sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

DISCRIMINAÇÃO


Uma rapidinha:

- Se na rua você chama alguém de "preto", cadeia! Se chama alguém de "viado", cadeia! Eles conseguiram seu lugar na sociedade. Eu, fumante, pelo contrário: agora com essa nova lei, sou legalmente discriminado. Não me conformo, sou discriminado, me sinto discriminado...

- Calma, não é bem assim...

- Sou discriminado, me sinto um pária, discriminado...

- Não enche o saco! Fica aí se fazendo de vítima... Eu não tenho filhos, sou vegetariano, não gosto de futebol, nem de samba, nem de novela e BBB. E sou ateu. Não me venha falar em discriminação...


segunda-feira, 30 de novembro de 2009

AUTO-AJUDA NÃO AUXILIA QUEM REALMENTE PRECISA



A capa da Veja desta semana apresenta matéria sobre a praga da auto-ajuda, que consome espaço nas prateleiras das livrarias, e provavelmente um monte de gente vai encher o peito pra falar bem desse troço, mais ou menos assim; “Tá vendo? Até saiu na capa da Veja!...” como se isso tivesse algum mérito ou tornasse a coisa séria ou científica.




Então, antes que você vá à livraria mais próxima gastar sua grana e deixar os autores ainda mais milionários, leia um pouco mais...
Repetir frases positivas como "Sou uma pessoa querida" ou "Vou ter sucesso" faz com que algumas pessoas se sintam piores em relação a si mesmas, ao invés de elevar a autoestima, destaca um estudo divulgado nos Estados Unidos.


"Desde pelo menos a publicação do livro de Norman Vincent Peale 'O poder do pensamento positivo' (1952), os meios de comunicação têm estimulado as pessoas a dizer coisas favoráveis sobre si mesmas", afirma o estudo coordenado por psicólogos canadenses, publicado na revista Psychological Science.


O estudo cita uma revista popular de autoajuda que recomenda aos leitores: "Testem recitar: 'Sou poderoso, sou forte e nada neste mundo pode me deter'". Mas o conselho não funciona para todos.


As frases positivas sobre si mesmo fazem com que as pessoas que já se sentem mal em relação a si mesmas não fiquem melhor, e sim pior, conclui o estudo coordenado pelos psicólogos Joanne Wood e John Lee, da Universidade de Waterloo, e Elaine Perunovic, da Universidade de New Brunswick.


No estudo, os especialistas pediram a pessoas com baixa e alta autoestima que repetissem a frase "Sou uma pessoa querida", para em seguida medir os estados de ânimo e os sentimentos dos participantes. Eles detectaram que os indivíduos que começaram o estudo com baixa autoestima se sentiram piores depois de repetir a frase.


"Penso que o que acontece é que quando uma pessoa com baixa autoestima repete pensamentos positivos, provavelmente tem pensamentos contraditórios", declarou Wood à AFP.


"Portanto, se afirmam 'Sou uma pessoa querida', podem estar pensando 'Bem, nem sempre sou querido' ou 'Não sou querido neste sentido' e estes pensamentos contraditórios podem fazer transbordar os pensamentos positivos", explicou.


Apesar dos pensamentos positivos parecerem efetivos quando integram uma terapia mais amplia, sozinhos tendem a reverter o efeito que supostamente devem ter, segundo Wood.
O psicólogo afirma que os livros, revistas e programas de TV de autoajuda devem para de dizer às pessoas que apenas a repretição de um mantra positivo levantará a autoestima. "É frustrante para as pessoas quando tentam e não funciona".



Os psicólogos sugerem que pensamentos positivos fora da realidade, como “eu me aceito completamente”, podem causar pensamentos contraditórios em pessoas com a auto-estima baixa. Estes pensamentos negativos podem, assim, sobrepor os pensamentos positivos.
Os pesquisadores concluem no estudo que “A repetição de frases auto-afirmativas podem beneficiar algumas pessoas, mas produzem efeitos negativos naquelas pessoas que mais precisam do benefício”. [Science Daily]

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

NATAL, TEMPO DE PAZ, AMOR E HIPOCRISIA...

