quarta-feira, 24 de março de 2010
SUA EMPRESA TEM CAMISA, CALÇA E SAPATO?
Se você trabalha numa grande empresa, com certeza já os viu. Se ela é média, provavelmente já viu. Se for pequena, se não viu, verá.
Por algum motivo qualquer, perdido em meio aos modismos de administração que infestaram todas as mídias e rechearam estantes interias sobre eles nas livrarias, as empresas resolveram que era importante dizer ao público a que vieram.
O intuito é nobre: criar uma espécie de estatuto que, supostamente, traduziria as intenções da empresa em relação ao mercado e nortearia as ações e comportamento de seus funcionários.
Mas é mais que isso. São três parágrafos que tentam, com todas as letras, passar certa imagem ao público.
Funciona mais ou menos assim: imagine que você vai sair pela primeira vez com uma garota no próximo sábado, está “afinzão” dela, ansioso, e fará o possível para causar uma determinada impressão. Afinal, é a primeira que fica.
Não importa se você passa a semana toda de chinelo de dedo, sujo de graxa ou cheirando a peixe, sem fazer a barba e com o cabelo oleoso grudado na testa.
No sábado pela manhã você mobiliza toda a sua família, fica horas implorando a seu pai que lhe empreste o carro, pede à empregada que passe melhor aquela camisa e à sua mãe que lhe ajude a escolher a melhor combinação de calça e sapato. À noitinha você corre pro banheiro e se dá aquele trato: banhão, gel no cabelo, cara limpa e lisa como bunda de nenê.
Então lá vai você pro seu quarto decidir qual camisa, calça e sapato irão causar a melhor impressão e, quem sabe, transformar aquele amor platônico numa noitada no motel mais próximo.
Viu? É assim que as empresas escrevem a famosa trinca “missão, visão, valores”.
Movimentam um grupo de funcionários, muito provavelmente o pessoal de marketing junto, e decidem quais as três frases que irão representar a empresa para causar a melhor impressão possível.
Muitos dos funcionários, do presidente ao porteiro, de tanto repetir o mantra podem começar a acreditar naquelas três frases, mesmo sem verificar se na realidade as colocam em prática.
O necessário é passar a melhor imagem, causando a tal primeira boa impressão. Depois, consumidor fisgado e transformado em cliente, a empresa pode, como nosso carinha ali de cima, voltar à graxa.
Se fossem honestas – consigo mesmas e com o público – toda e qualquer empresa poderia ter um quadro mais ou menos assim:
VISÃO – percebemos um nicho de mercado que nos dará retorno excelente, pois detemos com exclusividade a tecnologia para atendê-lo, podendo praticar os preços que quisermos, preferencialmente exorbitantes amparados num mercado cativo, trazendo lucros excepcionais para a companhia;
MISSÃO – atacar o nicho com unhas e dentes arrancando até o último centavo, escorchar fornecedores para obtermos o menor custo e criar obstáculos reais, virtuais e legais para a concorrência e novos entrantes;
VALORES – remunerar os acionistas acima de tudo, pois são eles que mantêm nossos empregos, salários e bônus anuais.
Para não ser apenas um quadro na parede, missão-visão-valores edificantes e nobres precisam “brotar” da empresa, ser aquilo que, de modo geral, realmente norteia sua existência e não como uma exceção de sábado à noite, decididos em reuniões além do horário normal impostas a um grupo de funcionários que gostariam muito de ir mais cedo pra casa.
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quinta-feira, 18 de março de 2010
LIBERDADE RELIGIOSA NO PNDH DO LULA
O Governo está revendo no novo texto do PNDH a questão da proibição da exposição de imagens religiosas nas escolas. Provavelmente, com os lobbys católicos e evangélicos, isso vai mudar e vão deixar os crucifixos acima das lousas como sempre estiveram.
Êpa! Estamos falando de “símbolos religiosos” e não apenas de símbolos cristãos, certo?
Se há liberdade, então poderemos colocar uma estatueta do Exu Caveira também?
E você, evangélico, estudaria numa sala com Oxóssi te encarando?
E você católico, acha feia a Pomba Gira? Justo você que adora um homem seminu, esfolado, esfaqueado, estraçalhado, torturado e todo ensanguentado pregado num instrumento de tortura?
Algum cristão irá se incomodar se colocarmos uma pequena estátua do simpático Ganesha?
E para aqueles que já estão pensando no argumento falacioso de que "não podemos negar nossa história cristã", saibam que a tal "nossa história" não seria possível sem a imensa população negra raptada da África por branquelos.
Liberdade só tem sentido se for para todos, não apenas para alguns.
Êpa! Estamos falando de “símbolos religiosos” e não apenas de símbolos cristãos, certo?
Se há liberdade, então poderemos colocar uma estatueta do Exu Caveira também?
E você, evangélico, estudaria numa sala com Oxóssi te encarando?
