quinta-feira, 6 de outubro de 2011

VÍCIO


Vício...
É assim que chamamos algo oposto à virtude.

Segundo Margareth Mead, “A virtude é quando se tem a dor seguida do prazer; o vício, é quando se tem o prazer seguido da dor”.

Não se deve confundir ingenuamente vício com mania. Vício é aquilo que lhe perturba clamando por satisfação, como uma voz que não lhe deixa pensar direito, que lhe rouba a atenção que deveria ser voltada a coisas importantes, mas não, ele incomoda tanto quanto possível enquanto você não para tudo e vai lá satisfazer seu vício.

Você esquece compromissos, perde horários, fica desatento com coisas e pessoas por causa do vício.

Para a psicologia comportamental o vício é resultado de uma construção orgânica, desencadeada pelo reforço de uma relação entre estímulo e prazer químico, ou ainda, é uma questão puramente biológica, em detrimento da abordagem simbólico-linguística que a psicanálise Lacaniana enuncia.

O vício é como a Serpente no Paraíso. Ele o persegue, tenta-lhe por todos os lados, destrói sua resistência, derruba ordens de Deus e faz com que você, debilitado, atenda-lhe.

O vício escraviza. Alguns até conseguem largar o cigarro, outros se tratam e acabam vencendo o álcool, mas do Vício, com V maiúsculo, ainda não se tem notícia de que alguém tenha escapado.

Eu tento resistir, me seguro à cadeira, tento pensar em qualquer outra coisa mas ele invade minha mente, distorce minha visão, bloqueia minha audição, retorce meu estômago, fraqueja minhas pernas...

Eu tento, me esforço de verdade, mas já não posso mais resistir...

Doritos Dipas é foda!

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

OLHA A FILA...



Estava ontem na fila do América para almoçar e não paravam de chegar idosos e casais novos com bebês (em carrinhos, dormindo) e todos passavam em nossa frente “por uma questão de prioridades”...

Ora, os bebês dormiam em seus carrinhos, não estavam no colo de uma grávida. Sossegados, nem iam almoçar ali – seus almoços estavam ou no peito da mãe ou na enorme bolsa que carregavam.

No extremo oposto, idosos que passeiam pelo shopping não devem estar tão mal de saúde assim, certo? Aquelas caras de cansaço e dor só faziam na porta do restaurante. Bastava a moça mandar entrar que a fisionomia mudava, entravam sorrindo e saltitantes.
Aposto que alguns deles até corriam a São Silvestre... Mas na porta do restaurante, oh, dor, oh vida...

Eu havia reparado bem, muito bem, na fila e sabia exatamente a ordem de chamada, mas minha vez nunca chegava. Quando a mocinha parecia que ia nos chamar, lá vinha mais um casal com bebê ou crianças e passavam na nossa frente.

A tal mocinha olhava pra nós, parecia que era a hora, mas não, lá vinha uma família quase que carregando uma senhora (que depois de almoçar vi andando saudavelmente pelo shopping, admirando as vitrines). Pô! Parecia que tinham aberto as porteiras do berçário e do asilo ao mesmo tempo!

Acho que vou montar um novo negócio: “aluguel de bebês e idosos” para pessoas que gostariam também de poder desfrutar desse tipo de vantagem em bares, bancos, supermercados.

Ah, um detalhe: não estava usando nada, mas me recupero ainda de uma dolorosa torção no pé. Será que a mocinha teria acreditado em mim? 

Da próxima vez que for ao shopping em horário de pico, vou de RobotFoot...

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

EU QUERO TER UM MILHÃO DE CONTATOS...

Olá leitor.
Há tempos estou sumido do blog, não é mesmo?

Eu sempre disse que mudança de endereço é um pesadelo e reforma de imóvel é um inferno. Pois bem, tive um "pesadelo no inferno": tive de me mudar e o imóvel para onde vim ainda estava (está...) em fase final de reforma...

A empresa que fez minha mudança (nada nada barata) bem que poderia se chamar Tsunami. E o pessoal da reforma, apesar de coordenados por um arquiteto, são como praticamente todo tipo de prestação de serviços aqui no Brasil: deixam muito a desejar. Falta de programação, marcam certa hora e chegam três horas depois (isso quando vem no mesmo dia), serviços que precisam ser refeitos (por terem sido mal feitos ou mal pensados previamente), desperdício...

Isso sem falar que saí de um imóvel enorme e vim tentar me encaixar num bem pequenininho. Ainda há caixas de papelão que não tenho vontade nem energia para mexer.

Mas não era isso que eu gostaria de postar hoje. O assunto é outro.

Eu me retirei, há tempos, do Orkut e do Facebook. Me chamem do que quiserem, mas eu realmente não via nada de bom nem de interessante nessas redes. Cansei de ver posts sobre o que fulano tomou no café da manhã ou fotos do cachorro de sicrano dormindo. Sinceramente, achava pura perda de tempo.

Mantive meu perfil apenas no LinkedIn, rede mais voltada ao "profissional" (ou assim eles pensam ser) e oportunidades de trabalho e negócios.

Mas mesmo no LinkedIn tenho notado coisas que me deixam com uma pulga atrás da orelha: tem pessoas que parecem "colecionar" contatos como se fossem figurinhas, selos ou chaveiros. Apesar de haver estudos (científicos, dizem os autores...hmmm...) mostrando que pessoas conseguem na verdade administrar uns 150 "amigos", tenho visto gente que passa em muito esse número.

O que fazem com tantos contatos? Eles contatam todos os contatos ou guardam para uma possível necessidade no futuro? Com tantos contatos, a pessoa se lembra de todos que tem? Se relacionou com todos eles ou apenas "adicionou" (ou seja, colocou na coleção)? Porque diversas pessoas, as quais não conheço e nem atuamos em áreas semelhantes, querem me adicionar? E depois de "me adicionarem", nunca me contatam para nada? Nem trocamos nem uma piada sequer!

E não só isso: algumas pessoas além de colecionarem contatos de modo obsessivo também seguem tantas empresas ou produtos que acredito que o dia delas tenha mais horas que o meu. Sei lá, talvez o tempo flua de modo diferente na dimensão que essas pessoas vivem. Para seguir com atenção tudo o que clicam em "seguir" o dia para mim teria de ter ao menos 52 horas... Ou então não tem outra coisa a fazer...