Estão todos lá, gordos porém elegantes em seus ternos bem cortados, suas mulheres cuidando das crianças que correm pela sala, as tias trazendo os pratos para a ceia, os tios contando lorotas sobre seus passados, as vovós e vovôs dormindo nas cadeiras nos cantos e as famosas canções natalinas preenchendo o ambiente alegre e festivo.

Todos se abraçam, desejam os mais elevados sentimentos de paz, amor, saúde e felicidade uns aos outros.

Imagine essa festa natalina numa “famiglia” de mafiosos.

Não há como negar: são criminosos. Pessoalmente talvez nunca tenham matado alguém, jamais empunharam uma arma ou sequer um canivete. Mas foram mandantes de diversos crimes. Seu dinheiro comprou fidelidade e obediência às suas ordens de assassinatos, seqüestros, roubos...

Sobre aqueles sorrisos e sinceros desejos de paz e felicidade pairam cadáveres.
Sobre você também.

Sim, sei, você não é mafioso, claro, mas sobre sua mesa também jazem cadáveres. Pedaços deles.

São perus, lombos, tenders, patos, cabritos, leitões e outros animais mortos sob seu comando. Não se engane: no caso deles, você é o Chefão que não põe a mão na arma, mas paga para matar.

Paga ao açougueiro, que paga ao frigorífico, que paga à fazenda, que paga ao funcionário para enfiar um facão no pescoço de uma vaca, eletrocutar um porco, degolar um peru.

Em sua feliz festa natalina, na efusão de desejos de paz e felicidade, sob seu comando animais tiveram vidas miseráveis, foram transportados em péssimas condições, muitos morreram no caminho, foram levados aos abatedouros, torturados, esfolados, escalpelados e retalhados com muita dor e desespero num banho de sangue.
Mas nada disso você vê sobre sua imaculada toalha branca. Eles foram prévia e convenientemente transformados naquele naco de carne sobre sua mesa decorada com motivos natalinos.

Como desejar a paz enquanto se financia o inferno? Como sonhar com felicidade quando se estimula o sofrimento? Como falar sobre boa saúde quando se é responsável por tantas mortes?

Finja o quanto quiser, negue o quanto puder. Engane a si mesmo.

E assim, com sorriso nos lábios, deseje feliz natal a todos.


Para saber um pouco da verdade por trás de um peru de natal, leia:
http://www.vegetarianismo.com.br/sitio/index.php?option=com_content&task=view&id=1960&Itemid=144

terça-feira, 24 de novembro de 2009

HIPERSUPERMEGAULTRA CONECTADO


Enquanto e-mails, não param de chegar, você se informa dos assuntos na intranet da empresa onde trabalha. Como lá a chefia resolveu bloquear acessos às comunidades virtuais, você se atualiza pelo celular mesmo, preferencialmente no banheiro, quando o chefe não está vendo, ou durante o almoço.

Então você chega em casa depois de enfrentar aquele trânsito infernal do mundo real e imediatamente corre para o computador. Dá uma olhada no LinkedIn pra ver se não surge uma oportunidade em outra empresa e aproveita para ampliar seus contatos profisisonais no Via6. Seus colegas de MBA no Facebook aguardam uma resposta sua enquanto no Orkut aquele primo que mora em outro estado tem algo pra te contar.
Então você "sobe" umas fotos das suas últimas férias para o Flickr enquanto atende uma chamada no Skype na qual um colega pergunta por que você ainda não o segue no Twitter e você responde que não teve tempo pois estava atualizando seu site pessoal e tinha virado a madrugada numa lista de discussão. Com tudo isso, acabou esquecendo também de postar aquele artigo em seu Blog...

Se você não vive numa ilha deserta sem energia elétrica e sem nenhum contato com o resto do mundo, então com certeza deve estar em um ou mais dos ambientes virtuais mantendo contato com outros conectados, tornando-se sempre disponível.

