terça-feira, 25 de março de 2008

TREMENDA PRESEPADA

Dois publicitários marcaram de se encontrar prum almoço. Haviam trabalhado juntos uma época, passado já meio distante e há tempos não se viam.

Acertaram o horário e local por troca de e-mails.

Chamemos o publicitário que chegou primeiro de Publicitário 1, ou P1. O outro, P2.


P1

P1 olhou para os lados na calçada e não localizou seu amigo. Resolveu então espiar dentro do restaurante.


Olhou no salão inferior, nada. No superior, também não. Ou melhor, não vira seu amigo, mas o restaurante estava começando a lotar.

Olhou para o relógio e viu que faltavam quinze minutos para o horário marcado. Resolveu pegar uma mesa antes que não sobrasse nenhuma. À primeira garçonete que veio até P1 disse que estava esperando alguém e faria o pedido depois que essa pessoa chegasse. À segunda garçonete repetiu a frase. À terceira, resolveu pedir um suco para poder continuar jogando palavras-cruzadas em paz no seu celular.

Passaram dez minutos da hora marcada. Bem, isso acontece, pensou, ainda mais em São Paulo. O cara deve estar preso no trabalho ou no trânsito... Não, ele vem a pé pra cá. Hmmm...

Há um casal na mesa ao lado. Normalmente são as mulheres que falam mais, mas o cara ali devia estar querendo impressioná-la. Não pára de falar nem pra respirar, que coisa.

Mais dez minutos, hora de ligar pra ver se houve mesmo algum imprevisto. A operadora avisa que o tal número não existe. Lembra-se que esqueceu de atualizar o número, apesar de ter recebido o aviso por e-mail. Tenta o outro número, no trabalho, mas era da agência anterior, de onde P2 havia saído há pouco. O jeito é esperar.

Duas balzaquianas discutiam a postura do chefe numa certa reunião que tiveram. Não há como falar bem de um chefe, mas precisam falar tão alto? Um senhor bem apessoado, de terno e gravata, chega apressado faz o pedido, almoça, pede sobremesa, come apressado e vai embora. Dureza essa pressa toda...

Mais dez minutos. Achou melhor ir pegar uma salada no bufê e ir tapeando. As garçonetes recomeçaram o desfile. Resolveu pedir um prato, que a essa altura veio mais rápido que o normal pois o restaurante já estava esvaziando. Bem, não iria esperar a comida esfriar. Já havia dado o cano em alguns encontros, todos com bons motivos, pensou P1, agora era sua vez de sobrar.


P2

P2 chegou no horário marcado e ficou na calçada, em frente ao restaurante, e nada do amigo chegar.

Passados quinze minutos resolveu entrar e olhar o salão. Nada. Lotado, mas não viu seu amigo.

Era melhor reservar logo uma mesa, pois o restaurante estava ficando cheio. À primeira garçonete que veio até P2 disse que estava esperando alguém e faria o pedido depois que essa pessoa chegasse. À segunda garçonete repetiu a frase. À terceira, resolveu pedir um suco para poder ficar ali sossegado com seus pensamentos.

Passaram mais dez minutos, já estava ficando tarde prum simples atraso. Lembrou-se de que não tinha o celular do amigo nesse seu novo aparelho. O jeito era pedir um prato e ir comendo devagar.

Esses restaurantes na região são interessantes, pensava, pois reúnem as “executivetes”. Lembrou-se da música “...I wanna girl with a short skirt and a long, loooonng, long jacket...”..

Mais dez minutos. Foi até muito para um prato não tão generoso. Melhor pedir a sobremesa e voltar logo pro trabalho. O amigo já havia furado em alguns encontros e ele sabia dos motivos. Provavelmente, daria mais uma daquelas desculpas mas, tudo bem, não era por mal. Pelo menos o restaurante é bom, a comida é boa, pensou.

... ...

P1 terminou o almoço, pegou sua carteira, seu celular e desceu as escadas. De cara, ou melhor “de nuca” ele percebeu. Conhecia aquela nuca, sem malícia por favor, naquela mesa ali ao centro do salão no térreo. P2 estava terminando a sobremesa.

Riram. Riram da tremenda presepada, uma expressão do passado em comum, que aprontaram com eles mesmos.

E conversaram como se encontrassem um ao outro todo dia.

2 comentários:

celia Penteado disse...

Muito bom! Isso aconteceu mesmo?? Enxerguei tudo!

tHe HeAdSHakEr disse...

Por mais incrível - e idiota - que pareça, aconteceu.
Dois publicitários com a cabeça no mundo da Lua só podia dar nisso.

Luís Henrique