No Estadão de domingo passado li um artigo que fez cair uma ficha.
O cientista inglês James Lovelock, autor da Teoria de Gaia, aquela que diz que a Terra é um organismo vivo e se comporta como tal, deu um outro ponto de vista para aquela urgência, onipresente na mídia global, em salvar o planeta: não é a Terra que está em perigo e precisa ser salva, mas sim a humanidade.
O planeta continuará a existir mesmo que o maltratemos ainda por muito tempo, mas talvez ele fique inabitável para nós, meros e mortais humanos.
Isso inverte toda a lógica das campanhas para salvar o planeta. Ou, no mínimo, acrescenta um enorme "senão...".
Mas ele termina a entrevista dizendo uma frase com a qual não concordei.
Ao ser perguntado sobre que conselho Gaia, a deusa Terra, daria aos homens, disse que seria algo como “Cuidem de si mesmos e sobrevivam. Vocês são meu organismo mais importante.”
OK, ele é cientista e eu sou apenas um mané escrevendo sobre o que não entendo completamente, mas dizer que somos o mais importante órgão do planeta é forçado até para o mais crente dos crentes da nova era.
A Terra - e o Universo todo - não precisa de nós. Absolutamente. Para nada.
Ceifar a humanidade da face da Terra seria um alívio para ela, pois somos a única espécie que estraga tudo o que vê pela frente e ainda não sabemos como sobreviver sem destruir, como fazem todos os outros animais. Nosso sumiço seria, talvez, como cortar uma unha ou cabelo comprido que estivesse incomodando: não dói, pelo contrário, alivia.
Um cientista respeitado como ele deveria tomar mais cuidado com a visão antropocêntrica do Universo. Não somos o centro de tudo nem a medida de todas as coisas, muito pelo contrário.
Acredito mais em Iggy Pop e em Talking Heads: somos apenas os passageiros e estamos em uma viagem para lugar nenhum.
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