segunda-feira, 20 de setembro de 2010

CENSURA NA ARTE. ARTE?!?

Lady Gaga, a atual foco dos 15 minutos de fama no mundo, já foi criticada de tudo quanto é jeito. O argumento recorrente nas críticas à artista (artista?!?) é que ela não é nada mais que um amontoado de clichês do passado, uma Madonna pasteurizada e fake, que se esforça ao máximo para “causar”, seja lá o que for.

Nos dias atuais, isso não deixa de ser uma estratégia até inteligente. Não importa muito a qualidade do que você faz (e a qualidade artística de Lady Gaga é bastante questionável...), mas sim, como dizem, estar na mídia custe o que custar. Não é nada mais que o antigo “falem bem, falem mal, mas falem de mim”.

Muitas personalidades (Ah! Ah! Ah!) do mundo artístico sobrevivem assim, de estar na mídia.

Ocupando capas de revistas, jornais, blogs, sites, portais, grupos de discussão, Gaga vai ficando em evidência e isso, no final das contas, se transforma em milhões de dólares em sua conta-corrente.

Difícil argumentar contra isso. Afinal, alguns milhões de dólares é o que todos nós gostaríamos de ter, não é mesmo?!

Mas Gaga, tão jovem, deve estar gagá. O tal vestido de carne que usou recentemente é idéia antiga: em abril de 1991 já era exibido como arte na Galeria Nacional de Ottawa, Canadá, um vestido feito a partir de carne crua. Eu mesmo já utilizei fotos de modelos “vestidos” assim numa apresentação ppt que transformei em vídeo e postei no YouTube.

Lady Gaga e seus fãs eram muito jovens à época e quanto aos mais velhos ela deve acreditar que não lembramos das coisas...

Pois é nessa linha estratégica – de “causar” - que eu arriscaria colocar Gil Vicente, o tal artista plástico que desenhou ele mesmo matando Lula, Fernando Henrique, Ahmadinejad e outros em sua série de auto-retratos “Inimigos”.

A imprensa, de modo geral, tem se dedicado à celeuma causada pela tentativa de censurar a exibição desses quadros.

Eu tenho alergia mortal à censura, seja ela de que tipo for. No blog da Cultura e Barbárie há um ótimo artigo de Alexandre Nodari sobre conceitos que envolvem liberdade de expressão, censura e vizinhanças.

Mas, sinceramente, aqueles quadros são arte?

Não estaria o Sr. Vicente (e os organizadores da mostra) apostando num lance desesperado por audiência e, como Gaga, querendo apenas “causar”, uma tática cada vez mais usada numa época em que a hipercomunicação e a hiperinformação nos tornam cada vez mais dispersos?

O que faz com que algo, um desenho, pintura ou escultura, seja considerado arte?

Volta e meia penso sobre isso, leio, escuto, encontro diversos pontos de vista, muitos deles contraditórios, mas nada conclusivo. Já escrevi um post aqui no Pausa sobre isso também.

Arrisco um palpite, que nem é novo: o que faz algo ser considerado arte são as pessoas que as contemplam.

Infindável é a discussão sobre o que é ou não é arte. Mas não há como escapar: conseguir ser visto, chamar a atenção para si, atualmente, é arte finíssima, coisa de mestres.

Gaga e Gil Vicente que o digam.

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