Não estou aqui criticando as redes sociais em si, isso é assunto para sociólogos, psicólogos e especialistas diversos, observadores da atualidade, mas o modo como algumas pessoas as usam. Duvido que tirem real proveito de suas coleções de contatos ou coisas que seguem. 

Alguém já disse que o mais importante é a qualidade e não a quantidade. Nesse caso, seria a qualidade das relações que mantem (ou pensam manter).

Enquanto colecionam contatos e seguem desesperadamente quase qualquer coisa, algumas pessoas não devem saber disso...

terça-feira, 3 de maio de 2011

ATÉ OS GIGANTES ERRAM...

Por formação e também por hábito, desde os tempos de faculdade eu costumo “ler as entrelinhas”  dos anúncios e comerciais, mesmo não acreditando nas mundialmente famosas mensagens subliminares (que todo meio publicitário insiste dizer que não existe – ora, se não existe, porque tanto esforço em negá-las?). Não acredito também nas teorias conspiratórias sobre controle da mente pela mídia. Isso na verdade acontece, mas com quem tem miolo mole...

Mas o caso abaixo não foi nem um nem outro, foi apenas uma “bolaça” fora, aprovada por clientes endinheirados e diretores de criação enfastiados. 

Notem a frase que fecha o comercial:


Não notou nada?...
Pois é: as mulheres evoluíram evoluíram, evoluíram... E agora parecem homens. Só falta deixar crescer a barba.

Mesmo sendo um representante da ala masculina, tenho sérias dúvidas de que isso é “evolução”. Charles Darwin deve estar se revirando na tumba...

Será que as milhões de donas de casa se identificaram com o trio aí?

Será que nós homens também vamos evoluir, evoluir, evoluir e... Ai meu bem, essas “luzes” em seu cabelo ficaram ótimas, hein!?




sábado, 23 de abril de 2011

A Origem da Páscoa – versão Science Fiction



Em um lugar remoto do Universo, Pahz Khoa, um ser poderosíssimo, observava.

Com um tamanho 200 vezes maior que o Sol, sua razão de existir era manter os planetas livres de doenças, de vermes parasitas que pudessem colocar em risco seus equilíbrios naturais, seus ecossistemas.

Por zilhões de anos Pahz Khoa manteve a ordem e limpeza nos planetas de vários sistemas solares. Bastava ver que um planetinha começava a ficar infestado de vermes, pimba!, lançava seus raios cósmicos-megaplasmáticos, eliminava toda a infecção do planeta e tudo voltava ao normal.

Certa vez, meio sem querer, Pahz Khoa notou que num planetinha azulado comaçava a proliferar uma peste bípede. Eram serezinhos bem desprezíveis, não traziam nada de bom ao planeta mas se achavam os reis da cocada preta, se sentiam o centro do Universo, como se este tivesse sido criado para eles.

Pahz Khoa abriu sua planilha de projeção de evolução de espécies em seu iPaedh e se assustou quando viu que, em pouco mais de 2.000 anos – um piscar de olhos para ele – aquela especiezinha nojenta iria colocar o planetinha azul em sério risco.

Ele já preparava sua pontaria quando em seu smarthphoneae um alarme soou. Era um aviso sobre uma das regras do manual de limpeza e conservação do Universo: antes de eliminar uma espécie, ele precisava verificar, observar de perto se realmente deveria acabar com ela.

Mas havia dificuldades nesse caso. O planeta era muito pequeno, os seres da peste bípede que o infestava eram minúsculos, difíceis de enxergar. Pahz Khoa já tinha alguns trilhões de anos e sua vista andava meio cansada...

Então ele teve uma ideia: utilizando-se de seus incomensuráveis poderes e controle absoluto sobre suas formas e células, como que num processo de mitose fez com que um minimicrominúsculo pedaço de si mesmo cruzasse o espaço sideral e se depositasse dentro de uma fêmea da praga, emprenhando-a. Assim ele se transformaria num daqueles seres e poderia observá-los bem de perto.

O microscópico pedaço de Pahz Khoa nasceu como um ser daquela espécie prestes a ser dizimada, viveu entre eles e andou aprontando algumas interferências não permitidas, como fazer cegos enxergarem, levantar mortos das tumbas e transformar água em vinho numa festa repleta de menores de idade.

Ao ficar sabendo disso, seu chefe no departamento de limpeza universal ficou furioso. Mas antes que pudesse ser julgado e punido pelas interferências não autorizadas, Pahz Khoa fugiu, sumiu no espaço sideral.

O chefe, não conseguindo encontrá-lo em nenhum canto do Universo, pensou numa maneira macabra de fazê-lo aparecer: iria manipular os seres da praga naquele planetinha azul de modo que prendessem e torturassem da maneira mais cruel, sádica e sanguinária aquele ser que era na verdade um pedacinho de Pahz Khoa.

Como num vudu cósmico, imaginava que espetando, esfolando, chicoteando, esfacelando, esgarçando a pele daquele serzinho Pahz Khoa também sentiria o mesmo tormento e, não aguentando, retornaria para ser julgado.

Não adiantou nada. Pahz Khoa continuou desaparecido nos confins do Universo, nunca mais voltou. O chefe dele, por essa interferência também indevida, foi punido e teve de deixar o cargo.

E lá, no planetinha azul, a praga continuou sua marcha rumo à devastação.

quinta-feira, 10 de março de 2011

ANTICLIMAX


Em cursos superiores ou de especialização e em MBAs na área de marketing, todos que puderam estar em suas salas de aula viram como as estratégias de abordagem ou alcance do consumidor mudaram.

Há algum tempo, muito mais que as qualidades do produto ou serviço em si, fala-se muito da experiência do consumidor com aquilo que ele adquire. Essa tal experiência não trata apenas do uso ou manuseio do produto ou serviço, mas algo muito mais abrangente. Para não me estender demais, diria que começa na aparência da loja, seja ela real ou virtual e vai até além do pós-venda. Se tudo der certo, nem termina.

Há poucos, infelizmente, muito poucos casos assim, em que todas as ferramentas de marketing são utilizadas com maestria em sua máxima potência.

