Noite dessas, zapeando como um zumbi frente à TV, assisti uma parte do programa Saia Justa no GNT bem quando as quatro cavaleiras do após calipso discutiam se a indústria pornográfica ditava ou não comportamentos, se a mulher era explorada ou exploradora nesse filão, etc., etc.
Independente dos diversos pontos de vista apresentados, notei algum preconceito, um certo asco, tons pejorativos quando falavam em pornografia, apesar de ser um produto de uma indústria que rende mais que a fonográfica (diz a lenda), por exemplo.
Eu ia escrever para elas, mas resolvi colocar uns pontos aqui mesmo. Um inicial: não sou pornógrafo, mas o assunto me interessa por motivos que descreverei abaixo.
Primeiro há que se lembrar que, como em qualquer ramo de indústria, seus “funcionários” tem direitos e interesses preservados em contratos, tem sindicatos, as estrelas tem empresários e promovem noites de autógrafos em eventos concorridíssimos.
Há informações sobre um “mercado paralelo”, de exploração, tráfico, abuso infantil e outras bizarrices, mas isso não é privilégio da indústria pornográfica, não é mesmo?
Muitas de suas estrelas (e estrelos) estão lá por opção, a despeito de complicadíssimas explicações psicológicas para tal escolha. As estórias sobre aquela mulher coitada, que estava na rua da amargura, caída nas sarjetas, drogada, miserável e entrou para o mundo do sexo como última esperança de sobreviver é tão imaginária quanto as estórias de Cinderela e Branca de Neve. Pura ingenuidade.
Em segundo, a fronteira entre o que é sensual – bem aceito - e o que é pornográfico – mal visto -também é imaginária, pessoal, cultural, temporal. Um beijo em público já foi considerado ato obsceno, não se esqueça. Em países islâmicos, ainda hoje, mulheres usam burca pois não podem mostrar nada.
Vamos lá: em uma cena num filme comercial róliudiano, ganhador de Oscar, um casal está debaixo dos lençóis. Pelos seus movimentos, suspiros e gemidos só um completo tapado não imagina o que estão fazendo. Num filme XXX a cena é idêntica e apenas não há lençol!
Ah, o problema é tirar o lençol, ou melhor, tirar a cena de sua imaginação e colocá-la diante de seus olhos... Mas seus olhos não vêem nada, é o cérebro que vê, interpretando a luz que entra pelos seus olhos. É o mesmo cérebro que imagina a cena sob o lençol...
Ah, de novo, mas você não gosta de ver genitais na tela... Hmm, na tela não, mas ao vivo gosta não é mesmo? E quanto mais perto, melhor, não?...
Aliás, porque tanta implicância com os genitais? Arrisco: é porque dão prazer, algo perigoso que nos foi martelado até o nível genético por, possivelmente, a necessidade de controle de natalidade num mundo pré-histórico e, mais adiante, pela dominância cristã no mundo antigo que infelizmente dura até agora.
Está aí um outro ponto importante: o prazer – algo bom e desejado – é pecaminoso, mas a violência de uma morte na fogueira ou enforcamento – algo terrível – é feito em praça pública. Tem algo errado com as religiões cristãs.
Tiros, facadas, estupros (sem mostrar os genitais, claro), gente morrendo torturada, metralhada, cabeças decepadas – coisas muito, muito ruins - na TV pode. Gente transando – algo bom e que todos gostariam de fazer hoje à noite - não pode. Há algo muito errado com a cabeça dessa gente.
Em “O Povo contra Larry Flint” esse paradoxo foi muito bem explorado na cena do discurso a céu aberto.
Ah, você faz entre quatro paredes... Mas você assiste o filme onde, num mini-DVD player no Ibirapuera? Villa Lobos? Pracinha da esquina?...
Talvez você não pratique sexo grupal nem sessões de sadomasoquismo, mas existem filmes XXX papai-e-mamãe pra você também. Tem pra todos os gostos.
Que mal há, afinal, em ver alguém fazendo aquilo que VOCÊ faz (ou quer loucamente fazer)?
Entendeu o motivo de meu interesse no assunto? Hipocrisia.