Somente nessa semana recebi 4 vezes mensagem com um link para assistir ao vídeo do Pr. Paschoal Piragine Jr sobre as eleições 2010, no qual ele exibe um vídeo (um vídeo dentro de um vídeo, êta metalinguagem...) com alertas à platéia sobre os problemas do país.
Fome, miséria, falta crônica de tudo quanto é serviço básico num país que se diz civilizado, isso sabemos e concordamos com ele.
Apesar do acertadíssimo conselho que dá ao final – NÃO votar no PT nem em ninguém desse partido – há dois pontos que me preocupam: a questão gay e o aborto.
Utilizando as mesmas técnicas dos políticos que critica, o vídeo afirma que a Lei da Mordaça poderá criminalizar àqueles que discordam da prática da homossexualidade. Há graves problemas e equívocos aqui. Em primeiro lugar, a Lei da Mordaça não tem nada a ver com isso. É um projeto de adendo à lei que, originalmente , tem a finalidade de estabelecer sanções àqueles encarregados de investigação, inquérito e processo por divulgação de informação produzida no âmbito de suas respectivas funções, algo muito mais relativo às falcatruas cometidas por funcionários públicos em todos os escalões que com preferências sexuais.
O artigos 3º. e 4º. da lei de 1965 relacionam como abuso de autoridade, entre muitos, quaisquer atentados à liberdade de locomoção, à inviolabilidade do domicilio, ao sigilo da correspondência, à liberdade de consciência e de crença, ao livre exercício de culto religioso, à liberdade de associação, aos direitos e garantias legais assegurados ao exercício do voto, ao direito de reunião, à incolumidade física do indivíduo, aos direitos e garantias legais assegurados ao exercício profissional.
A chamada "Lei da Mordaça" acrescenta como abuso de poder atentados à liberdade de manifestação do pensamento, à intimidade, à vida privada, à honra e à imagem, ao direito de não discriminação, ao direito de ampla defesa e ao contraditório, à proibição da escravidão e da servidão, aos direitos e garantias constitucionais e legais assegurados aos acusados.
Será que é disso que batistas tem medo? De não poderem vociferar contra à liberdade de manifestação (parada Gay), à vida privada (união homossexual), ao direito de não discriminação (deixá-los entrar onde bem entenderem)?
Tem-se aqui um fenômeno não raro hoje em dia: uns exigem o direito de protestar e trabalhar por proibir a prática de outros, ignorando completamente o direito deste outro baseando-se puramente em suas próprias crenças. Oras, se batistas são contra a homossexualidade, então não sejam homossexuais e não admitam em suas fileiras pessoas com essa opção. Mas interferir no direito de escolha do outro e querer impor o ponto de vista de uma religião a praticantes de outras é ditatorial, não acham? É o mesmo que palmeirenses quererem proibir o uso de camisas preto e branco e obrigar a todos vestirem apenas verde.
Ou pior ainda: pessoas como eu, vegetarianos convictos, proibirem o consumo de todo e qualquer tipo de carne no país.
Não é justamente isso – esse tipo de imposição unilateral - que recentemente fez com que até mesmo Hélio Bicudo se voltasse contra o PT de Lula?
Cada religião tem sim toda a liberdade de que precisa para seus cultos e cultores, mas não pode de maneira nenhuma interferir com aqueles que não fazem parte de sua congregação. Conheço ótimas pessoas gays, algumas vivendo com seus pares e não me sinto ameaçado por eles. Minha família não desmoronará por causa das escolhas sexuais de outros. São pessoas cultas, simpáticas, educadas, trabalham, pagam seus impostos, não incomodam ninguém... Não há motivo REAL para não terem direitos tanto quanto eu e você de termos união reconhecida por lei, plano de saúde, etc., etc., etc.
Ainda mais polêmica é a questão do aborto. Afirmo com todas as letras: ela NÃO é uma questão de religião ou crença, NEM científica nem jurídica mas, antes deles, é um problema de saúde pública.
Proibir algo nunca deu bons resultados em lugar nenhum deste planeta, principalmente sobre coisas que tem demanda constante. Muito pelo contrário: dá origem a mercados negros, paralelos. No caso, centenas de milhares de mulheres e crianças morrem anualmente justamente porque o procedimento, proibido, é realizado em clínicas clandestinas. Continuar proibindo o que sempre foi proibido não está ajudando em nada. Não sei qual seria a solução ideal, mas penso que deveria ser permitido e cada um deveria seguir sua própria consciência. Alguns afirmam que o procedimento traz consequencias psicológicas nefastas a quem o pratica. Mas é claro! Imagine você fazer algo que é demonizado pelo resto da sociedade...
Se sua religião é contra o aborto, não faça. Se você tem dúvidas científicas quanto ao início da vida ou questões quanto ao direito do feto à vida, não faça. Mas você NÃO tem o direito de impedir que outros façam e, pior torná-los criminosos por isso. E lembre-se de que não estamos falando de um bebê de três quilos, todo rosinha com covinhas nas bochechas, mas sim de algo menor que seu dedinho da mão e sobre o qual muito discutem, sem chegar a uma unanimidade, os especialistas de todas as áreas. O vídeo mostrado pelo padre, que deveria arder no inferno por mentir descaradamente ao público, é sobre outro tipo de procedimento médico.
Uma coisa é legislar pelo bem estar e ordem social, outra bem diferente é impor crenças, hábitos e costumes de uma facção a todas as outras. É um equilíbrio delicado, uma zona repleta de áreas cinzentas, em algumas questões as fronteiras podem ficar por demais fluidas e não serem muito claras, mas é algo pelo que temos de zelar com absoluto respeito e imparcialidade.
O que falta, de fato, nesse país é educação acima de tudo, muita leitura e respeito às escolhas dos outros. Caso contrário, seguindo como ovelhas o que prega Pr.Paschoal em seu vídeo, estaremos trocando 6 por meia dúzia.