quinta-feira, 15 de abril de 2010

E POR FALAR EM CAFÉ...


Tempos atrás houve grande celeuma e discussões acaloradas sobre cafeterias. A rede Starbucks estava para chegar ao Brasil e foi, através de diversos comentários e posts na internet, bem-vinda e demonizada por montes de pessoas de ambos os lados.


Demonizada por questões políticas (abusam dos funcionários, só contratam adolescentes para não ter vínculo empregatício...), patrióticas tipo “o café é nosso” ou puro preconceito contra uma empresa onde “...só os metidos a ricos vão tomar café lá” e que “... não vende café, vende conceito”.

E foi bem-vinda por muitos, que para lá se deslocaram e beberam várias xícaras de “conceito”...

Nas discussões de nível menos raso, a preocupação era o preço do café-com-conceito. Um parêntese: sim, a rede tem um conceito, sua marca tem alma, mas vende sim café, e cafés especiais do mundo inteiro de qualidade inquestionável.

A questão nesses fóruns e nos diversos e-mails que troquei com colegas era se o brasileiro médio estaria disposto a pagar 4 ou 5 reais – era o valor que se estimava – por um cafezinho na Starbucks enquanto costumávamos pagar R$1,00 ou R$1,30 em outras cafeterias já estabelecidas aqui.

A resposta agora é óbvia: sim, está mais que disposto. Basta passar em frente a qualquer loja da rede, especialmente as de shoppings (criticadas por essa localização, pois perdiam o charme das de rua como em NY) e perceber que em muitos horários nem se encontra lugar pra sentar.

E mais: o tal brasileiro médio se mostrou tão disposto a pagar bem mais caro por café e conceito que outras redes, antes “sem conceito”, reestilizaram suas lojas e alinharam seus preços para cima, acompanhando a recém-chegada.

Marqueteiros de plantão que duvidavam que esse “P” estivesse adequado ao mercado nacional tiveram de rever seus conceitos. O fenômeno foi o inverso do esperado: uma rede com produtos mais caros encareceu todo o mercado.
Noutro causo, tempos depois, chega a Nespresso. O Madia escreveu primeiro o que eu já pensava em escrever, mas aí vai: cafés especiais, lojas fantásticas, atendimento impecável, máquinas bacanas para você fazer seu espresso em casa, mas...
Péra lá: as máquinas deles só fazem café com o café deles, pois utilizam um “exclusivo sistema de cápsulas”, o que significa não poder utilizar nenhum outro tipo ou marca de café que não o deles ao adquirir uma máquina daquelas.
Foi uma tentativa de lock in de sistema descrito no modelo Delta de estratégia de mercado: a empresa te prende a ela e impede evasão ou invasão com tecnologia própria, patenteada.

Funcionou no começo, ou até esse momento, pois os early users endinheirados já correram para a novidade. Mas mesmo eles começam a reclamar, pois não encontram as tais cápsulas facilmente por aí.

Para quem comprou uma máquina Nespresso, tomar café em casa obriga a uma visita às lojas Nespresso sempre que seu estoque de cápsulas acabar.

Em tempos de desbloqueio de celular, uma empresa vem e bloqueia seu sagrado café. Estranho isso, não? Será que vai pra frente?...

Se você é da turma que acha ridículo pagarmos caro para tomar nosso próprio café exportado pra lá como commoditie e em seguida ele mesmo importado como artigo de luxo após receber uma etiqueta de grife, pense: enquanto ainda nos esfacelamos para baixar o preço da saca de café e concorrer com outros diversos países lucrando migalhas com um produto da indústria primária, outros países vendem "conceitos", máquinas, filtros de papel e outros diversos, todos em torno do mesmo café, lucrando muito mais com a indústria terciária.

Quando seremos, de fato, o país do futuro?

quarta-feira, 24 de março de 2010

SUA EMPRESA TEM CAMISA, CALÇA E SAPATO?


Se você trabalha numa grande empresa, com certeza já os viu. Se ela é média, provavelmente já viu. Se for pequena, se não viu, verá.


Por algum motivo qualquer, perdido em meio aos modismos de administração que infestaram todas as mídias e rechearam estantes interias sobre eles nas livrarias, as empresas resolveram que era importante dizer ao público a que vieram.


O intuito é nobre: criar uma espécie de estatuto que, supostamente, traduziria as intenções da empresa em relação ao mercado e nortearia as ações e comportamento de seus funcionários.


Mas é mais que isso. São três parágrafos que tentam, com todas as letras, passar certa imagem ao público.

Funciona mais ou menos assim: imagine que você vai sair pela primeira vez com uma garota no próximo sábado, está “afinzão” dela, ansioso, e fará o possível para causar uma determinada impressão. Afinal, é a primeira que fica.


Não importa se você passa a semana toda de chinelo de dedo, sujo de graxa ou cheirando a peixe, sem fazer a barba e com o cabelo oleoso grudado na testa.



No sábado pela manhã você mobiliza toda a sua família, fica horas implorando a seu pai que lhe empreste o carro, pede à empregada que passe melhor aquela camisa e à sua mãe que lhe ajude a escolher a melhor combinação de calça e sapato. À noitinha você corre pro banheiro e se dá aquele trato: banhão, gel no cabelo, cara limpa e lisa como bunda de nenê.


Então lá vai você pro seu quarto decidir qual camisa, calça e sapato irão causar a melhor impressão e, quem sabe, transformar aquele amor platônico numa noitada no motel mais próximo.

Viu? É assim que as empresas escrevem a famosa trinca “missão, visão, valores”.



Movimentam um grupo de funcionários, muito provavelmente o pessoal de marketing junto, e decidem quais as três frases que irão representar a empresa para causar a melhor impressão possível.


Muitos dos funcionários, do presidente ao porteiro, de tanto repetir o mantra podem começar a acreditar naquelas três frases, mesmo sem verificar se na realidade as colocam em prática.
O necessário é passar a melhor imagem, causando a tal primeira boa impressão. Depois, consumidor fisgado e transformado em cliente, a empresa pode, como nosso carinha ali de cima, voltar à graxa.


Se fossem honestas – consigo mesmas e com o público – toda e qualquer empresa poderia ter um quadro mais ou menos assim:


VISÃO – percebemos um nicho de mercado que nos dará retorno excelente, pois detemos com exclusividade a tecnologia para atendê-lo, podendo praticar os preços que quisermos, preferencialmente exorbitantes amparados num mercado cativo, trazendo lucros excepcionais para a companhia;


MISSÃO – atacar o nicho com unhas e dentes arrancando até o último centavo, escorchar fornecedores para obtermos o menor custo e criar obstáculos reais, virtuais e legais para a concorrência e novos entrantes;


VALORES – remunerar os acionistas acima de tudo, pois são eles que mantêm nossos empregos, salários e bônus anuais.
Para não ser apenas um quadro na parede, missão-visão-valores edificantes e nobres precisam “brotar” da empresa, ser aquilo que, de modo geral, realmente norteia sua existência e não como uma exceção de sábado à noite, decididos em reuniões além do horário normal impostas a um grupo de funcionários que gostariam muito de ir mais cedo pra casa.

quinta-feira, 18 de março de 2010

LIBERDADE RELIGIOSA NO PNDH DO LULA

O Governo está revendo no novo texto do PNDH a questão da proibição da exposição de imagens religiosas nas escolas. Provavelmente, com os lobbys católicos e evangélicos, isso vai mudar e vão deixar os crucifixos acima das lousas como sempre estiveram.
Êpa! Estamos falando de “símbolos religiosos” e não apenas de símbolos cristãos, certo?

