Dois publicitários marcaram de se encontrar prum almoço. Haviam trabalhado juntos uma época, passado já meio distante e há tempos não se viam.
Acertaram o horário e local por troca de e-mails.
Chamemos o publicitário que chegou primeiro de Publicitário 1, ou P1. O outro, P2.
P1
P1 olhou para os lados na calçada e não localizou seu amigo. Resolveu então espiar dentro do restaurante.
Acertaram o horário e local por troca de e-mails.
Chamemos o publicitário que chegou primeiro de Publicitário 1, ou P1. O outro, P2.
P1
P1 olhou para os lados na calçada e não localizou seu amigo. Resolveu então espiar dentro do restaurante.
Olhou no salão inferior, nada. No superior, também não. Ou melhor, não vira seu amigo, mas o restaurante estava começando a lotar.
Olhou para o relógio e viu que faltavam quinze minutos para o horário marcado. Resolveu pegar uma mesa antes que não sobrasse nenhuma. À primeira garçonete que veio até P1 disse que estava esperando alguém e faria o pedido depois que essa pessoa chegasse. À segunda garçonete repetiu a frase. À terceira, resolveu pedir um suco para poder continuar jogando palavras-cruzadas em paz no seu celular.
Passaram dez minutos da hora marcada. Bem, isso acontece, pensou, ainda mais em São Paulo. O cara deve estar preso no trabalho ou no trânsito... Não, ele vem a pé pra cá. Hmmm...
Há um casal na mesa ao lado. Normalmente são as mulheres que falam mais, mas o cara ali devia estar querendo impressioná-la. Não pára de falar nem pra respirar, que coisa.
Mais dez minutos, hora de ligar pra ver se houve mesmo algum imprevisto. A operadora avisa que o tal número não existe. Lembra-se que esqueceu de atualizar o número, apesar de ter recebido o aviso por e-mail. Tenta o outro número, no trabalho, mas era da agência anterior, de onde P2 havia saído há pouco. O jeito é esperar.
Duas balzaquianas discutiam a postura do chefe numa certa reunião que tiveram. Não há como falar bem de um chefe, mas precisam falar tão alto? Um senhor bem apessoado, de terno e gravata, chega apressado faz o pedido, almoça, pede sobremesa, come apressado e vai embora. Dureza essa pressa toda...
Mais dez minutos. Achou melhor ir pegar uma salada no bufê e ir tapeando. As garçonetes recomeçaram o desfile. Resolveu pedir um prato, que a essa altura veio mais rápido que o normal pois o restaurante já estava esvaziando. Bem, não iria esperar a comida esfriar. Já havia dado o cano em alguns encontros, todos com bons motivos, pensou P1, agora era sua vez de sobrar.
P2
P2 chegou no horário marcado e ficou na calçada, em frente ao restaurante, e nada do amigo chegar.
Passados quinze minutos resolveu entrar e olhar o salão. Nada. Lotado, mas não viu seu amigo.
Era melhor reservar logo uma mesa, pois o restaurante estava ficando cheio. À primeira garçonete que veio até P2 disse que estava esperando alguém e faria o pedido depois que essa pessoa chegasse. À segunda garçonete repetiu a frase. À terceira, resolveu pedir um suco para poder ficar ali sossegado com seus pensamentos.
Passaram mais dez minutos, já estava ficando tarde prum simples atraso. Lembrou-se de que não tinha o celular do amigo nesse seu novo aparelho. O jeito era pedir um prato e ir comendo devagar.
Esses restaurantes na região são interessantes, pensava, pois reúnem as “executivetes”. Lembrou-se da música “...I wanna girl with a short skirt and a long, loooonng, long jacket...”..
Mais dez minutos. Foi até muito para um prato não tão generoso. Melhor pedir a sobremesa e voltar logo pro trabalho. O amigo já havia furado em alguns encontros e ele sabia dos motivos. Provavelmente, daria mais uma daquelas desculpas mas, tudo bem, não era por mal. Pelo menos o restaurante é bom, a comida é boa, pensou.
... ...
P1 terminou o almoço, pegou sua carteira, seu celular e desceu as escadas. De cara, ou melhor “de nuca” ele percebeu. Conhecia aquela nuca, sem malícia por favor, naquela mesa ali ao centro do salão no térreo. P2 estava terminando a sobremesa.
Riram. Riram da tremenda presepada, uma expressão do passado em comum, que aprontaram com eles mesmos.
E conversaram como se encontrassem um ao outro todo dia.
2 comentários:
Muito bom! Isso aconteceu mesmo?? Enxerguei tudo!
Por mais incrível - e idiota - que pareça, aconteceu.
Dois publicitários com a cabeça no mundo da Lua só podia dar nisso.
Luís Henrique
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