LinkedIn, Facebook, Via6, Orkut, weblogs, fotologs, Flickr, Twitter, blogs, MySpace, UOLK,
Windows Live Space, sites pessoais, listas de discussão, e-mails e mais e-mails, Skype, Nimbuzz, telefone celular... Só pra mencionar os mais conhecidos. A lista completa é imensamente maior.
Estamos hoje brincando de Deus, ao menos no que se refere à onipresença. Queremos, ou melhor, precisamos estar em tantos lugares virtuais diferentes ao mesmo tempo que acabamos por ficar num único lugar real por muito tempo: em frente ao computador.

Não, esta não é mais uma crítica ao mergulho no mundo virtual em detrimento do mundo real. Acho essa divisão meio besta. Afinal, "do outro lado do teclado" há um humano como você. O problema mesmo é o tempo que a gente perde (alguns dirão "investe") nessas diversas conexões.

Eu tentei concentrar tudo num só lugar, agrupar todos os meus contatos e interesses, mas não demorou muito para alguém me convidar para outra "comunidade" X.

OK, pensei, estar em duas não trará problema. Mas daí outro c
olega enviou convite para participar do grupo Y. Por e-mail recebi uma quase intimação para instalar o Skype. Onde já se viu ainda falar por telefone? E em seguida me perguntam como ainda não estou no Twitter?..

Uma vez dentro, ah... Em pouco tempo você já não consegue mais deixar de ao menos dar uma espiada no que anda rolando num ou noutro canto virtual, precisa se inteirar dos papos, verificar oportunidades, fechar negócios, marcar encontros, matar saudades.

A LER (lesão por esforço repetitivo) nos pulsos em breve migrará para os dedos que se espremem nos minúsculos teclados dos celulares. Apesar de eliminar fronteiras e distâncias, o mundo virtual trará mais problemas oculares pois o foco de nossos olhos está sempre muito próximo, ali no monitor ou na telinha. Muito tempo sentado trará mais celulite para as mulheres e mais barriga para os homens...

Ou não!

Em breve, o deslumbramento com essas novas tecnologias passará, ficaremos mais seletivos e usaremos somente aquilo que realmente nos traz algum retorno e não pura perda de tempo, papos furados, informação inútil.

Se o mundo não acabar em 2.012 (ê mania besta essa de acabar com o mundo), quem viver, verá.

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

PALPITEIRO DE PLANTÃO

Eu estudei Publicidade e Marketing. Estudei bastante, mas mesmo assim dou bolas fora, como todos os especialistas por aí, exceto Kotler, claro.

Lembro que a primeira vez em que me deparei com a revista Caras torci o nariz e perguntei a mim mesmo quem iria querer comprar uma revista como aquela. Fútil, rala, superficial, falando da vida dos ricos e famosos em poses forçadas nas fotos em castelos da Europa, exibindo sorrisos clareados ou jaquetados em dentistas careiros.

Eu havia esquecido dos wannabes, aquele consumidor classe média que sonha em ser como os fotografados nela. São milhares, milhões provavelmente.


Errei feio também em relação ao BBB. Pensei que não passaria da segunda temporada. Afinal, quem iria querer assistir a um bando de gente tosca, porém bonita, falando bobagens em Português ruim? Até teria alguma graça se fosse realmente um reality show, mas todo mundo sabe que não é. Tem produção e enredo, participações, atitudes e representação de personagens numa espécie de novela, porém de nível ainda mais baixo.


Superestimei o público telespectador, assim como o fiz quando estreou o Programa do Ratinho. Eu achava que era apenas um programete do tipo “pinga sangue” para classe D e E, mas me surpreendi quando os mesmos wannabes classemedianos, em jantares regados a prosecco, o tornaram Cult, dizendo que achavam engraçado, divertido, apenas curiosidade. A febre passou, mas não deveria nem ter pegado.


Mas eu também acerto, às vezes.


Quando parecia que o mundo todo estava mergulhando de cabeça no Second Life eu me sentia, mais uma vez, um estranho no ninho. Não via utilidade naquilo nem como poderia ser sucesso algo que dependia necessariamente de volume (de pessoas, usuários) num país de baixa renda em que o acesso a computadores e banda larga ainda é utopia para mais de 90% da população.