Se há liberdade, então poderemos colocar uma estatueta do Exu Caveira também?


E você, evangélico, estudaria numa sala com Oxóssi te encarando?



E você católico, acha feia a Pomba Gira? Justo você que adora um homem seminu, esfolado, esfaqueado, estraçalhado, torturado e todo ensanguentado pregado num instrumento de tortura?

Algum cristão irá se incomodar se colocarmos uma pequena estátua do simpático Ganesha?


E para aqueles que já estão pensando no argumento falacioso de que "não podemos negar nossa história cristã", saibam que a tal "nossa história" não seria possível sem a imensa população negra raptada da África por branquelos.

Liberdade só tem sentido se for para todos, não apenas para alguns.

segunda-feira, 15 de março de 2010

RESTAURANT WEEK

Nas duas semanas que passaram a cidade – e todos os seus bons de garfo – tiveram a oportunidade de conhecer novos restaurantes com o advento da São Paulo Restaurant Week – uma week de duas semanas, vai entender....

Durante os dias do evento diversos restaurantes ofereceram um menu especial completo – entrada, prato principal e sobremesa - a preços reduzidos. Li em algum lugar que a frequência nos restaurantes participantes praticamente triplica nesse período.

Bom para todos, principalmente o consumidor – ah, hoje é Dia do Consumidor, sabia?

Mas não para todos os consumidores. Os restaurantes participantes, mais de 200, ignoraram totalmente os adeptos do vegetarianismo e a organização do evento não parece ter tido a preocupação de incluir ao menos um restaurante vegetariano na comilança (ou terão sido seus proprietários que não quiseram se inscrever?).

Querendo ir a um restaurante participante da week de 14 dias (se a moda pega, logo teremos o Mês de 45 dias, a Quinzena de 38 dias...), uma pessoa que não come carne teria de se contentar com massa em duas ou três casas, se tanto.

Apesar de apresentar pratos diversificados e alguns até bem elaborados, restauranteurs e chefs também parecem padecer da mesma ignorância gastronômica que faz com que as pessoas comuns perguntem “...mas você come o quê, só salada e massa?”.
O que falta para que os vegetarianos não sejam ignorados numa das maiores cidades do planeta? O que falta para que o vegetarianismo “cresça e apareça”? Somos poucos? Ou somos muitos que se contentam com pouco?

Apesar de ter feito essas perguntas há mais de três anos, elas continuam a me incomodar:

- vegetarianos não jantam? Se sim, porque os restaurantes vegetarianos não abrem à noite?
- porque restaurantes vegetarianos não podem se parecer com restaurantes “normais”?
- porque os atendentes são sempre jovens universitários (quando muito) cabeludos e mal preparados ao invés de garçons como em todos os outros lugares?

Veggies, não me crucifiquem. Sou vegetariano por opção, fui eu que escolhi esse caminho por diversas questões, mas tenho de admitir que minha vida era bem mais fácil e divertida quando não tinha o que se demonstra ser uma enorme limitação – e não precisava ser assim.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

MEIO PERÍODO NUM HOME OFFICE


Diversos artigos tratam de uma suposta tendência no mundo do trabalho: os home offices.


Espaço doméstico para profissionais que não necessitam estar diariamente na empresa, o tal escritório em casa é realmente um alívio: você não tem de enfrentar o trânsito e assim pode dormir um pouco mais, pode também dar espiadelas no Facespace ou no MyBook, whatever, pra ver a quantas andam suas redes de amigos, pode ficar de chinelo e, com esse calorão, sem camisa.


Mas nem tudo é um mar de rosas.


Eu montei meu home Office. Passo dias inteiros lá, ou melhor, quase inteiros...


Dez para as oito da manhã, em meu computador já ligado verifico e-mails que podem ter chegado após o encerramento do expediente de ontem (por volta das 21h30, pois não estava passando nada na TV).


Toca o telefone, é a empregada. Diz que não vem porque sua filha menor está com diarreia e febre.


Pronto, sobrou.


Resolvo ir tirar a mesa do café e colocar a louça na máquina. Como não é tudo que vai pra dona Maria eletrônica, lavo algumas coisas na pia mesmo.


As gatas e as cachorrinhas ficam só observando – e atrapalhando meu vaivém pela cozinha.


Aproveito então para limpar a caixa de areia, o banheiro das felinas. Antes de voltar à labuta, melhor já levar as cachorrinhas pra volta matinal na rua, assim fico livre para trabalhar o resto da manhã.
Com o calor infernal que anda fazendo, elas tomam muita água e uma delas não aguenta esperar: bastou abrir a porta do elevador que resolveu soltar um rio Amazonas amarelo ali mesmo, no hall. Subimos de volta, pego pano, desinfetante, desço novamente, faço a limpeza, subo, jogo os panos no tanque, pego as caninas e vou para a volta no quarteirão.


Com aquele casaco de pele, a Shih Tzu se arrasta como um jabuti. Não aguenta um quarteirãozinho só, pede colo. É pouco, 5 ou 6 quilos, mas depois de três dobradas de esquina estou ensopado de suor. Melhor tomar um banho antes de “ir pro escritório”.


Agora sim, vamos ao que interessa... Toca o interfone. Penso em fingir que não estou mas o porteiro me viu subindo. Ao atender, escuto: “...desculpe, eu estava limpando aqui o aparelho e acho que bati a mão no seu número...”. OK, calma, tento me lembrar de minha dúzia e meia de livros sobre Zen budismo e meditação.


Então abro aquele projeto em que eu estava mexendo ontem... Toca o telefone. Atendo, não atendo, atendo, não atendo...

Atendo e me avisam que alguém vem entregar a cortina ainda pela manhã. Justo hoje...


Nesse milésimo de segundo em que me distraí com o telefone uma das gatinhas resolve caminhar sobre o teclado e, numa daquelas coincidências que só em filme de Hollywood existe, consegue pisar na exata combinação CTRL ALT Del ou algo do tipo. Meu arquivo simplesmente some da tela e, em desespero, quase choro quando encontro uma cópia no back up automático, vários minutos depois.


