segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

PRODUTO X MARKETING

Aqueles que trabalham com desenvolvimento de produtos – como eu trabalhei por anos – sabem da difícil luta contra as demais áreas da empresa que têm de enfrentar.

É duro trabalhar com desenvolvimento de produtos e nunca conseguir lançar “aquele” produto por causa das imensas barreiras que as mentes menos brilhantes teimam em colocar na sua frente, não é mesmo?

Querendo elaborar o melhor dos produtos para o seu mercado, é preciso se desdobrar e gastar muita energia contra as negativas das áreas Técnicas, os problemáticos questionamentos das áreas Operacionais, os intrincados cálculos dos Financeiros, as exigências das áreas Comerciais, os palpites aleatórios e contaminados por gostos pessoais das Diretorias...

Steve Jobs, à frente da Apple, trouxe a empresa de volta aos lucros e a um patamar que, apesar de criticada por muitos, é cultuada quase como religião.

Mas o que faz de Jobs Jobs (e da Apple, Apple)?

"Na Apple, quando as pessoas têm a visão de um bom projeto, elas o perseguem sem medir esforços", disse a VEJA o diretor de design da Philips, Oscar Peña.

Outro especialista, Mark Rolston, da californiana Frog Design, complementa: "Na grande maioria das empresas não é isso o que ocorre. Em geral, um produto é definido a partir do que é mais barato ou, pior, com base no que é mais conveniente".

Em uma de suas raras entrevistas, concedida à revista Time, Steve Jobs resume o seu segredo e o da Apple: "Todo fabricante de automóveis gosta de exibir seu ‘carro-conceito’, que deixa a imprensa e os consumidores de queixo caído. O problema é que, quando ele finalmente é lançado, quatro anos depois o carro é um lixo. O que acontece? Ora, o designer tem uma peça maravilhosa nas mãos, mas os engenheiros simplesmente não conseguem fabricá-la em série. Na Apple, nós conseguimos".

Ou seja: se fosse uma indústria automobilística, a Apple colocaria nas ruas HOJE, antes de toda a concorrência, aqueles carros-conceito que só ficam em salões de automóveis e em nossos sonhos.

Como? Não tente o truque em sua própria empresa. "Os engenheiros vêm com 38 razões para matar nossas melhores idéias, e eu digo a eles que não aceito ‘nãos’ porque eu sou o chefe e sei que aquilo pode ser feito como eu quero", disse Jobs na mesma entrevista.

Não se engane:

- a Apple NÃO é uma empresa voltada a “produtos”, em se falando de estratégia de negócios. É uma empresa voltada ao marketing, pois seus produtos, tecnicamente falando, não são páreos para os muitos concorrentes, que além de tudo são mais baratos (ou menos caros);

- conseguir o que Jobs consegue diante de seus engenheiros pessimistas só é possível porque é ele quem manda. De nada adiantaria um gerente espernear de lá de sua média gerência se o presidente da empresa não estiver na mesma linha de raciocínio.

Conclusão meio óbvia: áreas de desenvolvimento de produtos são estratégicas e não devem permanecer sob tutela e arreio de uma ou outra Diretoria, mas sim estar ligadas diretamente à Presidência.

É preciso “poder para poder fazer”.

Utilizando trechos da reportagem na Veja dessa semana.

Um comentário:

robertobech disse...

Uma beleza esses comentários do Jobs. Pena que não dá pra seguir a receita, só sendo o cara mesmo.