Zilhões de dólares investidos, diversas empresas acionaram seus departamentos de marketing para criar estratégias para adentrar ao mundo virtual e... Deu no que deu, ou seja, em nada, aqui e lá fora.


Na linha “uma onda” – que vai embora do mesmo jeito que chega - acertei quanto ao “O Segredo”. Veio como uma avalanche, todo mundo só falava naquilo e... Virou fumaça, ninguém lembra mais. Ainda bem.


Então chega o iPhone.

Inegável: a Apple, pelas mãos mágicas de seu mestre Steve Jobs, tem o mérito de ter se transformado em mito, como a Harley Davidson, algo que pouquíssimas marcas conseguem. Apesar de ambas não passarem incólumes nem vencerem testes comparativos com suas concorrentes, elas tem um carisma construído com talento extraordinário, insistência e muitos milhões em marketing.


O iPhone transformou o mercado, fez toda a concorrência correr para o touchscreen (que eu ainda acho que é pura melação de visor) e as mais diversas empresas do planeta a desenvolverem softwares compatíveis com o aparelho, tentando aparentar modernidade e avanço tecnológico na rabeira do celular da Apple. Mas isso foi há meses, vários meses...

No final de semana, em anúncio de uma página inteira de jornal, vi mais um aplicativo desenvolvido para iPhone, um tal de iLocal.


Ôpa! Péraí.


A febre do iPhone já passou. Sim, ainda há muitos que sonham com um aparelho daqueles mas, segundo números divulgados recentemente, no Brasil foram comercializados “apenas” 200 mil iPhones, pouco mais, pouco menos.


Ora, num país com quase um celular por habitante, ou seja, uns 170 milhões de aparelhos, o número de iPhones é ínfimo. Pode-se até considerar que seja um público diferenciado, um nicho de mercado, mas é um engano. Nesse mesmo nicho estão os felizes proprietários de Blackberries, Nokias, Palms, vários deles mais caros que o iPhone e, não consigo deixar de citar, muito melhores tecnicamente falando.


Porquê não desenvolver um aplicativo “para celulares” ao invés de “para iPhone”?


Se alguém tiver números que corroborem a validade (ROI) de criar coisas só para o iPhone, eu gostaria de ver.

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

O VALOR DAS COISAS

Numa certa mostra internacional, artistas corriam para preparar a exposição de suas obras antes da abertura para o público. Quadros pra lá, eletricistas, esculturas pra cá, marceneiros, instalações diversas sendo montadas a toque de caixa e faxineiros tentando deixar tudo em ordem.



Portas abertas pela manhã, no início da tarde alguns sites já exibiam artigos com opiniões de críticos e especialistas sobre as obras da exposição.


Sobre uma delas escreveram, com comentários repletos de filosofia, psicologia, muitas metáforas e elogios, que o artista baseava-se na vida cotidiana atual, no caos das cidades grandes e nos sentimentos aflitivos de seus moradores para criar suas instalações. Era um artista famoso e suas obras valiam uma grana preta.


Corria, porém, entre os funcionários, um comentário fortemente abafado pelos organizadores da mostra que o tal artista havia passado mal na noite anterior enquanto preparava sua instalação. Abandonando o local sem terminá-la, os faxineiros não tiveram dúvida: acreditando que “aquilo” eram sobras de alguma coisa qualquer, puseram-se a fazer seu trabalho e varreram boa parte da “obra” para o lixo e amontoaram outro tanto de tralhas num canto para que não atrapalhasse a passagem dos visitantes.


A “obra” tão elogiosamente comentada era, em verdade, trabalho dos faxineiros.


Noutro caso, um museu em Londres ou Paris, não me lembro bem, exibiu durante algum tempo um valiosíssimo quadro de um artista do século XVIII. Visitantes faziam enormes filas para ver o tal quadro e críticos babavam sobre a técnica das pinceladas, a profundidade e equilíbrio das cores e formas, sobre a prodigiosa mente criadora do artista.


