terça-feira, 27 de abril de 2010

E EU ACREDITEI...



“Uma grande razão por trás do sucesso da Toyota é seu sistema de fabricação”.


“O STP é um sistema de negócios,uma forma de alinhar na melhor seqüênciaou formato as ações que criam valor, realizar atividades de forma eficiente ecada vez mais eficaz, sendo possível fazer cada vez mais com cada vez menos (Shingo, 1996)”

“O Sistema de Produção Enxuta ou Sistema Toyota de Produção (STP) está sendo implementado em várias empresas ao redor do mundo para se atingir um alto grau de desempenho e competitividade, acelerar seus processos, reduzir perdas e melhorar a qualidade. Este artigo tem como objetivo demonstrar os princípios do sistema de uma forma ampla (filosofia) que resultaram na conquistada liderança do mercado mundial de automóveis por parte da Toyota.”

“5Ss: Aprenda o programa 5Ss com a fábrica da Toyota no Japão - Aumente a produtividade e segurança em seu ambiente de trabalho aplicando o programa 5Ss. Veja as fotos de como aplicam o conceito 5Ss na fábrica da Toyota”.


“O Modelo Toyota - 14 Princípios de gestão do maior fabricante do mundo”, de Jeffrey K. Liker.

Teses acadêmicas, artigos em milhares de sites e revistas sobre management, palestras proferidas por consultores e gurus da administração em todos os países, livros e constantemente citada como exemplo em aulas de cursos superiores e MBAs (eu que o diga...), a Toyota conquistou o mundo com o seu ultracultuado modelo de produção.

Os mais exaltados não se cansavam de compará-la à GM, apontando como esta última, antes gigante inabalável do setor automobilístico, fora passada para trás pela empresa nipônica.


Desmanchavam-se em elogios à japonesa e crucificavam, desdenhavam a americana que tinha um sistema antiquado de produção, de gerenciamento, estratégia de lançamento de produtos equivocada, etc., etc.

Ninguém, ao menos que eu tenha notícia, em nenhum momento criticou o modelo Toyota. Ninguém parou para pensar que nessa ânsia desenfreada como se quisesse dominar o mundo em algum momento algo pudesse desandar.


Pois é. A GM ainda está aí, firme e forte, enquanto que a Toyota...


Estranhamente, é difícil agora encontrar na internet as capas das edições passadas das revistas que tanto elogiaram o tal STP japoronga, os artigos que li, os PDFs e os slides que infelizmente não salvei.


Claro, apagaram tudo rapidinho. Quem iria continuar dando crédito a um manager ou consultor que se melava todo de elogiar a empresa japonesa?


Se ninguém, nenhum consultor, professor, articulista ou jornalista previu que algo assim pudesse acontecer, então tome mais cuidado da próxima vez que surgir uma “onda” em torno de uma empresa ou determinado assunto, desconfie. Mas desconfie mesmo.


Ondas são, por sua característica intrínseca, fugazes. Vão embora tão rápido quanto chegam.

quinta-feira, 15 de abril de 2010

E POR FALAR EM CAFÉ...


Tempos atrás houve grande celeuma e discussões acaloradas sobre cafeterias. A rede Starbucks estava para chegar ao Brasil e foi, através de diversos comentários e posts na internet, bem-vinda e demonizada por montes de pessoas de ambos os lados.


Demonizada por questões políticas (abusam dos funcionários, só contratam adolescentes para não ter vínculo empregatício...), patrióticas tipo “o café é nosso” ou puro preconceito contra uma empresa onde “...só os metidos a ricos vão tomar café lá” e que “... não vende café, vende conceito”.

E foi bem-vinda por muitos, que para lá se deslocaram e beberam várias xícaras de “conceito”...

Nas discussões de nível menos raso, a preocupação era o preço do café-com-conceito. Um parêntese: sim, a rede tem um conceito, sua marca tem alma, mas vende sim café, e cafés especiais do mundo inteiro de qualidade inquestionável.

A questão nesses fóruns e nos diversos e-mails que troquei com colegas era se o brasileiro médio estaria disposto a pagar 4 ou 5 reais – era o valor que se estimava – por um cafezinho na Starbucks enquanto costumávamos pagar R$1,00 ou R$1,30 em outras cafeterias já estabelecidas aqui.

A resposta agora é óbvia: sim, está mais que disposto. Basta passar em frente a qualquer loja da rede, especialmente as de shoppings (criticadas por essa localização, pois perdiam o charme das de rua como em NY) e perceber que em muitos horários nem se encontra lugar pra sentar.

E mais: o tal brasileiro médio se mostrou tão disposto a pagar bem mais caro por café e conceito que outras redes, antes “sem conceito”, reestilizaram suas lojas e alinharam seus preços para cima, acompanhando a recém-chegada.

Marqueteiros de plantão que duvidavam que esse “P” estivesse adequado ao mercado nacional tiveram de rever seus conceitos. O fenômeno foi o inverso do esperado: uma rede com produtos mais caros encareceu todo o mercado.
Noutro causo, tempos depois, chega a Nespresso. O Madia escreveu primeiro o que eu já pensava em escrever, mas aí vai: cafés especiais, lojas fantásticas, atendimento impecável, máquinas bacanas para você fazer seu espresso em casa, mas...
Péra lá: as máquinas deles só fazem café com o café deles, pois utilizam um “exclusivo sistema de cápsulas”, o que significa não poder utilizar nenhum outro tipo ou marca de café que não o deles ao adquirir uma máquina daquelas.
Foi uma tentativa de lock in de sistema descrito no modelo Delta de estratégia de mercado: a empresa te prende a ela e impede evasão ou invasão com tecnologia própria, patenteada.

Funcionou no começo, ou até esse momento, pois os early users endinheirados já correram para a novidade. Mas mesmo eles começam a reclamar, pois não encontram as tais cápsulas facilmente por aí.

Para quem comprou uma máquina Nespresso, tomar café em casa obriga a uma visita às lojas Nespresso sempre que seu estoque de cápsulas acabar.

Em tempos de desbloqueio de celular, uma empresa vem e bloqueia seu sagrado café. Estranho isso, não? Será que vai pra frente?...

Se você é da turma que acha ridículo pagarmos caro para tomar nosso próprio café exportado pra lá como commoditie e em seguida ele mesmo importado como artigo de luxo após receber uma etiqueta de grife, pense: enquanto ainda nos esfacelamos para baixar o preço da saca de café e concorrer com outros diversos países lucrando migalhas com um produto da indústria primária, outros países vendem "conceitos", máquinas, filtros de papel e outros diversos, todos em torno do mesmo café, lucrando muito mais com a indústria terciária.

Quando seremos, de fato, o país do futuro?