quarta-feira, 5 de março de 2008

AVE...


Entre os céticos, agnósticos, ateus, cientistas em geral, parte da intelectualidade e de gente comum como eu e você é comum ouvir e aceitar a idéia de que as religiões foram, no decorrer da história da humanidade, as grandes responsáveis pelo atraso nos avanços das ciências e das artes, não esquecendo que sob acusações de blasfêmia ou heresia muitas das mais fantásticas e inovadoras idéias nas cabeças pensantes rolaram - junto com as cabeças - ou, para manter a vida, calaram.

Ignorando que contra fatos não há argumentos, religiosos têm tentado ao longo dos séculos refutar essa idéia.

Mas o que dizer, tratando de fatos um tanto presentes, sobre a ação direta de inconstitucionalidade contra os dispositivos da Lei de Biossegurança que tratam das células-tronco impetrada pelo procurador-geral da República, Cláudio Fonteles?
Saudadas pela maioria absoluta dos estudiosos do mundo inteiro como a descoberta mais promissora das ciências biomédicas, as pesquisas com células-tronco são permitidas em países culturalmente tão distintos entre si como Espanha, Finlândia, Japão, Israel e Reino Unido. A grande exceção, como se sabe, são os Estados Unidos, onde o poder político do fundamentalismo religioso no governo Bush chegou a níveis sem paralelo nas sociedades desenvolvidas da atualidade. E foi por inequívoca motivação religiosa, apesar dos seus desmentidos, que o então procurador-geral da República, Cláudio Fonteles, entrou com a ação no Supremo.

Fonteles cita diversos “cientistas” que concordam com sua visão mas esconde que, dentre estes, um é representante da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, a CNBB; outro integra o Núcleo de Fé e Cultura da PUC de São Paulo, uma iniciativa da Arquidiocese de São Paulo; um terceiro, além de pertencer ao Núcleo de Fé e Cultura, é correspondente da Pontifícia Academia Pro Vita, entidade criada pelo Vaticano. Sobre os cientistas estrangeiros que menciona, Fonteles omite que são ambos integrantes da Opus Dei, a organização católica mais reacionária do mundo e que seis dos nove brasileiros citados são autores de obra coletiva patrocinada pela Pastoral Familiar da Igreja Católica. Ele só fala, portanto, da patota de sua fé – como escreveu
André Petry em artigo na Veja.

A tese de Fonteles é um sofisma. Invocando o princípio constitucional da defesa da vida e sustentando que as pesquisas com células embrionárias destroem vidas humanas, pede que sejam banidas. Primeiro, a lei só liberou os estudos e as terapias do gênero com embriões descartados, porque inviáveis, nas clínicas de reprodução assistida ou congelados há no mínimo três anos.

Um embrião sem nenhuma chance de ser implantado em um útero, cujo outro possível destino é o lixo, ou um embrião congelado, que aos genitores não mais interessa implantar, em hipótese alguma poderia ser considerado vida, ou vida em potencial. Mesmo no útero, na reprodução natural, a implantação do embrião só ocorre a partir do 6º dia - e os biólogos trabalham com aglomerados celulares (blastocistos) de até 5 dias.

Outro assunto religioso de nossos tempos: o que pensar sobre a campanha
coercitiva sem precedentes no País iniciada por “pastores e fiéis” da Igreja Universal contra o jornal A Folha de S. Paulo e orquestrada em 56 municípios simultaneamente?

Se a igreja e o seu fantasticamente bem-sucedido CEO pedissem a abertura de processo contra o jornal e a jornalista, no foro apropriado, seria um caso legítimo de quid pro quo. Nessa hipótese, a liberdade de imprensa pressupõe isso. Mas a liberdade de imprensa não pressupõe que a parte atingida responda com ações simultâneas em 20 Estados. É uma tentativa torpe de amordaçar os meios de comunicação sob a capa de uma busca legítima de reparação pela via judicial.

A TV Record, ligada à Igreja Universal do Reino de Deus, usou recentemente grande parte do programa Domingo Espetacular, no horário nobre, para
atacar a imprensa e ameaçar o trabalho de repórteres.
Perguntinha: nenhum evangélico protestou contra a publicação do livro “
Bispo S/A”, pela editora católica Ave Maria?

Aliás, católicos, não é pecado falar mal assim dos outros?!...

E por que volta e meia algum evangélico dá uns chutes nalguma estátua de santo católico?

E por que esse clima de hostilidade entre uns e outros se Jesus, supremo inspirador e líder cristão, ensinou a dar a outra face?

E por que, cargas d’água, quando se fala em
ensino religioso nas escolas só se contempla o catolicismo/cristianismo? Como fico eu, que venero e rezo regularmente para Beavis & Butthead?

Num país pluricultural como o nosso, não podemos ser todos cristãos apenas por imposição dos primeiros portugueses que aqui chegaram (ué, e os índios que já estavam aqui ainda antes destes?!) ou daqueles que atualmente nos colonializam. You know...
Na constituição federal são atribuídos os exercícios sacerdotais à apenas três categorias religiosas: o Padre (sacerdote católico), o Rabino (sacerdote judaico) e o Pastor Protestante (sacerdote de confissão evangélica). Ficam de fora as religiões não cristãs (Islamismo, Budismos etc.) e religiões cristãs que estão fora da classificação de católicos e protestantes (Kardecismo, Umbandismo etc.).

Onde encontraríamos professores aptos a dar aulas democraticamente em todas as religiões, sem pender ideologicamente para um lado ou outro, já que em muitos casos elas são excludentes em suas visões?



Mais: a quem interessa – e com que finalidade política e econômica de longo prazo - o ensino religioso nas escolas?

Por que as religiões, de modo geral, não param com seu proselitismo exagerado, eletrônico impresso e agora judicial, em busca de mais e mais fiéis? São todos bonzinhos e querem salvar os desgarrados do rebanho?

Não. É porque as Religiões teriam muito a perder.


São “business” que movimentam muito, mas muito dinheiro.

2 comentários:

SilasCo disse...

andre petry foi mto feliz no seu texto.

eles deviam proibir é certos abusos da engenharia genética como o imperialismo da monsanto e deixar a Igreja fora disso...

ei: se quiser parceria pro blog, a gente conversa: http://triviaveg.blogspot.com/

Unknown disse...

Muito Bom!

Gostei do You Know... :)