Quem já comprou algo numa Apple Store, como a da 5ª Avenida em Manhattan, sabe do que estou falando. A loja é um show à parte, os atendentes muito bem treinados e solícitos, você pode experimentar, manusear os produtos ali nos diversos balcões e se comprar um iPad, por exemplo, terá uma aula de como ligá-lo e configurá-lo. Ao adquirir um aparelho desses é como se você passasse a fazer parte de um universo singular, um “clube”, e tem uma infinidade de programas para baixar, testar, comprar. A experiência começa antes de você entrar na loja e, de certo modo, não termina nunca.

Outro exemplo – e era desse que eu queria falar – é da Nespresso. Você com certeza já deve ter visto uma de suas lojas com ambientação sofisticada, as máquinas muito bem expostas, atendentes muito bem vestidos e treinados, as cápsulas de cafés decorando as paredes...

Ali também a experiência começa antes mesmo de entrar na loja e, novamente, se tudo der certo, nunca termina. Aqui você também tem a sensação de passar a fazer parte de um grupo seleto, recebe até um cartão (uma carteirinha do clube?!) para suas futuras compras de cápsulas de café pelo teleatendimento ou internet. Eles entregam em casa.

Os materiais impressos que acompanham as máquinas e as cápsulas de café são de muito bom gosto, excelente layout, ótima qualidade de papel. Folhetos explicativos, manual da máquina, estojo para cápsulas. Tudo lhe é entregue mediante explicações pacientemente detalhadas dadas pela atendente, mesmo que a loja esteja transbordando de clientes. Haja sangue frio...

Então você está feliz, comprou sua Nespresso, comprou também uma caixa com todos os dezesseis tipos de cafés que suas papilas gustativas jamais conseguirão diferenciar totalmente, não vê a hora de ler todo o manual sobre as moagens e combinações de Arábicas com Robusta e acomodar as cápsulas naquele estojo bacana para impressionar suas visitas.

Você abre a caixa eufórico, coloca a máquina sobre a pia da cozinha, mas num canto especial, enche o recipiente posterior de água filtrada, escolhe uma cápsula para fazer sua primeira degustação, pega o cabo para conectá-la à tomada na parede e...

...E só então percebe que o plugue da máquina tem três pinos e a tomada na parede tem apenas dois furos.

Você não põe a culpa na Nespresso, obviamente que não pois eles fizeram o dever de casa direitinho. A culpa é sua de não ter atualizado as tomadas de sua casa de acordo com as novas normas brasileiras – únicas no planeta, só aqui essa aberração ocorreu.

Mais que depressa pega o carro e voa até uma Telhanorte, Leroy Merlin ou C&C para comprar um adaptador. Procura, procura, procura, desiste. Pergunta para um vendedor e descobre que não existe adaptador de 3 para 2 pinos. Você terá de trocar a tomada da parede.

OK,  é baratinho (comparada com a máquina de café e a caixa de cápsulas). Compra uma e corre pra casa.

Aquela experiência chique, quase mágica de tomar um café de primeira numa máquina de design diferenciado fica um pouco pra mais tarde, depois de sua atuação como eletricista.

Tomada nova no lugar, vamos ligar a máquina e...

...E os pinos não entram. Você tenta, tenta, se contorce, mas eles não entram. Algo deve estar errado com essa tomada, claro! Você volta à loja – que não é nem de longe tão bacana quanto à loja da Nespresso, mas fazer o quê – e reclama com a atendente. Aí você descobre que o aparelho deve exigir uma tomada de três pinos de 20 ampéres, mais largos que os tradicionais.

Compra mais uma tomada, volta pra casa estressado, cansado, desliga a chave geral de novo, tira a tomada nova, coloca a mais nova e então...

...Ah, que maravilha de café.

Então, agora menos irritado, você se pergunta: de quem é a “culpa”? Adiantou todo o esforço de marketing - do design das máquinas à elaboração esmerada do estojo para cápsulas - para, na hora H, dar tudo errado por um mero detalhe? Só eu fui vítima desse detalhe? Será que é porque “não é chique” ficar dando explicações sobre tomadas e amperagens durante a conversa sobre as famílias aromáticas dos Grand Crus que ninguém na loja nos avisa disso?

O marketing da “experiência do cliente” é caro, sofisticado, inteligente, abrangente mas chega quase a ser um enorme desperdício de recursos, nesse caso, por causa de uma simples tomada.



domingo, 20 de fevereiro de 2011

QUE RADIOHEAD QUE NADA...

...revolucionário mesmo é Rogério Skylab!

Aliás, há que se reparar que tanto Thom Yorke como Rogério Skylab tem um dos olhos meio caídos.

Será que esse é um traço de genialidade comum a músicos extremamente criativos e/ou fora do padrão?




Bem, de qualquer modo, segue um "preview" da obra de Skylab:

EU TÔ SEMPRE DOPADO - http://www.youtube.com/watch?v=n-9uVnoGcuc

VOCÊ É FEIA - http://www.youtube.com/watch?v=JutqfvUF9wQ&feature=related

EU TÔ PENSANDO - http://www.youtube.com/watch?v=TCueOgxRacA&feature=related

OFICIAL DE JUSTIÇA - http://www.youtube.com/watch?v=A975uBnAJJg&feature=related

TEM CIGARRO AÍ? - http://www.youtube.com/watch?v=5VNLnIDneb0&playnext=1&list=PLBBB79648D2A4FD6A

E muitas outras...

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

CONFESSO QUE ESTOU CONFUSO

Pensar nas pessoas que conheço, alguns amigos, alguns conhecidos, alguns parentes próximos, outros distantes me deixa confuso.

São pessoas de bem.

Não cairia no clichê de dizer que são cidadãos exemplares, até porque nunca vi suas declarações de IR, mas são gente comum, que trabalha duro para garantir a sobrevivência e algum conforto para suas famílias.

Alguns são mais seriamente religiosos, outros menos, porém espiritualizados. Aparentemente levam suas vidas dentro dos padrões social e moralmente aceitos como corretos em nosso tempo.

São, também, pessoas inteligentes, bem instruídas, cultas em relação à grande maioria, com boa ou ótima formação, bem informadas e com acesso aos mais variados jornais, revistas, livros, rádio, cinema, teatro, TV e internet.