Tudo ruiu quando especialistas, utilizando técnicas laboratoriais, descobriram que o quadro não havia sido pintado pelo autor que imaginavam, ou seja, era falso. Como mágica, o quadro que valia algumas centenas de milhares de euros passou a valer menos que o custo das tintas nele utilizadas. Zero, nada, foi pro lixo.


Com estes dois casos ocorreram-me algumas idéias sobre o valor das coisas. Tanto a instalação como o quadro, com tantas qualidades amplamente elogiadas, não tinham nenhum valor em si. O valor estava em quem fez, ou melhor, em quem imaginavam que havia feito.
Assim: se a instalação foi montada pelo tal diarréico, é artística e vale muita grana; se foi feita por faxineiros não vale nada. O quadro, que nada mudou de antes para depois da revelação, valia euros com muitos zeros à direita se tivesse sido pintado pelo tal artista mas, pintado por um Zé qualquer, não valia nada.


Entendeu? O que vale não é “o que”, mas “quem”.


É mais ou menos como, popularmente falando, ter ou não etiqueta original. Uma camiseta de marca X custa R$150,00 mas uma idêntica, comprada no Largo da Batata em Pinheiros, pode ser encontrada por R$20,00.


Eu tenho profunda implicância com Miró. Certa vez, quando suas obras estavam no MASP e o fato tomou a mídia por um bom tempo (demais), eu e meus colegas fizemos umas reproduções de suas obras. Algumas ficaram realmente muito próximas do original.


Falando sério: porque os quadros do Miró valem tanto dinheiro, uns rabiscos que se não me avisassem eu juraria que haviam sido feitos por uma criança de quatro anos com problemas motores, e os nossos não valiam nada?


Simples: porque ele se tornou “marca”, “etiqueta”. Isso alcançado, qualquer m... que ele fizer valerá uma big Sansonite cheia de dólares.


Há muitas possibilidades de explicações sobre como se faz isso, como alguém consegue colocar tremendo valor nas tranqueiras que faz. Invente a sua, assim como pintores, escultores, costureiros e designers inventam mirabolantes explicações sobre o que fazem.


Os rabiscos de minha sobrinha devem valer uma fortuna, basta que eu invista alguns minutos na criação de uma explicação metafísica sobre os garranchos e convença algum marchand. Pronto!


Muitos caem na conversa e pagam os olhos da cara por algo que, acidentalmente, um chimpanzé poderia fazer.


Para valorizar e dar alguma erudição a uma praça perto de onde eu trabalhava, empresas ao redor se responsabilizaram pela manutenção dos canteiros, da limpeza e, finalmente, decidiram colocar uma obra de certa artista plástica. Ela era artista plástica, mas sua obra era um grosso tronco de madeira natural colocado meio em pé, num ângulo de 45 graus em relação ao chão.


Bonito isso: um enorme toco de madeira inclinado. Isso, hoje, é arte. Isso é arte? Minha nossa...

terça-feira, 10 de novembro de 2009

QUE ATIRE A PRIMEIRA PEDRA

Diz a lenda, ou melhor, a Bíblia, que o zé povinho se juntou para apedrejar Maria Madalena por que ela era adúltera e, nas horas vagas, prostituta. Era um método precursor do atual stone washed, só que pra lavar pecados e não calças jeans.
Provavelmente, entre os apedrejadores estariam alguns dos que se utilizaram dos serviços dela, mas naquele momento, levados pela animosidade da turba alucinada, entraram na malhação.

É um caso atualmente impensável e, além de considerado vandalismo cruel, poderia ser classificado como “fazer justiça com as próprias mãos”, afinal hoje temos instituições e representantes oficiais encarregados de punições quando as regras sociais são violadas.

Isso foi há quase dois mil anos segundo o tal livro, mas a lição ficou. E o povo não evoluiu nada.

A Maria Madalena da hora é representada por Geyse, uma garota cheinha de curvas que usava um minivestido rosa choque colado ao corpo. Não, ela não é – ao menos pelo que se sabe – adúltera nem prostituta, não vai estar numa nova edição da Bíblia nem queria lavar seu vestido à pedras mas, por azar dela ou por falta de tempo dele, nesta atualização do episódio Jesus não veio ao seu socorro fazer a famosa pergunta: “Que atire a primeira pedra...”.

