Em uma de suas raras entrevistas, concedida à revista Time, Steve Jobs resume o seu segredo e o da Apple: "Todo fabricante de automóveis gosta de exibir seu ‘carro-conceito’, que deixa a imprensa e os consumidores de queixo caído. O problema é que, quando ele finalmente é lançado, quatro anos depois o carro é um lixo. O que acontece? Ora, o designer tem uma peça maravilhosa nas mãos, mas os engenheiros simplesmente não conseguem fabricá-la em série. Na Apple, nós conseguimos".

Ou seja: se fosse uma indústria automobilística, a Apple colocaria nas ruas HOJE, antes de toda a concorrência, aqueles carros-conceito que só ficam em salões de automóveis e em nossos sonhos.

Como? Não tente o truque em sua própria empresa. "Os engenheiros vêm com 38 razões para matar nossas melhores idéias, e eu digo a eles que não aceito ‘nãos’ porque eu sou o chefe e sei que aquilo pode ser feito como eu quero", disse Jobs na mesma entrevista.

Não se engane:

- a Apple NÃO é uma empresa voltada a “produtos”, em se falando de estratégia de negócios. É uma empresa voltada ao marketing, pois seus produtos, tecnicamente falando, não são páreos para os muitos concorrentes, que além de tudo são mais baratos (ou menos caros);

- conseguir o que Jobs consegue diante de seus engenheiros pessimistas só é possível porque é ele quem manda. De nada adiantaria um gerente espernear de lá de sua média gerência se o presidente da empresa não estiver na mesma linha de raciocínio.

Conclusão meio óbvia: áreas de desenvolvimento de produtos são estratégicas e não devem permanecer sob tutela e arreio de uma ou outra Diretoria, mas sim estar ligadas diretamente à Presidência.

É preciso “poder para poder fazer”.

Utilizando trechos da reportagem na Veja dessa semana.

quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

EM BUSCA DE NOVOS DESAFIOS

Há muitos textos e até livros criticando os neologismos e o modo como falam os executivos.
Existem até pequenos programinhas ou tabelas em que você pode misturar uma série de palavras que, juntas, formam frases que são ouvidas constantemente em reuniões executivas – e não dizem absolutamente nada.

Leio o jornal de hoje e vejo que um superexecutivo deixou uma certa empresa de TV por assinatura “em busca de novos desafios”.

Essa expressão deveria constar entre as bobagens que muitos falam como um eufemismo, em minha opinião, hipócrita e bem pouco eficiente.

A todo momento lemos artigos sobre o excesso de exigências nas empresas, o olhar aterrorizador dos acionistas em busca de retorno imediato, avaliações de desempenho, excesso de horas semanais trabalhadas, concorrência cada vez mais acirrada, teorias de administração que não param de brotar, o estresse tomando conta de todos, as mudanças constantes nos mercados em evolução que não deixam ninguém dormir direito...

Ora, se é assim, então como alguém pode se sentir pouco desafiado? Algum executivo pode se queixar de tédio atualmente?

Eu duvido que seja lá quem for busque, verdadeiramente, novos desafios. A pessoa busca novas situações, novos rostos, novos ambientes e, com certeza, segurança, conforto, natural para qualquer espécie viva nesse planeta. Para isso, é necessária a estabilidade... E, no caso humano-capitalista, dinheiro.

Porque ninguém diz, COM SINCERIDADE, que está desempregado? Tentando retornar ao mercado de trabalho? À procura de um salário melhor? Ou de um lugar pra trabalhar menos horas por semana? Que quer mais tempo pra ficar com a família? Ou que quer a maior distância possível do último chefe? Que não consegue mais acordar de manhã e ir pro mesmo lugar, mesma mesa e mesmos problemas todo dia?

Alguém AINDA acredita nessa expressão?

segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

ENTREVISTAS DE SELEÇÃO

Entrevistas de emprego são, muitas vezes, surreais. A quase totalidade delas utiliza o método MEQuEG – Me Engana Que Eu Gosto.
Fala sério: qual a resposta HONESTA para “onde e como você se vê daqui a cinco anos?”. A resposta-padrão deve ser algo como “ocupando a cadeira de diretor...”, “tornar-me um profissional reconhecido pelo mercado...”, “estar dirigindo meu próprio negócio” e coisas do tipo.
Ora, minha vontade é dizer que não tenho bola de cristal e, apesar de não ser míope, não enxergo tão longe assim. No máximo, posso dizer que espero estar vivo, com saúde e curtindo uma paz interior. Se estiver assim, os demais aspectos de minha vida com certeza estarão em ordem.
Invariavelmente, todos perguntam “...como anda seu Inglês?”. Minha vontade é dizer que ele anda em linha reta, cabeça erguida, fleumático como de costume mas que não tem nada de “meu”, sai prá lá que sou espada. Desde minha primeira entrevista, há mais de 20 anos, me perguntam isso. Nunca precisei usar o Inglês no trabalho, apesar de poder fazê-lo se quisesse.
Talvez a pior pergunta seja “porque devemos contratá-lo?”. A resposta franca: porque estou
desempregado e as contas não param de chegar. Simples, direta, honesta. Mas não é isso que querem ouvir: você precisa elaborar um argumento qualquer sobre suas qualidades, sobre o que você pode fazer pela empresa, que conhecimentos traz e pode aplicar aprimorando resultados...blá...blá...blá.

O mesmo se aplica a uma variação da pergunta acima: “qual seu diferencial em relação aos demais?”. E eu lá conheço os demais?!? Como vou saber quais das minhas centenas de milhares de qualidades não foi pirateada pelos invejosos concorrentes?
“O que você procura nesse novo emprego?”. O salário, minha filha, o salário! Mas o correto é dizer que busca novos desafios, desenvolvimento profissional e chances de contribuir com a empresa e crescer com ela. Que lindo...
Já te encostando contra a parede antes mesmo de contratá-lo, enfiam-lhe esta: “trabalha bem sob pressão?”. Resposta bacana: 
sim, eu sou uma “Lares” em pessoa (alguém lembra do comercial com o casal nipônico?). Ok, Lares é meio antiga e acho que a profissional de RH, se não tiver mais de 40, não vai entender. Diga então que você é meio como uma Clock ou Penedo.
É claro, é óbvio, é humano não gostar nem um pouco de trabalhar sob pressão, mas sua resistência à ela é bem vista no mundo corporativo, além de já deixá-lo pré-avisado de que aquele maluco que vai ser teu chefe berra como louco pelos corredores. Alguns até dizem gostar de pressão, sob a desculpa de que assim produzem melhor... Assim como burros puxam mais rápido as carroças quando chicoteados.
Aí chega a hora fatal, o golpe de misericórdia: “cite um defeito e uma qualidade sua”. A saída que a maioria procura para essa enrascada é dizer que seu defeito é ser exigente demais ou perfeccionista (rs...rs...rs... eu não agüento) e sua principal qualidade pode ser uma entre entusiasmo, persistência, dedicação, responsabilidade e competência técnica (o mundo não me descobriu ainda...).
Sabendo que essas perguntas clássicas são utilizadas desde os tempos de Noé – ele acabou não contratando ninguém pois todos responderam honestamente e construiu a Arca sozinho – e as respostas desejáveis são encontradas aos montes na internet, por que continuam a utilizá-las? Preguiça? Falta de imaginação? Querem verificar se o candidato decorou direitinho as respostas que leu nos sites de RH?
Ou querem perpetuar esse mundo de faz-de-conta?



segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

MACACO VÊ, MACACO FAZ



A expressão em inglês “monkey see, monkey do” é usada quando se quer passar a idéia de alguém que imita algo - ou alguém - em ações, assim como os macacos fazem. Se observarmos os macacos do zôo vamos notar que se um deles coça a cabeça, os outros também o fazem. Faz parte do instinto deles, e de muitas pessoas também.

Eu estava pensando sobre isso durante a virada de ano: quanto idiota há nesse mundo disposto a literalmente queimar dinheiro com rojões. Falo de rojões mesmo, aqueles que só fazem barulho, muito barulho e mais nada, e não dos fogos de artifício, que também fazem barulho mas ao menos oferecem um adicional espetáculo aos olhos.

Não venha me dizer que rojões são um espetáculo aos ouvidos, por favor...

Duvidando que as pessoas realmente gostem do barulho, comecei a teorizar que essa imbecilidade se perpetua por pura imitação e nunca alguém resolveu parar pra pensar na cretinice que estava fazendo.
Agora vejo no Fantástico
crianças se divertindo em touradas. Não na platéia, mas como toureiros!

Os mini-toureiros mexicanos falam da adrenalina enfrentando os touros. Adrenalina de verdade é atravessar as duas pistas da 23 de Maio na hora do rush de olhos vendados! Isso eu queria ver...