Todos, sem exceção, acreditam no bem, em Deus, no valor absoluto da vida, tem seus padrões de certo e errado definidos em parte pela religião, em parte pela cultura, hábitos e costumes que passam de geração a geração, com pequenas evoluções caso contrário ainda estaríamos escravizando afrodescendentes e cuspindo catarro nas escarradeiras que antes decoravam as salas de visitas da burguesia paulistana (sério, escarrar durante uma visita era chique!).

Somando tudo isso – e mais alguns fatores que não me lembro de citar no momento – meu cérebro se retorce em angustiantes exercícios mentais para tentar entender o motivo de fecharem os olhos para o que considero importantes questões morais e éticas: os direitos animais e o vegetarianismo.

Que direitos animais? Bem, o direito à vida ou, no mínimo, ao não sofrimento.

Quando mastiga um bife, talvez você pense “...oras, não fui eu quem maltratei nem matei esse ser vivo...”. Esse é o pensamento do tipo Don Corleone, o poderoso chefão: ele não matava, nem degolava, nem fuzilava. Ele mandava e financiava. Quando compra um simples quibe é como se você fosse Don Corleone, pagando à lanchonete, que paga ao fornecedor de carne, que paga ao matadouro, que paga ao criador. Você financia a matança, o sofrimento.

Como podem essas pessoas aparentemente corretas fingirem que não sabem o que se passa nas fazendas de criação e nos matadouros e ainda seguirem em frente cravando os dentes num bife que outrora era um ser vivo?

Como pode uma pessoa que se afirma religiosa e critica o aborto, pois para ela a vida é um valor absoluto, não se importar com a vida que se extinguiu para que ela pudesse saciar sua gula com o que ela chama de “deliciosa picanha”?

Dizer que “a Bíblia permite” é uma afronta à inteligência de qualquer um que já tenha lido ao menos um pedacinho deste livro, pois a Bíblia também permite escravizar pessoas, matar a pedradas, oferecer filhas virgens à turba de invasores, etc., etc.

Dizer que “é costume” também chega a ser idiota discutir, pois os costumes, como citei num parágrafo anterior, evoluem (e as pessoas, ao menos em teoria, evoluem com eles e vice-e-versa).

Se só Deus pode dar e tirar a vida, porque essa regra só serve para algumas vidas e não todas?

Será que, para elas, animais são “coisas”, como uma cadeira ou um abajur, e não “indivíduos”?

Será que é assim que deve ser, termos moral e ética seletivas, optativas, ou seja, adotar como correto somente aquilo que nos interessa e descartar como bobagem aquilo que nos incomoda?

Será que eu estou errado? Será que é bobagem considerar animais como seres que também tem direito à própria vida e liberdade?

Tempos atrás eu havia prometido a mim mesmo que deixaria de atormentar as pessoas com essa questão pois vegetarianos insistentes como eu são comparados àqueles religiosos que teimam em nos levar pra igreja ou, pior, àqueles malas-sem-alça alucinados por um jeito excepcional de ficar rico com Marketing Multi Nível tipo Amway ou aqueles do “Quer emagrecer? Pergunte-me como”. Li também que as pessoas iriam começar a me odiar por fazê-las sentirem-se mal obrigando-as e se confrontarem consigo mesmas.

Então eu tive que fazer uma escolha moral – e escolhas morais nunca são fáceis: me tornar um chato de galocha, indesejável para muita gente ou, como a grande maioria, fechar os olhos para a questão e fingir que nada disso existe, que o sofrimento animal é pura fantasia.

Daí eu lembrei de duas frases:

“O que me preocupa não é o grito dos maus. É o silêncio dos bons” - Martin Luther King

“Tome partido. Neutralidade ajuda o opressor, nunca a vítima. Silêncio encoraja o torturador, nunca o torturado”. - Elie Wiesel

Talvez eu seja apenas um cara problemático, confuso, meio perturbado ou então a soma disso tudo e mais algumas.

Mas é sério: entre tantas outras dúvidas, eu realmente gostaria de entender porque as pessoas fecham tão facilmente os olhos para isso. Talvez até me convença de que o errado sou eu.

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

SE EU QUISER FALAR COM DEUS...


Gilberto Gil, em 1980, compôs uma música bem legal sobre isso:

Se eu quiser falar com Deus

Tenho que ficar a sós

Tenho que apagar a luz

Tenho que calar a voz...

Mas ele estava enganado! Ou melhor, a tecnologia o tornou ultrapassado.

Não, você não precisa mais calar a voz, pelo contrário: basta ter um iPhone e baixar nele o aplicativo “Confession: A Roman Catholic”, disponível na Apple Store por apenas US$1.99!

O software foi desenvolvido pela empresa Little iApps, de Indiana (EUA), com a supervisão de um padre e foi o primeiro produto desse tipo a ser aprovado pela Igreja Católica, segundo reportagem da Reuters.

Ao contrário do que pregava Gil, uma viagem introspectiva em que se revirava a alma do avesso, agora você pode ter seu contato divino até mesmo enquanto faz as unhas no cabeleireiro, come batatas fritas num boteco da Augusta ou espera o trem do metrô chegar.

Seus pecados não são mais um problema! Não os carregue nas costas sozinho: divida com Deus todos os seus deslizes (e com a Apple e com a Igreja Católica, que deve receber parte dos lucros das vendas do software e das ligações confessionais)!

O Vaticano ainda não se manifestou, mas fontes fidedignas confessam que já estão em produção outros softwares na mesma linha:

- The Electronic Communion Wafer – A Hóstia Eletrônica - somente se você já instalou e utilizou o “Confession” poderá também baixar e utilizar esse: ele envia uma imagem de hóstia à tela de seu iPhone. Como não dá para engoli-la, a Igreja Católica considera que as exigências Eucarísticas satisfeita se você lamber a tela de seu iPhone com a imagem da hóstia eletrônica. Apenas US$0,99 na Apple Store;

- Candles for Your Saint – Velas para seu Santo – se você está sem tempo de ir à igreja acender uma vela para seu santinho preferido, não tema! O Vaticano e a Apple já tem a solução de seu problema: através desse software você acessa imagens de todos os santos católicos e com um simples comando na tela multitouch de seu iPhone uma vela se acenderá para ele. Funciona mais ou menos como os antigos Tamagotchi, a diferença é que para manter seu santo satisfeito basta acender uma vela virtual. US$0,99 na Apple Store (o software) mais US$0,10 por vela virtual acesa.