Estou suando de novo. Finalmente consigo responder alguns e-mails, falar com um cliente via Skype, então vou dar andamento naquele...


Toca o telefone. Atendo rápido antes que algo pior aconteça. Uma associação liga pedindo doação em dinheiro. Só não respondo que gostaria que me doassem algum também por que... Bem, vamos trabalhar. Termino o layout para o site de um cliente, adianto o material de escritório de outro...


Toca o interfone. Será que o miserável ainda está limpando aquela mer... Ah, não, o tal cara da cortina chegou. É sempre rápido quando a gente não espera, não é mesmo?


A cachorrada faz enorme estardalhaço quando estranhos entram em casa. Acompanho-o na instalação. Quando o Mário Bros das cortinas (com aquele bigode, só pode ser parente) vai embora, já é hora do almoço e vejo que fiquei sem congelados.


Previa ir ao supermercado só amanhã, mas o dia já está quebrado mesmo.


E isso foi só meio período...

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

SOLIDÃO NO CARNAVAL

Assim como a Lua vem depois do Sol e a chuva vem depois das 16h30, aí vem mais um Carnaval.


Como já escrevi anteriormente, meio que “por decreto” a multidão tupiniquim, até aquela de gravatas, ternos, taileurs e escarpins deixa-os de lado para entrar num fantasioso reino de vale tudo.

Muitos dos que passaram o ano todo com comedimento, pessoas até pudicas, de repente, como por encanto, se transformam: homens vestem-se de mulheres, mulheres vestem-se de coisa nenhuma e todos ficam pulando, suando, bebendo, lascivos, sedentos...


Porque não podemos ser lascivos e sedentos o ano todo, mesmo usando ternos e taileurs? Porque é preciso uma festa nacional para se mostrar quem realmente é por baixo da rala camada de verniz? Se Carnaval é uma oportunidade de sexo fácil para muitos, porque esperar o ano todo por esses quatro dias?


Fiquem disponíveis à esbórnia fulltime... Qual o problema? Somos todos adultos, pagamos nossas contas...


No Carnaval todos pulam alegres e felizes. Sorry, não se fica alegre e feliz por imposição de uma data específica. Isso tem outro nome...


E, mágica, todos voltam àquela vidinha mais ou menos na quarta à tarde ou quinta-feira pela manhã.


Não quero escrever uma (mais uma) crítica ao Carnaval. Afinal, analisando mais profundamente, não é o evento anual nem o comportamento das pessoas que me incomoda, mas sim minha (suposta?) solidão.


Não, não me sinto só por não ir pular, não ficar bêbado e suando em bicas num salão ou avenida inundada por barulho (aquilo é música?) ensurdecedor, apertado como sardinha em meio à multidão correndo o risco de ser atropelado por um caminhão de trio elétrico.


Sinto-me só por não ter com quem compartilhar essa minha aversão a tudo isso.


Lembro da época em que minha irmã, dois anos mais nova, saía com a turma de amigos e amigas, primos e primas, todos alegres para a matinê no clube. Eu, criança, já não via sentido em tudo aquilo e ficava sozinho com a Coleção Conhecer, lendo sobre os vikings, sobre as Cruzadas, sobre a chegada à Lua, sobre a vida marinha...



Isso permaneceu até os dias de hoje e, de certo modo, por não haver mais ninguém como eu por perto, fui levado a acreditar que eu era esquisito (ou chato, ou doente, ou maluco, sei lá).


Como seria bom ter tido por perto alguém que não se importasse com a alucinação que toma quase que a todos nessa época, que não ficasse aflito ou aflita por estar ali sentado “enquanto todo mundo aproveita” (?!?), mas que gostasse de ler, como eu, que apreciasse o silêncio, alguém com quem pudesse trocar ideias, filosofar, deixar a mente viajar, falar em voz baixa, contemplando possibilidades imaginárias e, quem sabe, supostamente perceber juntos alguma verdade até então encoberta.


Pessoas assim ficam bem em personagens de filmes e seriados. Duvido que Grisson, ex-CSI, gostasse de pular Carnaval. Mas na vida real, nem o mais simpático personagem tem seguidores quando aquilo que é seu charme vai contra o que a maioria pensa ser normal e está louca pra aproveitar.



terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

2012, NOSTRADAMUS, CALENDÁRIO MAIA...


O paradoxo do FIM DO MUNDO:


- se Nostradamus, o tal Calendário Maia e outros oráculos quaisquer estiverem certos, então não há o que fazer;


- se eles estiverem errados, então não há com que se preocupar.


Esse tal de fim de mundo não tem a menor graça.

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

MONTANDO UM PEQUENO NEGÓCIO


Um colega meu perdeu o emprego recentemente e, precavido, já colocou em andamento seu plano B: vai montar um pequeno negócio, home office.

Mas nessa hora é difícil pensar em tudo, em todos os pequenos detalhes que fazem a diferença. Foi então que resolvi escrever algumas dicas pra ele. Talvez sejam redundantes, tendo em vista as centenas de milhares de páginas na web que tratam do mesmo assunto, mas vou reproduzi-las aqui:

- abra uma conta separada de e-mail (e uma pasta) só para receber mensagens de assuntos profissionais, preferencialmente com o nome curto (estratégia, estratégia...) de seu negócio. Melhor ainda: instale um programa de receber e-mails diferente do particular. Eu uso Outlook para o pessoal e Thunderbird (ótimo e de graça) para o profisisonal;

- se possível, instale o Skype (grátis) em seu PC/note. O pessoal gostou da ideia de não pagar telefone. Talvez tenha de comprar microfone se for PC de mesa, mas é baratinho;

- tb, se possível, tenha uma linha de telefone celular diferente para os contatos profissionais ou, pra economizar, tenha toques bem diferentes para contatos pessoais/familiares/profissionais. Eu já me atrapalhei tendo de atender cliente quando estava em Campos do Jordão, almoçando e tomando o terceiro chopp, imagina...;

- pense no foco de seu negócio e comece a montar um mailing list de possíveis clientes para, posteriormente, fazer uma campanha de e-mail marketing, mais em conta do que mandar imprimir folhetos. Mais em conta, no caso, é “de grátis” se tiver a manha;

- se pensar num site, compute: registro de domínio (seu endereço na web) + hospedagem de site. Não são caros, poderíamos dizer que "é um investimento", mas sai do bolso;

- se quiser economizar ainda mais, monte inicialmente um blog (é de graça). O Blogger e o Wordpress são os mais fáceis de usar. Meus blogs estão no Blogger. Contras: não tem grande maleabilidade de construção (ou seu colega aqui é que não teve paciência para aprender a mexer direito) e blog não tem tanto respeito/seriedade quanto um site com domínio registrado;

- é possível anunciar seus serviço de graça na web: Primeiramão, TodaOferta, Quebarato, SOSClassificados, RuaDireita... ... Retorno? Pequeno, mas de pequeno em pequeno...

