Se uma pedra existe de fato, não importa se acreditamos se ela existe ou não - ela está ali e pronto. Eu a vejo, você a vê e dependendo de quem a pegar primeiro pode experimentar jogar na cabeça do outro provando sua existência.
Não sei quem é mais espertalhão, se o Dawkins aproveitando a onda anti-fundamentalista (ou terá sido ele o iniciador de tal processo?) ou se os McGrath tirando uma lasquinha de seu best seller.
Na verdade não importa se Deus existe mesmo ou não, mas sim ganhar uma grana vendendo livros polêmicos, não é mesmo?
Contraponto ao livro de Dawkins - "Deus um delírio", já está à venda "O Delírio de Dawkins", de Alister e Joana McGrath.
Tanto Dawkins quanto o casal são respeitados acadêmicos de Oxford. Ou eram, até antes de entrarem nessa discussão impressa.
Numa troca de e-mails sobre o assunto, meu grande amigo redator publicitário, Nobu, escreveu:
"Acho, no mínimo, curioso que todas as vezes em que falam do livro do Dawkins, ressaltam a virulência ou a agressividade dele. Talvez eu tenha feito uma leitura equivocada, mas o fato é que para as pessoas que crêem, qualquer refutação dessa fé é um choque e tende a ser encarado como algo hostil.
Será?
Quem é hostil? Dawkins ou um deus que pune ao invés de chamar num canto para uma conversa? Dawkins ou deus que joga dez pragas no Egito, ao invés de tirar o seu povo do sufoco numa boa?
Não quero que ninguém explique um deus para mim. Quero que explique e, principalmente, o justifique para aquele menino que foi arrastado pelas ruas do Rio. Para as crianças que morrem de fome no Sudão. Para as vítimas de abusos sexuais dos padres e financeiros dos pastores.
Qual era o seu propósito ao nos dar esse tipo de amostra de sua capacidade?
Para mim a grande questão é: se existe serve pra que? Se for pra ter isso tudo que está aí, então dispenso.
Prefiro achar que não existe do que ter de aturar um cara tão incompetente e mal resolvido na vida a ponto de mesmo tendo recebido a vida do próprio filho em sacrifício, ainda não se mexeu para salvar a humanidade.
O próprio Dawkins diz: chega de ser tolerante. Por que somos tão complacentes com a religião se durante toda a história ela foi sinônimo de opressão, repressão e castigo?
Acho que esse pessoal que faz oposição está na deles. Têm mais é que defender o seu ponto de vista. Afinal, não deve ser fácil descobrir que se está errado depois de investir tanto tempo inútil".
Em minha opinião, SE deus existe, está lá e pronto, independente de acreditarmos ou não assim como a pedra que citei no início do texto.
E, como a pedra, só faz algo mediante intervenção humana. Coisas como perseguições em nome d'Ele, jogar gente na fogueira, prender cientistas que dizem que a Terra não é o centro do Universo e outras amenidades...
Budistas têm uma estorinha a respeito desse assunto:
Buda estava reunido com seus discípulos certa manhã, quando um homem se aproximou:
- Existe Deus? - perguntou.
- Existe Deus? - quis saber.
- Não, não existe - disse Buda.
No final da tarde, um terceiro homem fez a mesma pergunta:
- Existe Deus?
- Você terá que decidir - respondeu Buda.
Assim que o homem foi embora, um discípulo comentou, revoltado:
- Mestre, que absurdo! Como o Senhor dá respostas diferentes para a mesma pergunta?
- Mestre, que absurdo! Como o Senhor dá respostas diferentes para a mesma pergunta?
- Porque são pessoas diferentes e cada uma chegará às suas conclusões por seu próprio caminho. O primeiro acreditará em minha palavra. O segundo fará tudo para provar que eu estou errado. E o terceiro só acredita naquilo que é capaz de escolher por si mesmo.
3 comentários:
Beleza de post, rapaz. Curiosamente, estou há dias preparando um post sobre religião e Dawkins para meu blog, mas já escrevi e rabisquei vários textos porque estou buscando o tom certo - o assunto é delicado, não quero ofender as pessoas, mas ao mesmo tempo quero ser incisivo. Por esses dias devo publicar.
Legal você falar do McGrath. Tem um debate entre ele e o Dawkins em vídeo no site do Dawkins que é ótimo, depois passo o link.
Gostei muito da história do Buda. Abraços...
O problema do Dawkins não é o fato de criticar uma idéia de Deus ou mesmo a idéia de Deus bíblica. O problema é a ingenuidade (será) dele em acreditar que não é possível uma outra maneira, mais elevada ou melhor "acabada" de entender Deus.
Ele coloca num mesmo "saco", sem usar de um mínimo de escrúpulo, de São Francisco de Assis a Bin Laden, passando por grandes homens de ciência como Tomás de Aquino ou Shânkara. No entendimento dele, "religião é veneno", e está acabado. Ele não consegue compreender margem para nada que vá além disso.
Como diz um grande pensador que eu conheço, "Como diria Charles Fort, com esse tipo de argumento, eu posso provar facilmente que você é feito de areia do Saara – basta desconsiderar tudo o que há em você e que não é areia do Saara.
Além disso, ao igualar religião e fanatismo, Dawkins mostra uma ignorância crassa sobre a história e o dinamismo dos grupos religiosos, uma ignorância ainda mais imperdoável se considerarmos a quantidade de dados sobre o assunto reunidas ao longo de todo o século XX pela antropologia, psicologia e até neurologia, e que estão à disposição de quem quiser se informar em qualquer livraria ou biblioteca. Mas é claro que Dawkins não quer se informar. Do contrário, seria obrigado a reconhecer que o fundamentalismo, longe de ser uma característica essencial das religiões, é um fenômeno tardio, que surge quando as estruturas religiosas entram em decadência."
O assunto é extenso, mas pra resumir, eu diria que Dawkins é o tipo negativo de cético, possuidor das mesmíssimas falhas que aponta nos fundamentalistas religiosos.
Grande abraço.
Luís, vc. é um doido...definitivamente..mas adorei tua doideira...!
Postar um comentário