- Sits & Ups at Mass – Senta e levanta na Missa – se você, apesar de católico fervoroso, não gosta ou tem problemas nos joelhos ou quadris e por isso detesta aquele “senta e levanta” a todo momento na missa, Deus não esqueceu de você (nem a Apple nem o Vaticano). Com esse programinha, um avatar seu obedece aos comandos do padre durante a missa. Basta ligar seu iPhone e executar o S&UaM que seu avatar senta, levanta e ajoelha direitinho, na hora certa, sob o comando do padre. Assim você pode ficar sentado ou até tirar um cochilo durante a missa. Versão Free (somente para 5 missas) ou US$1,90 a versão integral.

Em breve, muito mais tecnologia para você se conectar com Deus. Aguarde!


 


sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

PAPAI NOEL ROUBOU A FESTA DO MENINO JESUS

Li no jornal que as decorações de natal, de modo geral, parecem ter “esquecido” do personagem principal da data, Jesus.

Em shoppings e avenidas, o que se vê é uma profusão de Papais Noéis, renas, gnomos, animais variados e até personagens de filmes de animação.

Mas nada do menino Jesus na manjedoura. Presépios são cada vez mais escassos nesta época, ao menos em locais públicos e comerciais.

A conclusão, óbvia mas não tão simples, é a diversidade religiosa e cultural se afirmando na maior megalópole da América Latina.

Digo não tão simples porque, agora constatado o fato, religiosos de todas as facções irão conclamar seus adeptos a reforçarem suas convicções diante da quase extinção de Jesus nos rituais de Natal.

Nos moldes da lei que obriga ter ao menos uma parte de atores negros em filmes, novelas e comerciais e a outra, a das cotas, que obriga a resguardar vagas nas universidades a afro-descendentes, possivelmente algum lobby evangélico em Brasília irá tentar criar leis obrigando a participação mínima de Jesus nas festas de fim de ano, em total desrespeito às minorias muçulmana, judia, budista, xintoísta, hinduísta e tantas outras.

De certo modo, acho que deixar Jesus de lado é um equívoco, um desvio com intenções comerciais. Um equívoco pois Natal vem de “natividade”, nascimento – o do menino que veio para nos salvar e, afinal de contas, nesta data é isso que se comemora. E uma maquinação comercial por razões óbvias: a imagem do bom velhinho está associada a presentes muito mais que a de Jesus e o comércio precisa desta data como precisaríamos de água num deserto.

Mas Jesus, ao nascer, ganhou três presentes, um de cada Rei Mago. Já pensou se a moda pega e todas as crianças passem a exigir três presentes cada? Os pais não iam gostar muito, mas o comércio está perdendo uma boa oportunidade de explorar três vezes mais a data...

Ok, ok. Nem Joãozinho, nem Pedrinho nem Mariazinha vieram para nos salvar e, esperamos, não morrerão na cruz, mas... Você entendeu, certo?!

Aliás, jamais entendi esse negócio de “veio para nos salvar”.

Salvar de quem? Ou do quê?

Deus ia acabar com o mundo?

De novo?

Ele já tinha mandado um dilúvio, já tinha destruído Sodoma e Gomorra, a "Las Vegas" da antiguidade...

Será que a Terra e a humanidade são versões Beta, nas quais Deus está volta e meia fazendo upgrades?

Ou ele foi crucificado para nos eximir de nossos pecados, salvando-nos de nós mesmos?

Posso concluir que desde então não tenho pecado nenhum, não importa o que eu faça?

Eu ia continuar, mas estão me avisando que o peru já está na mesa.

E pela milésima vez terei de explicar a todos o motivo de eu não comer carne...


P.S.: decorar a cidade com motivos natalinos cheios de neve e cenários com lareiras não é uma idiotice num calor infernal como o nosso?




segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

FELIZ NATAL

Mesmo que você não participe de sessões espíritas nem seja Pai de Santo, não se avexe, o espírito de Natal vai baixar em você.

Isso significa que, nesta época mágica do ano, você vai falar de amor ao próximo, de confraternização, desejar saúde e felicidades a torto e a direitoe terá mirabolantes ilusões esquizofrênicas sobre como será o ano seguinte.

Você vai permitir que as crianças se sentem no colo de um obeso idoso fantasiado de vermelho sem que isso se transforme em acusação de assédio nem processo judicial.

Num calor dos infernos nessa época aqui nos trópicos, você desejará que refresque um pouco usando sabão, papel picado, algodão ou bolinhas de isopor para simular o frio e a neve que nunca viu pessoalmente.

À noite de Natal você chamará “de alegria infinita”, apesar de ter passado por um estresse enorme na fila da rotisserie pra pegar o prato congelado e levar logo pra casa e colocar no forno, de ter enfrentado o trânsito ainda mais caótico e quase ter saído no tapa com aquele que enfiou o carro na vaga que você estava esperando.

Nesta noite de paz e de luz, seu sogro vai dormir e babar no sofá e a mãe de seu marido vai torrar o finalzinho de sua paciência querendo lhe explicar como manusear direito o peru (o do forno, não o do filho dela) e vocês não vão brigar “pois é Natal...”.

Você vai aturar as crianças destruindo sua sala enquanto o bendito relógio não bate meia-noite, que as tias exigem que se espere antes de abrir os presentes.


Aliás, por falar em presentes, você vai ganhar algo de que não precisa ou não gosta, esteja avisado de antemão. Treine sua cara de quem adorou o presente durante a tarde, diante do espelho no banheiro, depois que seu tio já bêbado resolver sair dele.


Ah, e avise a todos de que não é preciso regar a árvore de natal, principalmente se tiver as luzinhas pisca-pisca. Da última vez, o choque que a minha avó levou quase fez parar o marca-passo dela.

Bom, então, Feliz Natal.