- se for montar um home office, existem milhares de dicas na web, mas posso adiantar algumas:

1-se for cliente de TV por assinatura, provavelmente eles te ofereceram um plano e número de telefone extra. Utilize para seu escritório;

2-vc vai precisar de cartão de visitas (faça em gráfica, esqueça os picotados) e, se for enviar propostas a clientes, seria bom ter papel carta “timbrado” (isso não existe mais...), ou seja, com o nome/logotipo de sua empresa. Mas isso dá pra fazer um a um na impressora de casa, imprimindo com qualidade alta ou máxima. A primeira impressão é a que fica, como diz o velho deitado;

3-entre nas tais redes sociais e refaça seu perfil, agora como autônomo, e procure se filiar ou acompanhar grupos afins;

4-japoneses dão preferência a japoneses, judeus dão preferência a judeus, maçons dão preferência a maçons... Já vi por aí e sei que funciona: use em seu site/blog/perfil alguma frase ou algo que remeta a um grupo ao qual pertença: religioso, acadêmico, desportivo, filosófico... Não confunda isso com “se aproveitar”; é apenas mais uma estratégia de marketing numa maneira de tentar obter retorno de um público-alvo específico.

Se eu lembrar de mais, escrevo em breve.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

CONTRA A DEPRESSÃO? PAUSA PRUM CAFÉ!

Fui uma criança muito, mas muito imaginativa, criativa e sonhadora. De uns anos pra cá fiquei meio cético, meio racional demais, mas não consigo deixar de imaginar o tamanho da coincidência depois que li um artigo dizendo que o café, nosso santo cafezinho, pode ter efeito preventivo /profilático contra a depressão.

Os tais estudos chegaram à conclusão de que "a incidência de distimia e de depressão é menor entre adultos e crianças que
tomam 4 xícaras de café por dia em comparação aos que não tomam ou tomam menos que isso".

Segundo o artigo, "o consumo diário de 4 xícaras de café pode ajudar a prevenir a depressão e o suicídio, segundo estudos efetuados em mais de 200.000 pessoas por um período de dez anos por dois grandes centros de pesquisa nos Estados Unidos (Califórnia e Boston), dados estes obtidos pela equipe do autor a partir dos anos 80 entre jovens escolares brasileiros. O fato do café puro ou com leite na dose de 3 a 4 xícaras diárias ser um agente PREVENTIVO da depressão bem como a possibilidade de um fitoterápico de café ser um agente CURATIVO para a depressão coloca o consumo de café e seus subprodutos como prioridade para a ciência médica que visa combater o mal do século, a depressão".

Qual é a coincidência? Eu sou tão fanático por café que meu primeiro blog recebeu como título uma homenagem a ele. Já
meu outro blog, adivinhe...
Um blog voltado à depressão, outro nem tanto ao café, mas tendo-o como tema e título. Estranhas coincidências do destino ou, como diz Leonard Mlodinow em O Andar do Bêbado, apenas nossa humana e confusa mente tentando encontrar significado em coisas não relacionadas?

Pelo sim, pelo não, vou lá agora preparar mais um cafezinho...


Os tais estudos:
- KLATSKY, A.L. et al. "Coffee, Tea, and Mortality," ANN. EPIDEMIOL., 1993 (3), pp. 375-381.

- KAWACHI,I. et.al. "A prospective study of coffee drinking and suicide in women," ARCH. INTERN. MED., 1996 , 11 (156), pp 521-525.

- LIMA, D.R. : CAFÉ, DEPRESSÃO e ALCOOLISMO. - 1a parte . Jornal da ABIC, VIII, 97, 26, 1999

- LIMA,D.R. CAFÉ, DEPRESSÃO e ALCOOLISMO - 2a parte . Jornal da ABIC, VIII, 98, 24 , 1999

- LIMA, D. R. CUIDADO!!! O POPULAR CAFÉ E A PODEROSA MULHER... PODEM FAZER BEM À SAÚDE. Petrópolis: Medikka Ed. Científica, 2001. 111 p.

- LIMA, D. R. MANUAL DE FARMACOLOGIA CLÍNICA, TERAPÊUTICA E TOXICOLOGIA. Rio de Janeiro: Medsi Ed. Científica, 2003. 3 Volumes, 3.456 p.

- FLORES, G., ANDRADE, F. & LIMA D.R.: Can coffee help fighting the drug problem: preliminary results of the Brazilian Youth Drug Study (BYDS). ACTA PHARMACOLOGICA SINICA, Shangai, 2000, 21 (12): pp. 1059-1070.

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

ECOLOGIA, GAIA E A HUMANIDADE

No Estadão de domingo passado li um artigo que fez cair uma ficha.

O cientista inglês James Lovelock, autor da Teoria de Gaia, aquela que diz que a Terra é um organismo vivo e se comporta como tal, deu um outro ponto de vista para aquela urgência, onipresente na mídia global, em salvar o planeta: não é a Terra que está em perigo e precisa ser salva, mas sim a humanidade.

O planeta continuará a existir mesmo que o maltratemos ainda por muito tempo, mas talvez ele fique inabitável para nós, meros e mortais humanos.
Isso inverte toda a lógica das campanhas para salvar o planeta. Ou, no mínimo, acrescenta um enorme "senão...".

Mas ele termina a entrevista dizendo uma frase com a qual não concordei.



Ao ser perguntado sobre que conselho Gaia, a deusa Terra, daria aos homens, disse que seria algo como “Cuidem de si mesmos e sobrevivam. Vocês são meu organismo mais importante.


OK, ele é cientista e eu sou apenas um mané escrevendo sobre o que não entendo completamente, mas dizer que somos o mais importante órgão do planeta é forçado até para o mais crente dos crentes da nova era.


A Terra - e o Universo todo - não precisa de nós. Absolutamente. Para nada.


Ceifar a humanidade da face da Terra seria um alívio para ela, pois somos a única espécie que estraga tudo o que vê pela frente e ainda não sabemos como sobreviver sem destruir, como fazem todos os outros animais. Nosso sumiço seria, talvez, como cortar uma unha ou cabelo comprido que estivesse incomodando: não dói, pelo contrário, alivia.


Um cientista respeitado como ele deveria tomar mais cuidado com a visão antropocêntrica do Universo. Não somos o centro de tudo nem a medida de todas as coisas, muito pelo contrário.


Acredito mais em Iggy Pop e em Talking Heads: somos apenas os passageiros e estamos em uma viagem para lugar nenhum.

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

DECISÕES

A sabedoria popular diz que ano começando com bastante chuva é sinal de abundância. Verdadeiro se pensarmos num Brasil de 100 ou mais anos atrás, país eminentemente agrícola com grande parte da população ligada à atividade primária. Mas as coisas mudaram.

