sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

A DURA VIDA DE PUBLICITÁRIO ou OS NÚMEROS NÃO MENTEM JAMAIS!


Atuando desde 2007 como autônomo em marketing, publicidade e comunicação juntei alguns números por pura curiosidade e até arrisquei algumas conclusões.

Óbvio que, estatisticamente falando, a amostra é pequena e não reflete a totalidade da população mas, como no título desta mensagem, os números não mentem:

- vivemos num país miserável. De cada 10 contatos recebidos solicitando criação de logotipo, 8 desistem do serviço por causa do preço cobrado. Tenho até vergonha de dizer que para esse trabalho cobro entre ridículos R$150,00 e R$200,00 e, mesmo assim, alguns quase-clientes me disseram não poder “investir tanto” no momento;

- vivemos num país culturalmente miserável. Apenas 2 em cada 10 contatos recebidos entendem a importância de um design profissional ou percebe as implicações por trás da criação de um logotipo para seu negócio, de um bom layout para seus materiais ou web site e aceita pagar por isso;

- 4 em cada 10 clientes querem que eu envie layouts com ideias antes de me contratarem (sendo que meu portfólio está on line e por ele é possível analisar a qualidade – boa ou ruim - de meu trabalho). Ora, trabalhar nas ideias já é meu trabalho ou, em outras palavras, ter ideias (cérebro trabalhando) é 90% de meu trabalho. Os outros 10% são puro “braço”;

- 6 em cada 10 tem dificuldade de entender que o trabalho de criação demanda tempo e conhecimentos obtidos com muito esforço (anos pesquisa, cursos, experiências, tentativas e erros...) e que isso tem um custo;

- os mesmos 6 em 10 não veem diferença entre um profissional e “o filho do vizinho que mexe bem com computador” ou “o sobrinho que esmirilha no coréudráu”;

- 2 em cada 10 perguntam se podem pagar meus serviços com seus próprios produtos ou serviços. Concordarei com isso quando eu puder pagar o IPTU, Eletropaulo, Comgás,  IPVA e Telefonica também apenas com meus serviços e nenhum tostão em dinheiro;

- ninguém diz ao dentista como fazer a obturação ou ao cirurgião onde ele deve cortar, mas 8 em cada 10 acha que entende tudo de design, diagramação, composição, equilíbrio, cores e fontes, algumas vezes transformando trabalhos bons em terríveis Frankensteins com suas opiniões e solicitações de alterações;

- de cada 10 contatos recebidos para serviços diversos, 5 eram de pessoas aparentemente religiosas (notei pelas “assinaturas” ou mensagens em seus e-mails, coisas como “agradeço ao Senhor por isso ou aquilo...”  ou “O Senhor... alguma coisa”. Esses pechincham até não mais poder e, quando atingimos o limite de negociação (apesar de eu cobrar valores já baixíssimos), 4 caem fora. O que fica, tenta me pagar “orando por mim” ou dizendo que receberei graças do Senhor. Prefiro o meu em dinheiro;

- apenas 2 em cada 10 clientes se lembram de pagar conforme o combinado ou nas datas combinadas, mas 100% lembram de ligar cobrando algum serviço antes de terminado prazo combinado;

- 6 em cada 10 incluem no texto de nosso contato inicial que “...estou montando um negócio agora e não disponho de verba...”. Ora, alguém entra numa loja para comprar um carro não tendo “verba”?;

- dos 6 acima, 5 propõem “...crescermos juntos...”, que na verdade significa “um dia, se tudo der certo (e se lembrar de você na época), te pago”.


2 comentários:

BrunoPS disse...

Cara, desculpa mas se você aceita criar uma marca por R$ 200,00 você faz parte do processo pra desvalorização do profissional. A valorização vem aos poucos e nesse caso você está contribuindo para o lado negativo. O mercado precisa ser disciplinado e se achar profissionais que cobrem isso, como outros que pretendem valorizar o trabalho que fazem vão sobreviver?

tHe HeAdSHakEr disse...

Caro Bruno,
Concordo com vc (só não vou escrever “em gênero, número e grau” pq é um clichê batido demais).
Porém, há que se encarar algumas realidades:
- tenho contas a pagar. Se não aceitasse trabalhos desse nível, algumas delas talvez não estivessem pagas;
- não tenho ainda “nome na praça”. Se fosse famoso poderia cobrar o que bem entendesse. Por enquanto tenho de seguir a média da concorrência;
- tenho de levar em conta a concorrência não só da molecada que “esmirilha no coréudráu” como para sites como o WeDoLogos, onde o trabalho do profissional é leiloado a valores abaixo dos meus (já perdi trabalhos pro site por causa de preço);
- há que se considerar o tipo e tamanho do cliente: se uma multinacional me pede pra criar um logo o preço será diferente do cobrado a uma nova disque-pizza (o tempo, técnicas e conhecimento investido tb serão diferentes).
Como descrevi no texto, mesmo cobrando valores irrisórios ainda assim perco trabalhos pq alguns clientes “não tem verba”.
A desvalorização ou a não-valorização do trabalho publicitário é coisa antiga. Muitos ainda acreditam que é “...só fazer um desenhinho aí...” e isso já acontecia mesmo antes de quando usávamos Letraset para montar os layouts (vc chegou a conhecer isso?).

Abraço,