terça-feira, 3 de novembro de 2009

FINADOS


Ontem foi Dia de Finados.


Cemitérios lotados, muitas flores e velas vendidas fizeram a alegria dos comerciantes nas portas do além.


Como de costume, comecei a pensar nos costumes.


Certa vez, quando comentei com amigos que um fulano mantinha as cinzas de sua mãe na estante da sala, acharam estranhíssimo, tétrico.


Guardar aquelas cinzas limpinhas, esterilizadas pelas labaredas do imenso forno crematório e guardadas numa caixinha ornamental era, para eles, algo que não fariam jamais.


Porém eles, tão assustados com a inofensiva caixinha, não achavam estranho construir uma pequena edificação sobre um buraco onde se escondia o cadáver de um familiar e, pior, mantinham o hábito de ir visitar essa edificação acreditando que ali estaria mesmo um parente e não uma carcaça putrefata consumida por vermes.


E mais: levavam flores e velas para a carcaça, se é que ainda havia alguma e não apenas ossos podres.


Caixinha com cinzas é estranho, buraco com carne podre não. Que gente estranha esses meus amigos...


Em pleno Século XXI, numa cidade caótica e carente de espaço, seria muito mais útil se as enormes áreas ocupadas por cemitérios fossem destinadas a praças ou parques, centros culturais, creches ou , ainda mais prático, estacionamentos.


O hábito de ir ao cemitério é apenas um ritual que, como todos eles, são procedimentos para sintonizar nossa mente num determinado assunto, no caso, um ente querido. Mas poderiam lembrar dele todo dia se tivessem suas cinzas numa caixinha na estante, não necessitando esperar o dia oficial para isso.


Em cinzas esse ritual é muito mais prático pois não ocupa muito espaço, é mais higiênico, não fede, não apodrece, não cria bicho como dizem. Se sua família for grande e fique difícil decidir quem guardará a caixinha, façam rodízio. Cada um fica um pouco com as cinzas e ela seria um bom motivo para reunir as famílias, uns visitando os outros em torno da caixinha. Evitaria o trânsito, o pagamento de flanelinhas para estacionar, os custos de manutenção da vaga, ou melhor, da vala no cemitério, etc., etc.


Visitar túmulo - um amontoado de cimento, tijolos e azulejos (ou mármores para os mais abastados) com um buraco embaixo e carniça dentro, é um hábito arcaico e tão fantasiosamente infantil quanto esperar Papai Noel ou Coelhinho da Páscoa.


Mas, como na música, ainda viveremos e seremos por muito tempo como nossos pais. Até depois de mortos.

4 comentários:

robertobech disse...

Cemitério é a coisa mais estúpida que existe. Espaços enormes ocupados por gente apodrecendo... é demais para mim. E a cremação é tão simples.

Pior é essa coisa do hábito, da pessoa achar perfeitamente normal ser enterrada e achar bizarra a urna com cinzas, como você disse. Muita gente não consegue perceber os absurdos do cotidiano.

Anônimo disse...

Mais um post sensacional. =)

tHe HeAdSHakEr disse...

Pior: ali não tem “gente” apodrecendo. Tem carne apodrecendo.
E mais: o povo que visita cemitério é o mesmo que acredita que depois de morto a gente vai pra algum lugar, Céu, Inferno, Purgatório, sei lá. Oras, se a gente vai, por exemplo, pro Céu, então pq visitar o cemitério? O Céu é ali? Credo, então não quero ir.

Kurama Yoko disse...

Gostei do post, você tem razão, ele é parecido com o que eu postei tambem, concordo em tudo que digitastes.

Eu tinha dito no meu post que desejo ser cremado quando meus sinais vitais sumirem, porque não quero ocupar um espaço que poderia muito bem ser utilizado para outros fins.

Em outros paises principalmente nos asiáticos, é tão comum essa prática, na Índia eles fazem muito isso se bem que eles utilizam rituais religiosos antes de cremarem o corpo, mas enfim.