Eu sou cachorreiro.
Para os que não conhecem o termo, cachorreiro é alguém que curte cachorro (bastante óbvio, não?!). Mas “curtir” cães é um termo abstrato. Afinal, o que é curtir um cão?
Tenho duas cachorrinhas, ambas com quase seis anos. Para mim, elas são “minhas meninas”. Segundo alguns especialistas, trato-as de maneira flagrantemente equivocada, como se fossem humanas. Mas e daí? Nunca tive problemas, nem elas.
Desde pequenas eu as levo diariamente em praças perto de casa, onde as solto, deixo andarem livres, correrem e fazerem suas necessidades (que recolho, sempre).
Nessas praças da cidade, cada passeio é uma confraternização. Cães correndo pela grama, seus donos nos degraus ou bancos, conversando. Apesar de, eventualmente, descobrirmos que entre nós há um médico, advogado ou professor universitário, ali humanos não têm nome nem profissão, mas a maioria sabe os nomes dos cachorros dos outros. “Olha Bebê (é o nome de um Fox paulistinha), um au-au amigo”, “Docemel, vai brincar com o Salomão, vai”, “Olha lá, Biba, é o Ship, corre”.
Sei, sei, coisa de louco...
Mais louco ainda é perceber que, mesmo entre os que amam seus cães, muitos ainda se aproximam e perguntam se quero “cruzar” minha schnauzer. Tirando um ou dois que apenas queriam aliviar a tensão de seus pequenos machos, a maioria vem com esse papo por interesses financeiros. O costume é o dono do macho ficar com ao menos um filhote que, em petshops, vale mais de mil reais.
E argumentam que a vantagem é toda minha, pois lucraria muito com os outros possíveis três, quatro ou cinco filhotes.
Qual a diferença em perguntar “Ei, você tem filha maior de idade? Não quer cruzá-la e depois vendemos seus netos?”.
Num passado não muito distante, era legítimo, legal, lucrativo e aceito por toda a sociedade vender pessoas de pele escura, roubadas do continente africano. Era particularmente lucrativo engravidar mulheres negras muitas vezes à força e vender seus filhos mais fortes e sadios, separando famílias assim como fazemos hoje com cães, gatos e todos os outros animais.
Evoluímos (muito pouco) e proibimos isso. Quando será que daremos definitivamente mais um passo na evolução e passaremos a tratar animais como iguais em direito à vida e individualidade?
No excelente artigo “Coisas que possuem mente”, Luciano Carlos Cunha argumenta que “...Tratar um indivíduo que possui mente como se fosse uma mercadoria é rebaixá-lo ao estatuto de coisa, é mostrar desrespeito pelo seu valor inerente...” e lança a pergunta: “...por que respeitar um interesse de não ser usado como uma coisa, de não ser escravizado, em um ser de nossa espécie, e não no de outra? O que nos torna tão especiais?”.
A cada dia a ciência apresenta mais resultados de estudos comprovando a proximidade biológica e até mental entre animais humanos e não-humanos.
Está mais que na hora de, como no comercial, revermos nossos conceitos.
Para quem quer entender um pouco mais sobre esse ponto de vista, antes de comprar um cão ou gato em pet shops ou abandonar o seu, recomendo "Terráqueos".
2 comentários:
Beleza de post. Minha esposa é apaixonada pelo cachorro dela, e eu acabei entrando na onda e também sou doido por aquele beagle bagunceiro, mesmo sabendo que no primeiro descuido ele vai de novo pegar minhas meias dentro do meu tênis, embaixo da cama, e sair correndo com elas.
O paralelo com a escravidão é interessante. As pessoas se julgam tão cheias de moral, mas esquecem que, no tempo dos escravos, todo mundo encarava a escravidão numa boa. Hoje todos sabemos a estupidez que era aquilo. Quem sabe daqui a uns anos,olhando para trás, receberemos por nosso tratamento para com os animais o merecido adjetivo de bárbaros.
A propósito, beleza de cadela que você tem...
Bom, mto bom!!
Tambem defendo a ideia de que nao somos superiores a nada e a ninguem.
Tenho um "irmão" que é o xodó da casa!!!
Estou me preparando pra ser mãe, assim que tiver um pouco mais de tempo para me dedicar a minha filha!! :)
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