Aliás, Jesus teve sorte nessa hora. Estivessem por ali sua mãe ou um português a pobre teria levado uma tijolada na testa. Explico: sua mãe, não a sua, a de Jesus, nunca errou no sentido de que nunca pecou (afinal, ele surgiu de uma imaculada conceição, não?!) e um português teria interpretado a pergunta como um desafio à sua pontaria...

Com o caso circulando por toda a imprensa mundial, resta pouco a acrescentar, mas fico horrorizado e temeroso quando ouço meninas e garotos da mesma faculdade, com seus vinte e poucos anos, fazendo comentários profunda e retrogradamente machistas e, mal disfarçadamente, incriminando Geyse. Fico ainda mais descrente no futuro da humanidade quando garotos da faculdade dizem que “...oras, mas ela estava provocando...”.


A mentalidade dos jovens, de boa parte deles, traz conceitos e idéias que remontam aos mais negros períodos da Idade Média, isso sem falar do perigosíssimo espírito de manada, sempre criticado aqui no Pausa, que toma conta das mentes fracas e ainda pouco desenvolvidas .

Para esses jovens será preciso alterar a letra da música:

“...ainda somos os mesmos e vivemos,
ainda somos os mesmos e vivemos,
a-in-da s-o-m-o-s os meeesmos e vivemos
coooooomo neandertaaaaaaa-a-a-a-ais...”

sábado, 7 de novembro de 2009

CURSO PARA SER DO CONTRA

Estou lendo, simultaneamente, O Andar do Bêbado, de Leonard Mlodnow, e A Morte da Fé, de Sam Harris.



Sobre o livro do Harris nem preciso dizer nada. Comprei sabendo que ia "chover no molhado" pois já li Deus Não É Grande, de Christopher Hitchens e Carta a Uma Nação Cristã, do próprio Harris. Não li Deus, Um Delírio porque já li tantas resenhas e comentários que tenho a impressão de já ter lido o livro todo.



Escolho esse tipo de leitura por dois motivos: me divirto e sinto que não estou sozinho no planeta e que há mais gente que pensa como eu. De maneira muito mais elaborada e aprofundada, claro, esses autores fazem as mesmas críticas que eu faço à crença em coisas sobrenaturais. Penso, realmente, como dito no documentário Religulous por Bill Maher, que "...a fé só pode ser uma disfunção neurológica".


O outro livro, involuntariamente, é um apoio científico às questões discutidas nesses citados acima, porém focando outros tipos de crenças.


Eu gosto de iconoclastas e autores que derrubam ilusões. Mlodnow, em seu livro, destrói uma a uma as diversas certezas e afirmações corriqueiras que nos acompanham no dia a dia (não sei se tem ou não hífen aí).


Falácias do tipo "post hoc, ergo propter hoc", ou seja, aquelas afirmações do tipo "isso aconteceu por causa daquilo" são implodidas em suas raízes e ele, doutor em Física pela Universidade de Berkeley, mostra cientificamente como a aleatoriedade e eventos externos imprevisíveis estão muito mais presentes em nossas vidas do que gostaríamos de imaginar.


Vai contra a maioria absoluta das pessoas nesse planeta? Sim, porque "acreditar é mais fácil que pensar. Por isso há muito mais crentes que pensadores" disse Bruce Calvert.





E você, está lendo o quê?

terça-feira, 3 de novembro de 2009

FINADOS


Ontem foi Dia de Finados.


Cemitérios lotados, muitas flores e velas vendidas fizeram a alegria dos comerciantes nas portas do além.


Como de costume, comecei a pensar nos costumes.


Certa vez, quando comentei com amigos que um fulano mantinha as cinzas de sua mãe na estante da sala, acharam estranhíssimo, tétrico.


Guardar aquelas cinzas limpinhas, esterilizadas pelas labaredas do imenso forno crematório e guardadas numa caixinha ornamental era, para eles, algo que não fariam jamais.