E você católico, acha feia a Pomba Gira? Justo você que adora um homem seminu, esfolado, esfaqueado, estraçalhado, torturado e todo ensanguentado pregado num instrumento de tortura?
Algum cristão irá se incomodar se colocarmos uma pequena estátua do simpático Ganesha?
E para aqueles que já estão pensando no argumento falacioso de que "não podemos negar nossa história cristã", saibam que a tal "nossa história" não seria possível sem a imensa população negra raptada da África por branquelos.
Liberdade só tem sentido se for para todos, não apenas para alguns.
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segunda-feira, 15 de março de 2010
RESTAURANT WEEK
Nas duas semanas que passaram a cidade – e todos os seus bons de garfo – tiveram a oportunidade de conhecer novos restaurantes com o advento da São Paulo Restaurant Week – uma week de duas semanas, vai entender....
Durante os dias do evento diversos restaurantes ofereceram um menu especial completo – entrada, prato principal e sobremesa - a preços reduzidos. Li em algum lugar que a frequência nos restaurantes participantes praticamente triplica nesse período.
Bom para todos, principalmente o consumidor – ah, hoje é Dia do Consumidor, sabia?
Mas não para todos os consumidores. Os restaurantes participantes, mais de 200, ignoraram totalmente os adeptos do vegetarianismo e a organização do evento não parece ter tido a preocupação de incluir ao menos um restaurante vegetariano na comilança (ou terão sido seus proprietários que não quiseram se inscrever?).
Querendo ir a um restaurante participante da week de 14 dias (se a moda pega, logo teremos o Mês de 45 dias, a Quinzena de 38 dias...), uma pessoa que não come carne teria de se contentar com massa em duas ou três casas, se tanto.
Apesar de apresentar pratos diversificados e alguns até bem elaborados, restauranteurs e chefs também parecem padecer da mesma ignorância gastronômica que faz com que as pessoas comuns perguntem “...mas você come o quê, só salada e massa?”.
O que falta para que os vegetarianos não sejam ignorados numa das maiores cidades do planeta? O que falta para que o vegetarianismo “cresça e apareça”? Somos poucos? Ou somos muitos que se contentam com pouco?
Apesar de ter feito essas perguntas há mais de três anos, elas continuam a me incomodar:
- vegetarianos não jantam? Se sim, porque os restaurantes vegetarianos não abrem à noite?
- porque restaurantes vegetarianos não podem se parecer com restaurantes “normais”?
- porque os atendentes são sempre jovens universitários (quando muito) cabeludos e mal preparados ao invés de garçons como em todos os outros lugares?
Veggies, não me crucifiquem. Sou vegetariano por opção, fui eu que escolhi esse caminho por diversas questões, mas tenho de admitir que minha vida era bem mais fácil e divertida quando não tinha o que se demonstra ser uma enorme limitação – e não precisava ser assim.
Durante os dias do evento diversos restaurantes ofereceram um menu especial completo – entrada, prato principal e sobremesa - a preços reduzidos. Li em algum lugar que a frequência nos restaurantes participantes praticamente triplica nesse período.
Bom para todos, principalmente o consumidor – ah, hoje é Dia do Consumidor, sabia?
Mas não para todos os consumidores. Os restaurantes participantes, mais de 200, ignoraram totalmente os adeptos do vegetarianismo e a organização do evento não parece ter tido a preocupação de incluir ao menos um restaurante vegetariano na comilança (ou terão sido seus proprietários que não quiseram se inscrever?).
Querendo ir a um restaurante participante da week de 14 dias (se a moda pega, logo teremos o Mês de 45 dias, a Quinzena de 38 dias...), uma pessoa que não come carne teria de se contentar com massa em duas ou três casas, se tanto.
Apesar de apresentar pratos diversificados e alguns até bem elaborados, restauranteurs e chefs também parecem padecer da mesma ignorância gastronômica que faz com que as pessoas comuns perguntem “...mas você come o quê, só salada e massa?”.
O que falta para que os vegetarianos não sejam ignorados numa das maiores cidades do planeta? O que falta para que o vegetarianismo “cresça e apareça”? Somos poucos? Ou somos muitos que se contentam com pouco?
Apesar de ter feito essas perguntas há mais de três anos, elas continuam a me incomodar:
- vegetarianos não jantam? Se sim, porque os restaurantes vegetarianos não abrem à noite?
- porque restaurantes vegetarianos não podem se parecer com restaurantes “normais”?
- porque os atendentes são sempre jovens universitários (quando muito) cabeludos e mal preparados ao invés de garçons como em todos os outros lugares?
Veggies, não me crucifiquem. Sou vegetariano por opção, fui eu que escolhi esse caminho por diversas questões, mas tenho de admitir que minha vida era bem mais fácil e divertida quando não tinha o que se demonstra ser uma enorme limitação – e não precisava ser assim.
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