Ainda somos uma nação exportadora de commodities do campo mas nossa população, além de migrar para os centros urbanos e adotar as atividades secundárias e terciárias como meio de sustento, aumentou consideravelmente e passou a ocupar desordenadamente o solo.

Em vista das tragédias do início deste ano, muito óbvio é culpar a chuva. Alguns culpam a Natureza, como se ela estivesse se vingando do Homem, outros apelam à Teoria do Caos, culpam isso e aquilo... Nada como encontrar um bode expiatório nessas horas.

A real responsabilidade, ou falta dela, é das decisões do Homem. Algumas decisões erradas, equivocadas, desinformadas e até de má fé resultaram em mortes pela simples ignorância das condições de solo, matéria sobre a qual o Brasil não é deficiente em tecnologia e informação.
Bastava alguém verdadeiramente se preocupar com isso e, baseado nesse conhecimento, tomar decisões corretas, mesmo que impopulares, trabalhosas e custosas.

Então, que 2010 seja um ano de decisões sensatas, pensadas, ponderadas, bem informadas e que assumamos nossa responsabilidade por elas, lembrando sempre que talvez não possamos controlar todos os eventos resultantes de milhares de variáveis imponderáveis, mas que isso não nos isenta da responsabilidade de decidir qual passo dar hoje.

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

DISCRIMINAÇÃO


Uma rapidinha:

- Se na rua você chama alguém de "preto", cadeia! Se chama alguém de "viado", cadeia! Eles conseguiram seu lugar na sociedade. Eu, fumante, pelo contrário: agora com essa nova lei, sou legalmente discriminado. Não me conformo, sou discriminado, me sinto discriminado...

- Calma, não é bem assim...

- Sou discriminado, me sinto um pária, discriminado...

- Não enche o saco! Fica aí se fazendo de vítima... Eu não tenho filhos, sou vegetariano, não gosto de futebol, nem de samba, nem de novela e BBB. E sou ateu. Não me venha falar em discriminação...


segunda-feira, 30 de novembro de 2009

AUTO-AJUDA NÃO AUXILIA QUEM REALMENTE PRECISA



A capa da Veja desta semana apresenta matéria sobre a praga da auto-ajuda, que consome espaço nas prateleiras das livrarias, e provavelmente um monte de gente vai encher o peito pra falar bem desse troço, mais ou menos assim; “Tá vendo? Até saiu na capa da Veja!...” como se isso tivesse algum mérito ou tornasse a coisa séria ou científica.




Então, antes que você vá à livraria mais próxima gastar sua grana e deixar os autores ainda mais milionários, leia um pouco mais...
Repetir frases positivas como "Sou uma pessoa querida" ou "Vou ter sucesso" faz com que algumas pessoas se sintam piores em relação a si mesmas, ao invés de elevar a autoestima, destaca um estudo divulgado nos Estados Unidos.


"Desde pelo menos a publicação do livro de Norman Vincent Peale 'O poder do pensamento positivo' (1952), os meios de comunicação têm estimulado as pessoas a dizer coisas favoráveis sobre si mesmas", afirma o estudo coordenado por psicólogos canadenses, publicado na revista Psychological Science.


O estudo cita uma revista popular de autoajuda que recomenda aos leitores: "Testem recitar: 'Sou poderoso, sou forte e nada neste mundo pode me deter'". Mas o conselho não funciona para todos.


As frases positivas sobre si mesmo fazem com que as pessoas que já se sentem mal em relação a si mesmas não fiquem melhor, e sim pior, conclui o estudo coordenado pelos psicólogos Joanne Wood e John Lee, da Universidade de Waterloo, e Elaine Perunovic, da Universidade de New Brunswick.


No estudo, os especialistas pediram a pessoas com baixa e alta autoestima que repetissem a frase "Sou uma pessoa querida", para em seguida medir os estados de ânimo e os sentimentos dos participantes. Eles detectaram que os indivíduos que começaram o estudo com baixa autoestima se sentiram piores depois de repetir a frase.


"Penso que o que acontece é que quando uma pessoa com baixa autoestima repete pensamentos positivos, provavelmente tem pensamentos contraditórios", declarou Wood à AFP.


"Portanto, se afirmam 'Sou uma pessoa querida', podem estar pensando 'Bem, nem sempre sou querido' ou 'Não sou querido neste sentido' e estes pensamentos contraditórios podem fazer transbordar os pensamentos positivos", explicou.


Apesar dos pensamentos positivos parecerem efetivos quando integram uma terapia mais amplia, sozinhos tendem a reverter o efeito que supostamente devem ter, segundo Wood.
O psicólogo afirma que os livros, revistas e programas de TV de autoajuda devem para de dizer às pessoas que apenas a repretição de um mantra positivo levantará a autoestima. "É frustrante para as pessoas quando tentam e não funciona".



Os psicólogos sugerem que pensamentos positivos fora da realidade, como “eu me aceito completamente”, podem causar pensamentos contraditórios em pessoas com a auto-estima baixa. Estes pensamentos negativos podem, assim, sobrepor os pensamentos positivos.
Os pesquisadores concluem no estudo que “A repetição de frases auto-afirmativas podem beneficiar algumas pessoas, mas produzem efeitos negativos naquelas pessoas que mais precisam do benefício”. [Science Daily]

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

NATAL, TEMPO DE PAZ, AMOR E HIPOCRISIA...

Estão todos lá, gordos porém elegantes em seus ternos bem cortados, suas mulheres cuidando das crianças que correm pela sala, as tias trazendo os pratos para a ceia, os tios contando lorotas sobre seus passados, as vovós e vovôs dormindo nas cadeiras nos cantos e as famosas canções natalinas preenchendo o ambiente alegre e festivo.

Todos se abraçam, desejam os mais elevados sentimentos de paz, amor, saúde e felicidade uns aos outros.

Imagine essa festa natalina numa “famiglia” de mafiosos.

Não há como negar: são criminosos. Pessoalmente talvez nunca tenham matado alguém, jamais empunharam uma arma ou sequer um canivete. Mas foram mandantes de diversos crimes. Seu dinheiro comprou fidelidade e obediência às suas ordens de assassinatos, seqüestros, roubos...

Sobre aqueles sorrisos e sinceros desejos de paz e felicidade pairam cadáveres.
Sobre você também.

Sim, sei, você não é mafioso, claro, mas sobre sua mesa também jazem cadáveres. Pedaços deles.

São perus, lombos, tenders, patos, cabritos, leitões e outros animais mortos sob seu comando. Não se engane: no caso deles, você é o Chefão que não põe a mão na arma, mas paga para matar.

Paga ao açougueiro, que paga ao frigorífico, que paga à fazenda, que paga ao funcionário para enfiar um facão no pescoço de uma vaca, eletrocutar um porco, degolar um peru.