Porém eles, tão assustados com a inofensiva caixinha, não achavam estranho construir uma pequena edificação sobre um buraco onde se escondia o cadáver de um familiar e, pior, mantinham o hábito de ir visitar essa edificação acreditando que ali estaria mesmo um parente e não uma carcaça putrefata consumida por vermes.


E mais: levavam flores e velas para a carcaça, se é que ainda havia alguma e não apenas ossos podres.


Caixinha com cinzas é estranho, buraco com carne podre não. Que gente estranha esses meus amigos...


Em pleno Século XXI, numa cidade caótica e carente de espaço, seria muito mais útil se as enormes áreas ocupadas por cemitérios fossem destinadas a praças ou parques, centros culturais, creches ou , ainda mais prático, estacionamentos.


O hábito de ir ao cemitério é apenas um ritual que, como todos eles, são procedimentos para sintonizar nossa mente num determinado assunto, no caso, um ente querido. Mas poderiam lembrar dele todo dia se tivessem suas cinzas numa caixinha na estante, não necessitando esperar o dia oficial para isso.


Em cinzas esse ritual é muito mais prático pois não ocupa muito espaço, é mais higiênico, não fede, não apodrece, não cria bicho como dizem. Se sua família for grande e fique difícil decidir quem guardará a caixinha, façam rodízio. Cada um fica um pouco com as cinzas e ela seria um bom motivo para reunir as famílias, uns visitando os outros em torno da caixinha. Evitaria o trânsito, o pagamento de flanelinhas para estacionar, os custos de manutenção da vaga, ou melhor, da vala no cemitério, etc., etc.


Visitar túmulo - um amontoado de cimento, tijolos e azulejos (ou mármores para os mais abastados) com um buraco embaixo e carniça dentro, é um hábito arcaico e tão fantasiosamente infantil quanto esperar Papai Noel ou Coelhinho da Páscoa.


Mas, como na música, ainda viveremos e seremos por muito tempo como nossos pais. Até depois de mortos.

terça-feira, 27 de outubro de 2009

CONSELHOS PARA ENTREVISTAS DE EMPREGO


Já escrevi outros posts sobre esse assunto (veja aqui e aqui), mas num país com desemprego crônico – a despeito de sua queda que se anuncia por aí – esse assunto não sai de pauta.


Eu me divirto com os especialistas. Seus conselhos beiram o ridículo de tão impossíveis... Na verdade, nos aconselham qualquer coisa pois precisam colocar mais um de seus artigos no ar e assim manter presença na rede.


Vou citar uns conselhos e dar minhas idéias sobre eles. Numa entrevista de seleção o candidato deve:


1- Ter autoconhecimento.
Isso é fácil pois nascemos todos com grande talento para psicologia e nunca nos enganamos sobre nós mesmos, não é? Nossas opiniões sobre nós próprios jamais se apresentam contaminadas por vieses egóicos ou simples ignorância. Se dependessem de você, psicanalistas morreriam de fome.

2- Ter conhecimento sobre o mercado potencial de seu futuro empregador.
Sim, você, caro candidato desempregado, deve ter acesso a informações setoriais nem sempre divulgadas ou encontradas facilmente. Você precisa ser no mínimo como Peter Drucker e visualizar as tendências do setor para o futuro a médio e longo prazos, ou comprar uma bola de cristal e fazer algum ritual new age de visualização do Universo sem o empecilho das dimensões do espaço-tempo.



3- Compreensão e domínio sobre o processo de entrevista
Sabendo que há vários tipos de entrevistas de seleção – tradicional, conversacional, comportamental, de pressão propositada, a expositiva, só para citar algumas – e um número incalculável de tipos de entrevistadores elevado à enésima potência se levar em conta suas possíveis variações de humor (afinal, eles são humanos) você deverá investir um tempo para se preparar para elas. Algo em torno de 735 anos.



4- Conhecimento sobre a empresa
Mesmo se ela tiver um website decente (raro...), não se fie nele pois lá só encontrará a versão oficial do que é aquele antro onde tenta entrar. Procure pela web em sites de reclamações e de defesa do consumidor e encontrará a verdadeira face dela. Só não tente discutir o que ler ali com o entrevistador, certo?