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

O NATAL DO IPAD

Dia desses li um artigo no Link do Estadão sobre este ser o natal dos e-readers. Fiquei com algumas dúvidas, pois o preço não é lá o que se pode chamar de "acessível" à grande maioria dos brasileiros, infelizmente. Se este for mesmo o natal dos e-readers, será por terem expectativas muito baixas em relação a eles. Um blog especializado publica, em tom retumbante, que "...já são 30 mil iPads no Brasil...". Trinta mil??? Isso não é NADA comparado aos mais de 10 milhões vendidos pelo mundo.

Poucos dias depois um outro articulista escreveu, no mesmo Estadão, um artigo contestando ser este o Natal do iPad.

Segundo as opiniões do autor, o iPad atualmente disponível é um produto transitório, que será aprimorado muito brevemente e por isso ele afirma ser mais vantajoso, ao invés de correr às lojas adquirir o seu, aguardar o lançamento do iPad 2.

Qualquer um que acompanhe o mundo da tecnologia sabe que um produto começa a ficar velho na semana seguinte ao seu lançamento, ou pela concorrência lançar adversários com mais traquitanas ou pelo simples anúncio de novas tecnologias que em breve poderão ser integradas a eles. E esse ciclo virtuoso não tem fim.

Pela lógica do autor, e sabendo do dito acima, quando lançarem o iPad 2 ele deverá esperar pelo iPad 3. E quando, finalmente, lançarem o 3, ele aguardará pelo 4... ...

O iPad, como vários outros produtos da Apple (obs.: eu não sou um fan boy, apenas constato um fato), é um produto de ruptura, de extrema facilidade de uso, de descobrimento de novo nicho. Nenhuma outra marca ou linha de produtos consegue tamanha movimentação de mercado, trazendo em seu vácuo diversas outras empresas dos mais variados setores. Duvida?

Você por acaso viu algum banco lançando aplicativos para alguma outra marca? Você viu jornais e revistas disponibilizando suas edições virtuais para o e-reader da Samsung, da Amazon ou outro? Não, não viu simplesmente porque ninguém deu bola. Mas bastou o iPad surgir que todo o mercado de e-book, aplicativos, jogos e tudo o mais entrar em ebulição.

Ficar esperando o modelo definitivo não é racional. E, por falar nisso, a aquisição de um iPad passa muito longe de uma decisão racional: é a fissura de participar dessa onda.


terça-feira, 16 de novembro de 2010

LULA, TIRIRICA E O PORTEIRO DO PUTEIRO

Há milênios circula pela internet uma estória (pra boi dormir) do tal Porteiro do Puteiro, um homem que não sabia ler nem escrever mas que vence as adversidades e se torna multimilionário. Algumas vezes atribuem essa estória à vida do Sr.Tramontina. Pura balela...

O objetivo torto dessa infelicidade é mostrar que é possível superar as dificuldades da vida, sejam quais forem. Será que o autor é ou já foi professor escolar?

Minha mãe foi professora primária da rede pública por quarenta anos. Ao final de sua carreira, pouco antes de se aposentar, dizia que atualmente a maior dificuldade de um professor é convencer um aluno de que estudar é importante.

Ao tentar fazê-lo, seja qual argumento utilizasse o aluno, lembrando de seus ídolos no esporte, na TV e, mais atualmente, na política, questiona: pra quê estudar tanto se fulano, sicrano e beltrano não estudaram nada e foram muito mais longe e ganham muito mais que meu pai?...

Com a lógica rarefeita, própria da idade, fica muito difícil para o professor argumentar com o aluno de primário. Se até nosso presidente da República e agora um deputado federal não precisam ler e escrever, porque ele precisa?

Por que estudar tanto quanto seu pai, que fez escola, colegial, faculdade, cursos especiais, MBA mas rala de segunda a sexta, de antes do Sol raiar até tarde da noite e nem pode lhe pagar uma viagem à Disney, enquanto que outros, semi-analfanetos ou analfabetos funcionais, aparecem na TV com carrões importados, em jantares cheios de celebridades, viajando por outros países acompanhados de belas mulheres?

Na sociedade do pão e circo, do BBB e das celebridades de vestidos rosa, pessoas que lêem essa estorinha e a repassam como “uma grande lição de vida” precisariam voltar à escola nem tanto para aprender a ler e escrever, mas aprender a PENSAR, principalmente em que país queremos ser ou queremos deixar para nossos filhos (apenas um clichê pois eu não os tenho).

A estória ensina que o valor da pessoa está em suas posses, em sua riqueza financeira, material. Ou seja, o cidadão pode ser um completo ignorante, desde que seja rico. Aí a sociedade o aceitará como um grande homem.

Essa é a lição.



domingo, 7 de novembro de 2010

A PROIBIÇÃO DE LOBATO


Uma celeuma enorme se instalou em toda a mídia diante da tentativa (sem comentários...) de se proibir o uso do livro Caçadas de Pedrinho na rede pública de ensino.

Acredito que você não seja completamente alienado e já tenha lido algo a respeito, pois não vou reproduzir aqui todas as lúcidas opiniões contrárias que encontrei pela internet.

Mas há uma análise que não vi: sobre quem está por trás da tentativa de proibição.

Pelo que pude averiguar, tudo começou com um documento preparado pela Secretaria de Promoção da Igualdade Racial, enviado ao Conselho Nacional de Educação (CNE).

Vamos por partes.

Se lermos a Constituição, carta magna que rege a nação, veremos que no Brasil não existe a divisão de raças – somos todos brasileiros, independente de cor, credo, opção sexual, situação financeira, para que time torcemos ou como penteamos o cabelo. Se assim é, a existência dessa tal Secretaria não é um contra-senso? Promover a igualdade de algo que não existe?

E como se promove a igualdade olhando apenas para um lado da questão - negros e mulatos? Como ficam os índios, os verdadeiros primeiros e massacrados habitantes da Terra Brasilis? E os asiáticos?

E como promover igualdade criando privilégios para uns em detrimento de outros, utilizando-se da imposição de lei, subjugando a realidade social e de mercado?

E o CNE, então? Foram os 12 conselheiros deste órgão que acataram por unanimidade a “denúncia” da Secretaria que promove a Igualdade da Coisa Inexistente.

Por “conselheiros”, seja lá onde for, eu costumava imaginar pessoas muito acima da média em intelecto, cultura, informação, discernimento. Mais uma de minhas ilusões é desfeita. Nenhum deles pensou que essa pataquada poderia terminar no bafafá que terminou? Que bando de manés!...

