Assim como a Lua vem depois do Sol e a chuva vem depois das 16h30, aí vem mais um Carnaval.
Como já escrevi anteriormente, meio que “por decreto” a multidão tupiniquim, até aquela de gravatas, ternos, taileurs e escarpins deixa-os de lado para entrar num fantasioso reino de vale tudo.
Muitos dos que passaram o ano todo com comedimento, pessoas até pudicas, de repente, como por encanto, se transformam: homens vestem-se de mulheres, mulheres vestem-se de coisa nenhuma e todos ficam pulando, suando, bebendo, lascivos, sedentos...
Porque não podemos ser lascivos e sedentos o ano todo, mesmo usando ternos e taileurs? Porque é preciso uma festa nacional para se mostrar quem realmente é por baixo da rala camada de verniz? Se Carnaval é uma oportunidade de sexo fácil para muitos, porque esperar o ano todo por esses quatro dias?
Fiquem disponíveis à esbórnia fulltime... Qual o problema? Somos todos adultos, pagamos nossas contas...
No Carnaval todos pulam alegres e felizes. Sorry, não se fica alegre e feliz por imposição de uma data específica. Isso tem outro nome...
E, mágica, todos voltam àquela vidinha mais ou menos na quarta à tarde ou quinta-feira pela manhã.
Não quero escrever uma (mais uma) crítica ao Carnaval. Afinal, analisando mais profundamente, não é o evento anual nem o comportamento das pessoas que me incomoda, mas sim minha (suposta?) solidão.
Não, não me sinto só por não ir pular, não ficar bêbado e suando em bicas num salão ou avenida inundada por barulho (aquilo é música?) ensurdecedor, apertado como sardinha em meio à multidão correndo o risco de ser atropelado por um caminhão de trio elétrico.
Sinto-me só por não ter com quem compartilhar essa minha aversão a tudo isso.
Lembro da época em que minha irmã, dois anos mais nova, saía com a turma de amigos e amigas, primos e primas, todos alegres para a matinê no clube. Eu, criança, já não via sentido em tudo aquilo e ficava sozinho com a Coleção Conhecer, lendo sobre os vikings, sobre as Cruzadas, sobre a chegada à Lua, sobre a vida marinha...
Isso permaneceu até os dias de hoje e, de certo modo, por não haver mais ninguém como eu por perto, fui levado a acreditar que eu era esquisito (ou chato, ou doente, ou maluco, sei lá).
Como seria bom ter tido por perto alguém que não se importasse com a alucinação que toma quase que a todos nessa época, que não ficasse aflito ou aflita por estar ali sentado “enquanto todo mundo aproveita” (?!?), mas que gostasse de ler, como eu, que apreciasse o silêncio, alguém com quem pudesse trocar ideias, filosofar, deixar a mente viajar, falar em voz baixa, contemplando possibilidades imaginárias e, quem sabe, supostamente perceber juntos alguma verdade até então encoberta.
Pessoas assim ficam bem em personagens de filmes e seriados. Duvido que Grisson, ex-CSI, gostasse de pular Carnaval. Mas na vida real, nem o mais simpático personagem tem seguidores quando aquilo que é seu charme vai contra o que a maioria pensa ser normal e está louca pra aproveitar.
3 comentários:
Não se sinta sozinho meu amigo...também tenho aversão ao carnaval e prefiro ficar isolado com minha família, se possível sem ligar a televisão, pois dessa forma consigo pensar um pouco mais sobre o que vale a pena.
Compartilho com você da visão que estes quatro, quatro e meio ou cinco dias servem para as pessoas mostrarem quem realmente são ou quem gostariam de ser.
Fábio Aguiar
Não gosto de carnaval! Todo ano a mesma coisa. Globeleza, Escola de Samba, Disputas, Desfiles "deslumbrantes", blá, blá, blá... Quando chega o carnaval, já penso: "Putz! De novo?!"
Rapaz, não brinca com a verdade... gringo adora fazer filminho com o carnaval carioca, qualquer dia bate um episódio de CSI no carnaval carioca, com Grisson sambando ao lado de uma mulata com bananas na cabeça, e você vai ficar como? :)
Obviamente eu compartilho da sua opinião, acho esse negócio de carnaval um saco. Minha esposa curte, e como no casamento a gente não pode querer só satisfazer as nossas vontades, eu vou com ela "curtir" o carnaval - leia-se: ela pula e se diverte, eu fico olhando e fingindo que estou me divertindo :)
Olha, eu também cresci me achando o esquisito dos esquisitos: nunca gostei de samba, pagode e futebol. Mas é aquela coisa, às vezes o problema não é você, às vezes você é o cara certo no lugar errado. Realmente, a coisa fica bem mais fácil quando você tem outros "esquisitos" por perto para se sentir normal :)
Postar um comentário