Em um lugar remoto do Universo, Pahz Khoa, um ser poderosíssimo, observava.
Com um tamanho 200 vezes maior que o Sol, sua razão de existir era manter os planetas livres de doenças, de vermes parasitas que pudessem colocar em risco seus equilíbrios naturais, seus ecossistemas.
Por zilhões de anos Pahz Khoa manteve a ordem e limpeza nos planetas de vários sistemas solares. Bastava ver que um planetinha começava a ficar infestado de vermes, pimba!, lançava seus raios cósmicos-megaplasmáticos, eliminava toda a infecção do planeta e tudo voltava ao normal.
Certa vez, meio sem querer, Pahz Khoa notou que num planetinha azulado comaçava a proliferar uma peste bípede. Eram serezinhos bem desprezíveis, não traziam nada de bom ao planeta mas se achavam os reis da cocada preta, se sentiam o centro do Universo, como se este tivesse sido criado para eles.
Pahz Khoa abriu sua planilha de projeção de evolução de espécies em seu iPaedh e se assustou quando viu que, em pouco mais de 2.000 anos – um piscar de olhos para ele – aquela especiezinha nojenta iria colocar o planetinha azul em sério risco.
Ele já preparava sua pontaria quando em seu smarthphoneae um alarme soou. Era um aviso sobre uma das regras do manual de limpeza e conservação do Universo: antes de eliminar uma espécie, ele precisava verificar, observar de perto se realmente deveria acabar com ela.
Mas havia dificuldades nesse caso. O planeta era muito pequeno, os seres da peste bípede que o infestava eram minúsculos, difíceis de enxergar. Pahz Khoa já tinha alguns trilhões de anos e sua vista andava meio cansada...
Então ele teve uma ideia: utilizando-se de seus incomensuráveis poderes e controle absoluto sobre suas formas e células, como que num processo de mitose fez com que um minimicrominúsculo pedaço de si mesmo cruzasse o espaço sideral e se depositasse dentro de uma fêmea da praga, emprenhando-a. Assim ele se transformaria num daqueles seres e poderia observá-los bem de perto.
O microscópico pedaço de Pahz Khoa nasceu como um ser daquela espécie prestes a ser dizimada, viveu entre eles e andou aprontando algumas interferências não permitidas, como fazer cegos enxergarem, levantar mortos das tumbas e transformar água em vinho numa festa repleta de menores de idade.
Ao ficar sabendo disso, seu chefe no departamento de limpeza universal ficou furioso. Mas antes que pudesse ser julgado e punido pelas interferências não autorizadas, Pahz Khoa fugiu, sumiu no espaço sideral.
O chefe, não conseguindo encontrá-lo em nenhum canto do Universo, pensou numa maneira macabra de fazê-lo aparecer: iria manipular os seres da praga naquele planetinha azul de modo que prendessem e torturassem da maneira mais cruel, sádica e sanguinária aquele ser que era na verdade um pedacinho de Pahz Khoa.
Como num vudu cósmico, imaginava que espetando, esfolando, chicoteando, esfacelando, esgarçando a pele daquele serzinho Pahz Khoa também sentiria o mesmo tormento e, não aguentando, retornaria para ser julgado.
Não adiantou nada. Pahz Khoa continuou desaparecido nos confins do Universo, nunca mais voltou. O chefe dele, por essa interferência também indevida, foi punido e teve de deixar o cargo.
E lá, no planetinha azul, a praga continuou sua marcha rumo à devastação.