Em sua feliz festa natalina, na efusão de desejos de paz e felicidade, sob seu comando animais tiveram vidas miseráveis, foram transportados em péssimas condições, muitos morreram no caminho, foram levados aos abatedouros, torturados, esfolados, escalpelados e retalhados com muita dor e desespero num banho de sangue.
Mas nada disso você vê sobre sua imaculada toalha branca. Eles foram prévia e convenientemente transformados naquele naco de carne sobre sua mesa decorada com motivos natalinos.

Como desejar a paz enquanto se financia o inferno? Como sonhar com felicidade quando se estimula o sofrimento? Como falar sobre boa saúde quando se é responsável por tantas mortes?

Finja o quanto quiser, negue o quanto puder. Engane a si mesmo.

E assim, com sorriso nos lábios, deseje feliz natal a todos.


Para saber um pouco da verdade por trás de um peru de natal, leia:
http://www.vegetarianismo.com.br/sitio/index.php?option=com_content&task=view&id=1960&Itemid=144

terça-feira, 24 de novembro de 2009

HIPERSUPERMEGAULTRA CONECTADO


Enquanto e-mails, não param de chegar, você se informa dos assuntos na intranet da empresa onde trabalha. Como lá a chefia resolveu bloquear acessos às comunidades virtuais, você se atualiza pelo celular mesmo, preferencialmente no banheiro, quando o chefe não está vendo, ou durante o almoço.

Então você chega em casa depois de enfrentar aquele trânsito infernal do mundo real e imediatamente corre para o computador. Dá uma olhada no LinkedIn pra ver se não surge uma oportunidade em outra empresa e aproveita para ampliar seus contatos profisisonais no Via6. Seus colegas de MBA no Facebook aguardam uma resposta sua enquanto no Orkut aquele primo que mora em outro estado tem algo pra te contar.
Então você "sobe" umas fotos das suas últimas férias para o Flickr enquanto atende uma chamada no Skype na qual um colega pergunta por que você ainda não o segue no Twitter e você responde que não teve tempo pois estava atualizando seu site pessoal e tinha virado a madrugada numa lista de discussão. Com tudo isso, acabou esquecendo também de postar aquele artigo em seu Blog...

Se você não vive numa ilha deserta sem energia elétrica e sem nenhum contato com o resto do mundo, então com certeza deve estar em um ou mais dos ambientes virtuais mantendo contato com outros conectados, tornando-se sempre disponível.

LinkedIn, Facebook, Via6, Orkut, weblogs, fotologs, Flickr, Twitter, blogs, MySpace, UOLK,
Windows Live Space, sites pessoais, listas de discussão, e-mails e mais e-mails, Skype, Nimbuzz, telefone celular... Só pra mencionar os mais conhecidos. A lista completa é imensamente maior.
Estamos hoje brincando de Deus, ao menos no que se refere à onipresença. Queremos, ou melhor, precisamos estar em tantos lugares virtuais diferentes ao mesmo tempo que acabamos por ficar num único lugar real por muito tempo: em frente ao computador.

Não, esta não é mais uma crítica ao mergulho no mundo virtual em detrimento do mundo real. Acho essa divisão meio besta. Afinal, "do outro lado do teclado" há um humano como você. O problema mesmo é o tempo que a gente perde (alguns dirão "investe") nessas diversas conexões.

Eu tentei concentrar tudo num só lugar, agrupar todos os meus contatos e interesses, mas não demorou muito para alguém me convidar para outra "comunidade" X.

OK, pensei, estar em duas não trará problema. Mas daí outro c
olega enviou convite para participar do grupo Y. Por e-mail recebi uma quase intimação para instalar o Skype. Onde já se viu ainda falar por telefone? E em seguida me perguntam como ainda não estou no Twitter?..

Uma vez dentro, ah... Em pouco tempo você já não consegue mais deixar de ao menos dar uma espiada no que anda rolando num ou noutro canto virtual, precisa se inteirar dos papos, verificar oportunidades, fechar negócios, marcar encontros, matar saudades.

A LER (lesão por esforço repetitivo) nos pulsos em breve migrará para os dedos que se espremem nos minúsculos teclados dos celulares. Apesar de eliminar fronteiras e distâncias, o mundo virtual trará mais problemas oculares pois o foco de nossos olhos está sempre muito próximo, ali no monitor ou na telinha. Muito tempo sentado trará mais celulite para as mulheres e mais barriga para os homens...

Ou não!

Em breve, o deslumbramento com essas novas tecnologias passará, ficaremos mais seletivos e usaremos somente aquilo que realmente nos traz algum retorno e não pura perda de tempo, papos furados, informação inútil.

Se o mundo não acabar em 2.012 (ê mania besta essa de acabar com o mundo), quem viver, verá.

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

PALPITEIRO DE PLANTÃO

Eu estudei Publicidade e Marketing. Estudei bastante, mas mesmo assim dou bolas fora, como todos os especialistas por aí, exceto Kotler, claro.

Lembro que a primeira vez em que me deparei com a revista Caras torci o nariz e perguntei a mim mesmo quem iria querer comprar uma revista como aquela. Fútil, rala, superficial, falando da vida dos ricos e famosos em poses forçadas nas fotos em castelos da Europa, exibindo sorrisos clareados ou jaquetados em dentistas careiros.

Eu havia esquecido dos wannabes, aquele consumidor classe média que sonha em ser como os fotografados nela. São milhares, milhões provavelmente.


Errei feio também em relação ao BBB. Pensei que não passaria da segunda temporada. Afinal, quem iria querer assistir a um bando de gente tosca, porém bonita, falando bobagens em Português ruim? Até teria alguma graça se fosse realmente um reality show, mas todo mundo sabe que não é. Tem produção e enredo, participações, atitudes e representação de personagens numa espécie de novela, porém de nível ainda mais baixo.


Superestimei o público telespectador, assim como o fiz quando estreou o Programa do Ratinho. Eu achava que era apenas um programete do tipo “pinga sangue” para classe D e E, mas me surpreendi quando os mesmos wannabes classemedianos, em jantares regados a prosecco, o tornaram Cult, dizendo que achavam engraçado, divertido, apenas curiosidade. A febre passou, mas não deveria nem ter pegado.


Mas eu também acerto, às vezes.


Quando parecia que o mundo todo estava mergulhando de cabeça no Second Life eu me sentia, mais uma vez, um estranho no ninho. Não via utilidade naquilo nem como poderia ser sucesso algo que dependia necessariamente de volume (de pessoas, usuários) num país de baixa renda em que o acesso a computadores e banda larga ainda é utopia para mais de 90% da população.


Zilhões de dólares investidos, diversas empresas acionaram seus departamentos de marketing para criar estratégias para adentrar ao mundo virtual e... Deu no que deu, ou seja, em nada, aqui e lá fora.


Na linha “uma onda” – que vai embora do mesmo jeito que chega - acertei quanto ao “O Segredo”. Veio como uma avalanche, todo mundo só falava naquilo e... Virou fumaça, ninguém lembra mais. Ainda bem.


