“A gente se acostuma a acordar de manhã, sobressaltado porque está na hora. A tomar café correndo porque está atrasado. A ler jornal no ônibus porque não pode perder o tempo da viagem. A comer sanduíches porque já é noite. A cochilar no ônibus porque está cansado. A deitar cedo e dormir pesado sem ter vivido o dia”.
Ao contrário do slogan da rede de fast food, ele não amava muito tudo isso. Ele estava cansado, realmente cansado.
Não um cansaço físico, mas mental. Cansado de ter de se acostumar, como escreveu Marina Colasanti em “Eu sei, mas não devia”.
Pensava em como poderia escapar dessa ciranda tristemente viciosa que a cada dia se tornava mais pesada e sem saída.
“A gente se acostuma à poluição. À luz artificial de ligeiro tremor. Ao choque que os olhos levam na luz natural. Às besteiras das músicas, às bactérias da água potável. À contaminação da água do mar. À luta. À lenta morte dos rios. E se acostuma a não ouvir passarinhos, a não colher frutas do pé, a não ter sequer uma planta. A gente se acostuma a coisas demais, para não sofrer”.
Mas ele sofria.
Algo lhe dizia, como vozes para um esquizofrênico, que havia sim uma saída, e se angustiava ainda mais por sentir o tempo passar e não encontrá-la.
Foi quando leu sobre a estréia de “Into the Wild” (Na Natureza Selvagem, aqui), baseado na trajetória de Christopher McCandless rumo ao Alasca em busca (ou fuga) de... Bem... McCandless morreu e só há interpretações possivelmente contaminadas sobre sua escapada.
Pouco depois leu sobre Jonathan Dunham, um ex-professor canadense que largou tudo e está cruzando o planeta a pé acompanhado de seu burro, chamado Judas. Motivo, nem ele mesmo sabe ao certo. Jornais ao longo de sua rota noticiaram que ele estava caminhando pela paz mundial, para estabelecer um recorde mundial ou para divulgar a palavra de Deus.
"Eles sempre encontram algo para dizer", disse Dunham sobre os repórteres que buscam conhecê-lo.
Lendo isso, lembrou-se da multidão seguindo Forrest Gump enquanto corria. Ele apenas corria.
Dias depois, entre suas séries enlatadas preferidas, viu Jason Gideon (Mandy Patinkin) abandonar a liderança intelectual da equipe de agentes do FBI em “Criminal Minds”, deixando apenas uma carta explicando sobre sua dificuldade em ainda acreditar que as coisas podem dar certo no final.
E espantou-se com Sara Sidle, em pleno breakdown emocional diante de tantas tragédias, despedindo-se de Grisson em “CSI”. A personagem também deixa uma carta dizendo que, apesar de ter feito de tudo para ficar, precisava de um tempo para “repensar”.
Ao contrário do slogan da rede de fast food, ele não amava muito tudo isso. Ele estava cansado, realmente cansado.
Não um cansaço físico, mas mental. Cansado de ter de se acostumar, como escreveu Marina Colasanti em “Eu sei, mas não devia”.
Pensava em como poderia escapar dessa ciranda tristemente viciosa que a cada dia se tornava mais pesada e sem saída.
“A gente se acostuma à poluição. À luz artificial de ligeiro tremor. Ao choque que os olhos levam na luz natural. Às besteiras das músicas, às bactérias da água potável. À contaminação da água do mar. À luta. À lenta morte dos rios. E se acostuma a não ouvir passarinhos, a não colher frutas do pé, a não ter sequer uma planta. A gente se acostuma a coisas demais, para não sofrer”.
Mas ele sofria.
Algo lhe dizia, como vozes para um esquizofrênico, que havia sim uma saída, e se angustiava ainda mais por sentir o tempo passar e não encontrá-la.
Foi quando leu sobre a estréia de “Into the Wild” (Na Natureza Selvagem, aqui), baseado na trajetória de Christopher McCandless rumo ao Alasca em busca (ou fuga) de... Bem... McCandless morreu e só há interpretações possivelmente contaminadas sobre sua escapada.
Pouco depois leu sobre Jonathan Dunham, um ex-professor canadense que largou tudo e está cruzando o planeta a pé acompanhado de seu burro, chamado Judas. Motivo, nem ele mesmo sabe ao certo. Jornais ao longo de sua rota noticiaram que ele estava caminhando pela paz mundial, para estabelecer um recorde mundial ou para divulgar a palavra de Deus.
"Eles sempre encontram algo para dizer", disse Dunham sobre os repórteres que buscam conhecê-lo.
Lendo isso, lembrou-se da multidão seguindo Forrest Gump enquanto corria. Ele apenas corria.
Dias depois, entre suas séries enlatadas preferidas, viu Jason Gideon (Mandy Patinkin) abandonar a liderança intelectual da equipe de agentes do FBI em “Criminal Minds”, deixando apenas uma carta explicando sobre sua dificuldade em ainda acreditar que as coisas podem dar certo no final.
E espantou-se com Sara Sidle, em pleno breakdown emocional diante de tantas tragédias, despedindo-se de Grisson em “CSI”. A personagem também deixa uma carta dizendo que, apesar de ter feito de tudo para ficar, precisava de um tempo para “repensar”.
Será tudo sintoma de atenção seletiva?
É um erro buscar a felicidade fora de si, dirão alguns. Mas não é de um enorme pedantismo intelectual achar que nada de fora nos atinge e basta procurar lá dentro, que somos dissociados do mundo à nossa volta, que podemos ser imunes a ele?
Não somos: ele nos influencia. Às vezes, demais.
Será que é possível "desacostumar" de tudo e recomeçar em outro lugar, viver outro personagem?
“- ...E o que você vai fazer quando chegar ao Alasca?" – pergunta o divertido malandro vivido de maneira carismática por Vince Vaughn.
“- Apenas viver, cara, viver...”, responde McCandless.
2 comentários:
Assisti ontem ao "Into the Wild". Os pais do sujeito tinham um péssimo relacionamento e, pelo que eu entendi, ele perdeu a fé nas relações humanas - o que eu acredito que seja um sentimento recorrente nos leitores deste blog, como eu. Mas mesmo os mais desesperançosos costumam ter um pingo de esperança de que as coisas vão melhorar. A impressão que tenho é a de o sujeito do filme já tinha desistido mesmo, por isso se isolou.
**SPOILER:** no final do filme me parece que ele se arrepende, quando diz que a felicidade só é verdadeira quando compartilhada. Eu também acredito nisso, por isso ainda não desisti das pessoas. Não adianta querer se isolar, como se você pudesse viver numa realidade paralela. É como você mesmo disse, não dá pra achar que podemos viver dissociados do mundo. Então vamos tentar melhorar um pouco essa joça, né?
Nessa vida somos personagens. Nosso personagem é criado a partir de uma série de “agregados”, coisas que, somadas, nos tornam aquilo que somos.
Mas e quando esse personagem “perde” quase todos esses agregados e praticamente deixa de ser o que era?
A esperança está em pensar viver outro personagem, em outro cenário.
Reconstruir o personagem, com outras cores, outros traços.
Não fosse isso, todos os citados teriam simplesmente terminado com a própria vida.
A questão da “busca interior” é fascinante e, como cantava Rita Lee, “...não adianta chamar, quando alguém está perdido, procurando se encontrar...”
Abs,
Luís
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