E então Sakineh Mohammadi Ashtiani será mesmo apedrejada, por decisão da Corte Suprema do Irã.
Note que não foi um júri popular que decidiu isso, não foi um bando de ignorantes ensandecidos em praça pública movidos pela emoção do momento. Foi uma decisão fria e racional tomada por homens cultos.
A despeito da cortina de fumaça lançada, acusando-a agora também de assassinato para desviar a atenção e minimizar as críticas internacionais, o fato é que uma mulher será morta de maneira grotesca não por acidente nem por descontrole emocional num momento de loucura, mas por argumentos baseados na tradição, hábitos e costumes de um grupo de pessoas, de um país.
Talvez até pior que a morte é o praticado no leste africano, como a excisão e a infibulação, que nem vou descrever aqui, motivadas e justificadas por crenças e hábitos de fé.
Vou levar a discussão para esse ponto: até que onde o argumento da tradição e costumes pode justificar algo?
Essa é uma seara difícil, eticamente complicada por questões culturais, sociais, temporais e diversas outras que nem sei.
Mas é o mesmíssimo argumento utilizado por aqueles que, ainda, utilizam animais para se divertir ou se fartar à mesa.
Vejamos:
- apesar de minguando, as touradas ainda existem na Espanha apenas porque um grupo a defende com argumentos de tradição e cultura;
- idiotas gaúchos (e de outros Estados também) usam o mesmo argumento para defender a Farra do Boi, ainda presente apesar de estar na mira da Justiça;
- a caça esportiva, ou a morte desnecessária de um animal para distrair babacas entediados com suas vidas medíocres e necessitando de auto-afirmação, ainda é praticada em diversos países;
- muita gente ainda diz que come carne porque é hábito...
Não adianta tentar fugir ou jogar também uma cortina de fumaça argumentando que estou misturando humanos e animais. Não subestime a SUA própria inteligência dessa maneira...
Animais, assim como nós, sentem dor, sofrem, sangram. Todos sabem disso, mas usam o “por que é hábito” para se justificar num churrasco. Não existe argumento mais frouxo.
Um ditado Zen Budista diz que “antes de tentar mudar o mundo, dê três voltas ao redor de sua casa”.
Do mesmo modo, antes de criticar o apedrejamento da iraniana, olhe para o seu prato.
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