Então chega o iPhone.

Inegável: a Apple, pelas mãos mágicas de seu mestre Steve Jobs, tem o mérito de ter se transformado em mito, como a Harley Davidson, algo que pouquíssimas marcas conseguem. Apesar de ambas não passarem incólumes nem vencerem testes comparativos com suas concorrentes, elas tem um carisma construído com talento extraordinário, insistência e muitos milhões em marketing.


O iPhone transformou o mercado, fez toda a concorrência correr para o touchscreen (que eu ainda acho que é pura melação de visor) e as mais diversas empresas do planeta a desenvolverem softwares compatíveis com o aparelho, tentando aparentar modernidade e avanço tecnológico na rabeira do celular da Apple. Mas isso foi há meses, vários meses...

No final de semana, em anúncio de uma página inteira de jornal, vi mais um aplicativo desenvolvido para iPhone, um tal de iLocal.


Ôpa! Péraí.


A febre do iPhone já passou. Sim, ainda há muitos que sonham com um aparelho daqueles mas, segundo números divulgados recentemente, no Brasil foram comercializados “apenas” 200 mil iPhones, pouco mais, pouco menos.


Ora, num país com quase um celular por habitante, ou seja, uns 170 milhões de aparelhos, o número de iPhones é ínfimo. Pode-se até considerar que seja um público diferenciado, um nicho de mercado, mas é um engano. Nesse mesmo nicho estão os felizes proprietários de Blackberries, Nokias, Palms, vários deles mais caros que o iPhone e, não consigo deixar de citar, muito melhores tecnicamente falando.


Porquê não desenvolver um aplicativo “para celulares” ao invés de “para iPhone”?


Se alguém tiver números que corroborem a validade (ROI) de criar coisas só para o iPhone, eu gostaria de ver.

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

O VALOR DAS COISAS

Numa certa mostra internacional, artistas corriam para preparar a exposição de suas obras antes da abertura para o público. Quadros pra lá, eletricistas, esculturas pra cá, marceneiros, instalações diversas sendo montadas a toque de caixa e faxineiros tentando deixar tudo em ordem.



Portas abertas pela manhã, no início da tarde alguns sites já exibiam artigos com opiniões de críticos e especialistas sobre as obras da exposição.


Sobre uma delas escreveram, com comentários repletos de filosofia, psicologia, muitas metáforas e elogios, que o artista baseava-se na vida cotidiana atual, no caos das cidades grandes e nos sentimentos aflitivos de seus moradores para criar suas instalações. Era um artista famoso e suas obras valiam uma grana preta.


Corria, porém, entre os funcionários, um comentário fortemente abafado pelos organizadores da mostra que o tal artista havia passado mal na noite anterior enquanto preparava sua instalação. Abandonando o local sem terminá-la, os faxineiros não tiveram dúvida: acreditando que “aquilo” eram sobras de alguma coisa qualquer, puseram-se a fazer seu trabalho e varreram boa parte da “obra” para o lixo e amontoaram outro tanto de tralhas num canto para que não atrapalhasse a passagem dos visitantes.


A “obra” tão elogiosamente comentada era, em verdade, trabalho dos faxineiros.


Noutro caso, um museu em Londres ou Paris, não me lembro bem, exibiu durante algum tempo um valiosíssimo quadro de um artista do século XVIII. Visitantes faziam enormes filas para ver o tal quadro e críticos babavam sobre a técnica das pinceladas, a profundidade e equilíbrio das cores e formas, sobre a prodigiosa mente criadora do artista.


Tudo ruiu quando especialistas, utilizando técnicas laboratoriais, descobriram que o quadro não havia sido pintado pelo autor que imaginavam, ou seja, era falso. Como mágica, o quadro que valia algumas centenas de milhares de euros passou a valer menos que o custo das tintas nele utilizadas. Zero, nada, foi pro lixo.


Com estes dois casos ocorreram-me algumas idéias sobre o valor das coisas. Tanto a instalação como o quadro, com tantas qualidades amplamente elogiadas, não tinham nenhum valor em si. O valor estava em quem fez, ou melhor, em quem imaginavam que havia feito.
Assim: se a instalação foi montada pelo tal diarréico, é artística e vale muita grana; se foi feita por faxineiros não vale nada. O quadro, que nada mudou de antes para depois da revelação, valia euros com muitos zeros à direita se tivesse sido pintado pelo tal artista mas, pintado por um Zé qualquer, não valia nada.


Entendeu? O que vale não é “o que”, mas “quem”.


É mais ou menos como, popularmente falando, ter ou não etiqueta original. Uma camiseta de marca X custa R$150,00 mas uma idêntica, comprada no Largo da Batata em Pinheiros, pode ser encontrada por R$20,00.


Eu tenho profunda implicância com Miró. Certa vez, quando suas obras estavam no MASP e o fato tomou a mídia por um bom tempo (demais), eu e meus colegas fizemos umas reproduções de suas obras. Algumas ficaram realmente muito próximas do original.


Falando sério: porque os quadros do Miró valem tanto dinheiro, uns rabiscos que se não me avisassem eu juraria que haviam sido feitos por uma criança de quatro anos com problemas motores, e os nossos não valiam nada?


Simples: porque ele se tornou “marca”, “etiqueta”. Isso alcançado, qualquer m... que ele fizer valerá uma big Sansonite cheia de dólares.


Há muitas possibilidades de explicações sobre como se faz isso, como alguém consegue colocar tremendo valor nas tranqueiras que faz. Invente a sua, assim como pintores, escultores, costureiros e designers inventam mirabolantes explicações sobre o que fazem.


Os rabiscos de minha sobrinha devem valer uma fortuna, basta que eu invista alguns minutos na criação de uma explicação metafísica sobre os garranchos e convença algum marchand. Pronto!


Muitos caem na conversa e pagam os olhos da cara por algo que, acidentalmente, um chimpanzé poderia fazer.


Para valorizar e dar alguma erudição a uma praça perto de onde eu trabalhava, empresas ao redor se responsabilizaram pela manutenção dos canteiros, da limpeza e, finalmente, decidiram colocar uma obra de certa artista plástica. Ela era artista plástica, mas sua obra era um grosso tronco de madeira natural colocado meio em pé, num ângulo de 45 graus em relação ao chão.


Bonito isso: um enorme toco de madeira inclinado. Isso, hoje, é arte. Isso é arte? Minha nossa...

terça-feira, 10 de novembro de 2009

QUE ATIRE A PRIMEIRA PEDRA

Diz a lenda, ou melhor, a Bíblia, que o zé povinho se juntou para apedrejar Maria Madalena por que ela era adúltera e, nas horas vagas, prostituta. Era um método precursor do atual stone washed, só que pra lavar pecados e não calças jeans.
Provavelmente, entre os apedrejadores estariam alguns dos que se utilizaram dos serviços dela, mas naquele momento, levados pela animosidade da turba alucinada, entraram na malhação.