Não consigo acreditar que os nobres senhores e senhoras que ocupam os cargos públicos por nós remunerados tenham feito essa lambança por ignorância. A enormidade dessa boçalidade politicamente correta só pode ser explicada por uma tentativa equivocada de autopromoção.

Se isso continuar, em breve não mais poderemos não apenas ler certos livros, mas também proibirão músicas, filmes, peças de teatro.

Imaginem, por exemplo, Jorge Benjor tendo de alterar sua música para “A Bandaaaaa do Zé Afrobrasileirinho chegoooou”...

Eu ia escrever mais umas, mas Nelito Fernandes foi mais rápido que eu.

A burrice crônica que afeta nossas "otoridades" continua tentando proibir ao invés de educar, tirar de vista ao invés de explicar, esconder ao invés de discutir o assunto.

E assim continuamos todos burros - como eles - para sempre.

P.S.: Pedrinho ainda corre risco de ser enquadrado na Lei de Crime Ambiental por caçar animal em risco de extinção.

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

MISTÉRIOS DE HUMANIDADE - capítulo Brasil

Alguém poderia me explicar...

... porquê, contrariando toda a lógica do comércio eletrônico no planeta Terra, o Pão de Açúcar vende MAIS CARO VIA WEB que nas lojas reais?

... porquê, ao contrário de todo o resto da galáxia, no Brasil ainda não temos iPad nas lojas?

... porquê, diametralmente em oposição ao mundo evoluído, um livro eletrônico nacional custa às vezes mais caro que um livro impresso?

...que conta é feita e que custos são agregados para que um mesmo mero relógio de pulso custe aqui exatas DEZ VEZES MAIS que no exterior?

... o que se passa na cabeça de um povo que elege um palhaço analfabeto – e, como se não bastasse, ignorante - como um de seus líderes?

Parecem brincadeira, mas são perguntas sérias, com implicações que nem sempre percebemos ou conseguimos compreender.

Se alguém souber me explicar em detalhes, como se eu tivesse 5 anos – sem inventar estórias como a das cegonhas - agradeço.


segunda-feira, 1 de novembro de 2010

SIMETRIA E COERÊNCIA

Note uma coisa: Dilma Roussef foi eleita em 2010, na mesma corrida aos cargos públicos em que se elegeu Tiririca, campeão de votos.
Isso é uma amostra da coerência entre os eleitores, não?



quarta-feira, 27 de outubro de 2010

“A ÚLTIMA MINORIA”...


...é o excelente título dado ao artigo escrito por Fábio Ulhoa Coelho, jurista e professor da PUC-SP, publicado no Estadão do dia 25 de outubro.

Em seu artigo ele explica como é falsa a ideia de que um ateu seria um cidadão com menos moral e ética que um religioso.

Há uma confusão generalizada em torno da moral e da ética, que são conceitos autônomos, independentes de qualquer religião. Ao contrário, as religiões ao longo do tempo se apropriaram de alguns (não todos, infelizmente) dos tópicos da moral e da ética e desde então se apresentam como fornecedoras exclusivas destes valores. Não é verdade.

Um ateu que aja dentro de preceitos morais e éticos, mesmo que segundo sua cultura e seu tempo e apesar disso, é uma pessoa muito mais firme em seus alicerces que seus concidadãos religiosos.

Digo isso porque, pelo que tenho observado, existem três tipos de pessoas religiosas:

- a medrosa, que, segundo o que se ouve em igrejas e se lê em textos religiosos, “é temente a Deus”. É aquela pessoa que se apavora com a ideia do Inferno, do pecado, da punição Celestial e, principalmente por essas razões, prefere acreditar em Deus e ter uma religião. A base de sua fé e estilo de vida é o medo;

- a interesseira, aquela que acredita (ou diz que acredita) em Deus, segue alguma religião e diz ter fé sempre dando ênfase nos benefícios que isso trará, tais como uma pós-vida no Paraíso junto ao Senhor, graças divinas e bênçãos;

- e a ingênua, que também pode ser chamada de “mentalmente preguiçosa”, que nunca parou para pensar sobre o que lhe martelaram a vida toda. Ela segue a manada, é acrítica, prefere nem pensar sobre o assunto (nenhum assunto – se lhe trouxerem qualquer coisa mastigadinha, melhor).

Ora, para ser uma pessoa correta não deveria ser (e NÃO É) necessário temer a ira divina nem esperar recompensas por bom comportamento em vida. Bastaria viver tentando não causar dano de espécie alguma – moral, psicológico, físico, financeiro... - ao seu semelhante, nem a ninguém.

Pascal tentou provar matematicamente que acreditar em Deus é um bom negócio. Sem sombra de dúvidas, ele é o patriarca dos medrosos e dos interesseiros.

E como disse Einstein: “Se as pessoas são boas só por temerem o castigo e almejarem uma recompensa, então realmente somos um grupo muito desprezível.”

Desprezível é o preconceituoso... Assim como eu em relação aos religiosos... Ops!

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

ELE ESTÁ ENTRE NÓS

- E aí, como foi a viagem?
- Foi boa. Viajar é sempre bom, né!?

- Conseguiu passar ileso na PF do aeroporto?
- Ah, passei... Nem trouxe muita coisa, mas fiquei com receio de passar com o iPad.

- Putz, trouxe um?! E aí, gostou, é bom mesmo?
- É legal...

- Hmmm, não senti firmeza.
- Pois é... É bacaninha e tals...

- Pô, mas dá pra fazer um monte de coisas nele, não?
- Dá pra acessar a internet e enxergar as coisas melhor que na tela do celular.

- Ele é um leitor de livros eletrônico não? Já baixou algum?
- Ia baixar só pra ver como é, pois os que eu quero ler não encontrei.

- O pessoal das editoras ainda tá se preparando, nem foi lançado aqui ainda. Mas tem um monte de joguinhos, não tem?
- Tem, mas não sou fã. E tem de pagar pra baixar.

- Mas você pode usá-lo em qualquer lugar, levar pra lá e pra cá...
- Trabalho em casa... Além disso, tem o risco de ser assaltado. Não é tão leve assim e não costumo sair com bolsa...

- Pô, mas então porque comprou?
- Ganhei de presente.