Importada da Espanha, a tourada virou mania doentia no México assim como os rodeios, importados dos EUA, viraram mania entre os jecas tupiniquins.
É bem possível que, como ainda muitos pensam que tudo que é importado é melhor, em breve tenhamos touradas também aqui no Brasil.

É interessante notar que, apesar da evolução ser um processo natural, muitos de nós humanos combatemos essa força da natureza e nos esforçamos para continuar ignorantes bárbaros.

Esfolar, picar, sangrar, esfaquear um animal é bonito? Ver sangue jorrando e um animal agonizando para sua diversão é digno de uma raça que se diz “superior, racional e inteligente”?

Por que não aceleramos de vez esse processo de INvolução e reeditamos os espetáculos das arenas romanas nos quais pessoas enfrentavam tigres e leões verdadeiramente à unha, sem armas?

Por que só os animais podem morrer para nossa diversão?

Precisamos parar de imitar comportamentos, manias e imbecilidades do passado e passarmos a usar nosso bendito cérebro (mesmo que seja apenas 10% como alguns ainda acreditam) para criar ou adotar comportamentos mais adequados ao mundo que desejamos mas fazemos muito pouco para alcançar.

quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

QUER CRUZAR?


Eu sou cachorreiro.
Para os que não conhecem o termo, cachorreiro é alguém que curte cachorro (bastante óbvio, não?!). Mas “curtir” cães é um termo abstrato. Afinal, o que é curtir um cão?

Tenho duas cachorrinhas, ambas com quase seis anos. Para mim, elas são “minhas meninas”. Segundo alguns especialistas, trato-as de maneira flagrantemente equivocada, como se fossem humanas. Mas e daí? Nunca tive problemas, nem elas.

Desde pequenas eu as levo diariamente em praças perto de casa, onde as solto, deixo andarem livres, correrem e fazerem suas necessidades (que recolho, sempre).

Nessas praças da cidade, cada passeio é uma confraternização. Cães correndo pela grama, seus donos nos degraus ou bancos, conversando. Apesar de, eventualmente, descobrirmos que entre nós há um médico, advogado ou professor universitário, ali humanos não têm nome nem profissão, mas a maioria sabe os nomes dos cachorros dos outros. “Olha Bebê (é o nome de um Fox paulistinha), um au-au amigo”, “Docemel, vai brincar com o Salomão, vai”, “Olha lá, Biba, é o Ship, corre”.

Sei, sei, coisa de louco...

Mais louco ainda é perceber que, mesmo entre os que amam seus cães, muitos ainda se aproximam e perguntam se quero “cruzar” minha schnauzer. Tirando um ou dois que apenas queriam aliviar a tensão de seus pequenos machos, a maioria vem com esse papo por interesses financeiros. O costume é o dono do macho ficar com ao menos um filhote que, em petshops, vale mais de mil reais.

E argumentam que a vantagem é toda minha, pois lucraria muito com os outros possíveis três, quatro ou cinco filhotes.

Qual a diferença em perguntar “Ei, você tem filha maior de idade? Não quer cruzá-la e depois vendemos seus netos?”.

Num passado não muito distante, era legítimo, legal, lucrativo e aceito por toda a sociedade vender pessoas de pele escura, roubadas do continente africano. Era particularmente lucrativo engravidar mulheres negras muitas vezes à força e vender seus filhos mais fortes e sadios, separando famílias assim como fazemos hoje com cães, gatos e todos os outros animais.

Evoluímos (muito pouco) e proibimos isso. Quando será que daremos definitivamente mais um passo na evolução e passaremos a tratar animais como iguais em direito à vida e individualidade?

No excelente artigo “Coisas que possuem mente”, Luciano Carlos Cunha argumenta que “...Tratar um indivíduo que possui mente como se fosse uma mercadoria é rebaixá-lo ao estatuto de coisa, é mostrar desrespeito pelo seu valor inerente...” e lança a pergunta: “...por que respeitar um interesse de não ser usado como uma coisa, de não ser escravizado, em um ser de nossa espécie, e não no de outra? O que nos torna tão especiais?”.

A cada dia a ciência apresenta mais resultados de estudos comprovando a proximidade biológica e até mental entre animais humanos e não-humanos.

Está mais que na hora de, como no comercial, revermos nossos conceitos.

Para quem quer entender um pouco mais sobre esse ponto de vista, antes de comprar um cão ou gato em pet shops ou abandonar o seu, recomendo "Terráqueos".