É um caso atualmente impensável e, além de considerado vandalismo cruel, poderia ser classificado como “fazer justiça com as próprias mãos”, afinal hoje temos instituições e representantes oficiais encarregados de punições quando as regras sociais são violadas.

Isso foi há quase dois mil anos segundo o tal livro, mas a lição ficou. E o povo não evoluiu nada.

A Maria Madalena da hora é representada por Geyse, uma garota cheinha de curvas que usava um minivestido rosa choque colado ao corpo. Não, ela não é – ao menos pelo que se sabe – adúltera nem prostituta, não vai estar numa nova edição da Bíblia nem queria lavar seu vestido à pedras mas, por azar dela ou por falta de tempo dele, nesta atualização do episódio Jesus não veio ao seu socorro fazer a famosa pergunta: “Que atire a primeira pedra...”.

Aliás, Jesus teve sorte nessa hora. Estivessem por ali sua mãe ou um português a pobre teria levado uma tijolada na testa. Explico: sua mãe, não a sua, a de Jesus, nunca errou no sentido de que nunca pecou (afinal, ele surgiu de uma imaculada conceição, não?!) e um português teria interpretado a pergunta como um desafio à sua pontaria...

Com o caso circulando por toda a imprensa mundial, resta pouco a acrescentar, mas fico horrorizado e temeroso quando ouço meninas e garotos da mesma faculdade, com seus vinte e poucos anos, fazendo comentários profunda e retrogradamente machistas e, mal disfarçadamente, incriminando Geyse. Fico ainda mais descrente no futuro da humanidade quando garotos da faculdade dizem que “...oras, mas ela estava provocando...”.


A mentalidade dos jovens, de boa parte deles, traz conceitos e idéias que remontam aos mais negros períodos da Idade Média, isso sem falar do perigosíssimo espírito de manada, sempre criticado aqui no Pausa, que toma conta das mentes fracas e ainda pouco desenvolvidas .

Para esses jovens será preciso alterar a letra da música:

“...ainda somos os mesmos e vivemos,
ainda somos os mesmos e vivemos,
a-in-da s-o-m-o-s os meeesmos e vivemos
coooooomo neandertaaaaaaa-a-a-a-ais...”

sábado, 7 de novembro de 2009

CURSO PARA SER DO CONTRA

Estou lendo, simultaneamente, O Andar do Bêbado, de Leonard Mlodnow, e A Morte da Fé, de Sam Harris.



Sobre o livro do Harris nem preciso dizer nada. Comprei sabendo que ia "chover no molhado" pois já li Deus Não É Grande, de Christopher Hitchens e Carta a Uma Nação Cristã, do próprio Harris. Não li Deus, Um Delírio porque já li tantas resenhas e comentários que tenho a impressão de já ter lido o livro todo.



Escolho esse tipo de leitura por dois motivos: me divirto e sinto que não estou sozinho no planeta e que há mais gente que pensa como eu. De maneira muito mais elaborada e aprofundada, claro, esses autores fazem as mesmas críticas que eu faço à crença em coisas sobrenaturais. Penso, realmente, como dito no documentário Religulous por Bill Maher, que "...a fé só pode ser uma disfunção neurológica".


O outro livro, involuntariamente, é um apoio científico às questões discutidas nesses citados acima, porém focando outros tipos de crenças.


Eu gosto de iconoclastas e autores que derrubam ilusões. Mlodnow, em seu livro, destrói uma a uma as diversas certezas e afirmações corriqueiras que nos acompanham no dia a dia (não sei se tem ou não hífen aí).


Falácias do tipo "post hoc, ergo propter hoc", ou seja, aquelas afirmações do tipo "isso aconteceu por causa daquilo" são implodidas em suas raízes e ele, doutor em Física pela Universidade de Berkeley, mostra cientificamente como a aleatoriedade e eventos externos imprevisíveis estão muito mais presentes em nossas vidas do que gostaríamos de imaginar.


Vai contra a maioria absoluta das pessoas nesse planeta? Sim, porque "acreditar é mais fácil que pensar. Por isso há muito mais crentes que pensadores" disse Bruce Calvert.





E você, está lendo o quê?

terça-feira, 3 de novembro de 2009

FINADOS


Ontem foi Dia de Finados.


Cemitérios lotados, muitas flores e velas vendidas fizeram a alegria dos comerciantes nas portas do além.


Como de costume, comecei a pensar nos costumes.


Certa vez, quando comentei com amigos que um fulano mantinha as cinzas de sua mãe na estante da sala, acharam estranhíssimo, tétrico.


Guardar aquelas cinzas limpinhas, esterilizadas pelas labaredas do imenso forno crematório e guardadas numa caixinha ornamental era, para eles, algo que não fariam jamais.


Porém eles, tão assustados com a inofensiva caixinha, não achavam estranho construir uma pequena edificação sobre um buraco onde se escondia o cadáver de um familiar e, pior, mantinham o hábito de ir visitar essa edificação acreditando que ali estaria mesmo um parente e não uma carcaça putrefata consumida por vermes.


E mais: levavam flores e velas para a carcaça, se é que ainda havia alguma e não apenas ossos podres.


Caixinha com cinzas é estranho, buraco com carne podre não. Que gente estranha esses meus amigos...


Em pleno Século XXI, numa cidade caótica e carente de espaço, seria muito mais útil se as enormes áreas ocupadas por cemitérios fossem destinadas a praças ou parques, centros culturais, creches ou , ainda mais prático, estacionamentos.


O hábito de ir ao cemitério é apenas um ritual que, como todos eles, são procedimentos para sintonizar nossa mente num determinado assunto, no caso, um ente querido. Mas poderiam lembrar dele todo dia se tivessem suas cinzas numa caixinha na estante, não necessitando esperar o dia oficial para isso.


Em cinzas esse ritual é muito mais prático pois não ocupa muito espaço, é mais higiênico, não fede, não apodrece, não cria bicho como dizem. Se sua família for grande e fique difícil decidir quem guardará a caixinha, façam rodízio. Cada um fica um pouco com as cinzas e ela seria um bom motivo para reunir as famílias, uns visitando os outros em torno da caixinha. Evitaria o trânsito, o pagamento de flanelinhas para estacionar, os custos de manutenção da vaga, ou melhor, da vala no cemitério, etc., etc.


Visitar túmulo - um amontoado de cimento, tijolos e azulejos (ou mármores para os mais abastados) com um buraco embaixo e carniça dentro, é um hábito arcaico e tão fantasiosamente infantil quanto esperar Papai Noel ou Coelhinho da Páscoa.


Mas, como na música, ainda viveremos e seremos por muito tempo como nossos pais. Até depois de mortos.