- Não gostou, dá pra mim.
- Nnnnnnn... Tem uns apps free e baixei um que o transforma num rádio relógio e despertador. Está na cabeceira da cama.

- Caro esse seu despertador,hein?!
- Chique nos úrtimo.

terça-feira, 28 de setembro de 2010

TROCAR 6 POR MEIA DÚZIA

Somente nessa semana recebi 4 vezes mensagem com um link para assistir ao vídeo do Pr. Paschoal Piragine Jr sobre as eleições 2010, no qual ele exibe um vídeo (um vídeo dentro de um vídeo, êta metalinguagem...) com alertas à platéia sobre os problemas do país.

Fome, miséria, falta crônica de tudo quanto é serviço básico num país que se diz civilizado, isso sabemos e concordamos com ele.

Apesar do acertadíssimo conselho que dá ao final – NÃO votar no PT nem em ninguém desse partido – há dois pontos que me preocupam: a questão gay e o aborto.

Utilizando as mesmas técnicas dos políticos que critica, o vídeo afirma que a Lei da Mordaça poderá criminalizar àqueles que discordam da prática da homossexualidade. Há graves problemas e equívocos aqui. Em primeiro lugar, a Lei da Mordaça não tem nada a ver com isso. É um projeto de adendo à lei que, originalmente , tem a finalidade de estabelecer sanções àqueles encarregados de investigação, inquérito e processo por divulgação de informação produzida no âmbito de suas respectivas funções, algo muito mais relativo às falcatruas cometidas por funcionários públicos em todos os escalões que com preferências sexuais.

O artigos 3º. e 4º. da lei de 1965 relacionam como abuso de autoridade, entre muitos, quaisquer atentados à liberdade de locomoção, à inviolabilidade do domicilio, ao sigilo da correspondência, à liberdade de consciência e de crença, ao livre exercício de culto religioso, à liberdade de associação, aos direitos e garantias legais assegurados ao exercício do voto, ao direito de reunião, à incolumidade física do indivíduo, aos direitos e garantias legais assegurados ao exercício profissional.

A chamada "Lei da Mordaça" acrescenta como abuso de poder atentados à liberdade de manifestação do pensamento, à intimidade, à vida privada, à honra e à imagem, ao direito de não discriminação, ao direito de ampla defesa e ao contraditório, à proibição da escravidão e da servidão, aos direitos e garantias constitucionais e legais assegurados aos acusados.

Será que é disso que batistas tem medo? De não poderem vociferar contra à liberdade de manifestação (parada Gay), à vida privada (união homossexual), ao direito de não discriminação (deixá-los entrar onde bem entenderem)?

Tem-se aqui um fenômeno não raro hoje em dia: uns exigem o direito de protestar e trabalhar por proibir a prática de outros, ignorando completamente o direito deste outro baseando-se puramente em suas próprias crenças. Oras, se batistas são contra a homossexualidade, então não sejam homossexuais e não admitam em suas fileiras pessoas com essa opção. Mas interferir no direito de escolha do outro e querer impor o ponto de vista de uma religião a praticantes de outras é ditatorial, não acham? É o mesmo que palmeirenses quererem proibir o uso de camisas preto e branco e obrigar a todos vestirem apenas verde.

Ou pior ainda: pessoas como eu, vegetarianos convictos, proibirem o consumo de todo e qualquer tipo de carne no país.

Não é justamente isso – esse tipo de imposição unilateral - que recentemente fez com que até mesmo Hélio Bicudo se voltasse contra o PT de Lula?

Cada religião tem sim toda a liberdade de que precisa para seus cultos e cultores, mas não pode de maneira nenhuma interferir com aqueles que não fazem parte de sua congregação. Conheço ótimas pessoas gays, algumas vivendo com seus pares e não me sinto ameaçado por eles. Minha família não desmoronará por causa das escolhas sexuais de outros. São pessoas cultas, simpáticas, educadas, trabalham, pagam seus impostos, não incomodam ninguém... Não há motivo REAL para não terem direitos tanto quanto eu e você de termos união reconhecida por lei, plano de saúde, etc., etc., etc.

Ainda mais polêmica é a questão do aborto. Afirmo com todas as letras: ela NÃO é uma questão de religião ou crença, NEM científica nem jurídica mas, antes deles, é um problema de saúde pública.

Proibir algo nunca deu bons resultados em lugar nenhum deste planeta, principalmente sobre coisas que tem demanda constante. Muito pelo contrário: dá origem a mercados negros, paralelos. No caso, centenas de milhares de mulheres e crianças morrem anualmente justamente porque o procedimento, proibido, é realizado em clínicas clandestinas. Continuar proibindo o que sempre foi proibido não está ajudando em nada. Não sei qual seria a solução ideal, mas penso que deveria ser permitido e cada um deveria seguir sua própria consciência. Alguns afirmam que o procedimento traz consequencias psicológicas nefastas a quem o pratica. Mas é claro! Imagine você fazer algo que é demonizado pelo resto da sociedade...

Se sua religião é contra o aborto, não faça. Se você tem dúvidas científicas quanto ao início da vida ou questões quanto ao direito do feto à vida, não faça. Mas você NÃO tem o direito de impedir que outros façam e, pior torná-los criminosos por isso. E lembre-se de que não estamos falando de um bebê de três quilos, todo rosinha com covinhas nas bochechas, mas sim de algo menor que seu dedinho da mão e sobre o qual muito discutem, sem chegar a uma unanimidade, os especialistas de todas as áreas. O vídeo mostrado pelo padre, que deveria arder no inferno por mentir descaradamente ao público, é sobre outro tipo de procedimento médico.

Uma coisa é legislar pelo bem estar e ordem social, outra bem diferente é impor crenças, hábitos e costumes de uma facção a todas as outras. É um equilíbrio delicado, uma zona repleta de áreas cinzentas, em algumas questões as fronteiras podem ficar por demais fluidas e não serem muito claras, mas é algo pelo que temos de zelar com absoluto respeito e imparcialidade.

O que falta, de fato, nesse país é educação acima de tudo, muita leitura e respeito às escolhas dos outros. Caso contrário, seguindo como ovelhas o que prega Pr.Paschoal em seu vídeo, estaremos trocando 6 por meia dúzia.