terça-feira, 10 de novembro de 2009

QUE ATIRE A PRIMEIRA PEDRA

Diz a lenda, ou melhor, a Bíblia, que o zé povinho se juntou para apedrejar Maria Madalena por que ela era adúltera e, nas horas vagas, prostituta. Era um método precursor do atual stone washed, só que pra lavar pecados e não calças jeans.
Provavelmente, entre os apedrejadores estariam alguns dos que se utilizaram dos serviços dela, mas naquele momento, levados pela animosidade da turba alucinada, entraram na malhação.

É um caso atualmente impensável e, além de considerado vandalismo cruel, poderia ser classificado como “fazer justiça com as próprias mãos”, afinal hoje temos instituições e representantes oficiais encarregados de punições quando as regras sociais são violadas.

Isso foi há quase dois mil anos segundo o tal livro, mas a lição ficou. E o povo não evoluiu nada.

A Maria Madalena da hora é representada por Geyse, uma garota cheinha de curvas que usava um minivestido rosa choque colado ao corpo. Não, ela não é – ao menos pelo que se sabe – adúltera nem prostituta, não vai estar numa nova edição da Bíblia nem queria lavar seu vestido à pedras mas, por azar dela ou por falta de tempo dele, nesta atualização do episódio Jesus não veio ao seu socorro fazer a famosa pergunta: “Que atire a primeira pedra...”.

Aliás, Jesus teve sorte nessa hora. Estivessem por ali sua mãe ou um português a pobre teria levado uma tijolada na testa. Explico: sua mãe, não a sua, a de Jesus, nunca errou no sentido de que nunca pecou (afinal, ele surgiu de uma imaculada conceição, não?!) e um português teria interpretado a pergunta como um desafio à sua pontaria...

Com o caso circulando por toda a imprensa mundial, resta pouco a acrescentar, mas fico horrorizado e temeroso quando ouço meninas e garotos da mesma faculdade, com seus vinte e poucos anos, fazendo comentários profunda e retrogradamente machistas e, mal disfarçadamente, incriminando Geyse. Fico ainda mais descrente no futuro da humanidade quando garotos da faculdade dizem que “...oras, mas ela estava provocando...”.


A mentalidade dos jovens, de boa parte deles, traz conceitos e idéias que remontam aos mais negros períodos da Idade Média, isso sem falar do perigosíssimo espírito de manada, sempre criticado aqui no Pausa, que toma conta das mentes fracas e ainda pouco desenvolvidas .

Para esses jovens será preciso alterar a letra da música:

“...ainda somos os mesmos e vivemos,
ainda somos os mesmos e vivemos,
a-in-da s-o-m-o-s os meeesmos e vivemos
coooooomo neandertaaaaaaa-a-a-a-ais...”

Um comentário:

Natalia disse...

É amigo,
Curiosamente, convivemos "cegamente" com popuzudas de grupos musicais, sem mencionar nos famosos "Mc... qualquer coisa" do FUNK com letras amorais e coreografias (se é que podemos chamar assim) sensualíssimas e ninguém se rebela! Basta lembrar dos "closes" que a TV, em pleno domingo à tarde, produz. Pior que "apedrejar Maria Madalena": é a confirmação de que o mais primitivo e "animalesco" sentimento humano reina: inveja. Pura inveja das pernocas da guria. Bem provável que a "manada" tenha sido incitada por algum desafeto da loira... ou que não obteve dela a desejada atenção. E só para fechar: não há nada para colocar na mídia/jornal que esse assunto de saia X sala de aula?