5- Conhecimento Geral
Aqui recomendam “...saber o que acontece no mundo e as implicações desses fatos na sociedade e nos negócios, informar-se sobre os principais acontecimentos econômicos, políticos, sociais e culturais, cultivando o hábito da leitura dos bons jornais diários e revistas semanais nacionais e internacionais”. É isso aí: pare de perder tempo no Orkut e no Facebook e, pior, no Twiter, deixando de lado todo o enorme conhecimento que se pode adquirir em 140 caracteres. Mesmo se conseguir fazer isso, não se anime: com a produção de notícias e conhecimento crescente em progressão geométrica neste mundo globalizado e interconectado, some mais uns 2.000 anos em seu treinamento para entrevista, lembrando que, lá na frente, seu conhecimento sobre atualidades terá passado para a categoria de história da civilização.


Tendo conseguido seguir esses conselhos, Buda, o Iluminado, virá de lá do Vazio para cumprimentá-lo e Jesus Cristo finalmente voltará e lhe oferecerá seu santo lugar ao lado de Deus Pai Todo Poderoso, ou talvez Ele próprio ceda Seu lugar a Ti, oh ser inigualável.


Vender conselhos sobre entrevistas de seleção, em nossa atual e eterna realidade, é mais fácil que vender água no deserto. Vou me informar sobre esse tipo de trabalho...

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

UM NOVO TIPO DE PRECONCEITO

"As pessoas projetam nos animais suas próprias carências afetivas...".


"...projetam neles a falta de filhos...".


"...resgatando animais nas ruas projetam neles seu próprio abandono...".


Quanta responsabilidade colocamos sobre nossos pets, não!? Quem diria que os animais se tornariam nosso suporte existencial...


Toda vez que leio algo sobre pessoas que tem vários (muitos) animais em suas casas ou aquelas que se dedicam a resgatá-los das ruas nas cidades grandes, apesar do tom meio dramático de alguns artigos, sempre dou risada.


Acho engraçadas as opiniões de psicólogos sobre "esse tipo de gente". Bem, ao menos eles tem uma opinião menos ruim do que os leigos, para os quais essa gente é simplesmente louca por "preferir bichos ao invés de humanos" - o que não é verdade, apesar do clichê por eles muito utilizado "quanto mais conheço os homens mais estimo os animais".

De qualquer modo, sejam opiniões científicas ou leigas, é fato que a sociedade estranha esse tipo de comportamento, tanto que volta e meia o assunto gera um artigo por aí.


Os civis - aqueles que não são cachorreiros, gateiros, protetores, cuidadores e outros seres humanos estranhos ligados aos animais - estão sempre prontos a lançar um olhar de desconfiança sobre o que consideram um comportamento "não normal".


Ora, como é possível definir o que é ou não normal? Podemos estabelecer o que é comum, corriqueiro, bem aceito socialmente a ponto de ninguém nem notar o absurdo, mas não o que é normal no sentido absoluto da palavra.


Duvida? Tente se afastar um pouco de sua realidade, tente um olhar mais crítico, mais agudo e perceberá o quanto de loucura permeia o seu dia-a-dia.

É normal ter filhos e deixá-los o dia todo numa creche ou com a empregada em casa porque os pais tem de trabalhar e só os veem duas horas por dia, à noitinha, quando voltam para casa esgotados e irritados?


É normal nos apertarmos em imóveis minúsculos e caríssimos e em ruas superlotadas de automóveis expelidores de gases tóxicos em cidades violentas e opressoras enquanto há tanto espaço verde, livre e tranquilo por aí?


É normal passarmos o dia todo num escritório fazendo algo que odiamos junto de gente que não suportamos?

É normal entrar numa edificação e ficar mentalmente pedindo a uma abstração coisas como a cura para alguma doença ou uma melhoria qualquer na vida?


É normal acreditar que sua união com outra pessoa vale mais porque você entrou num lugar cheio de gente e um tipo de pajé com túnica branca fez um ritual antiquado e esquisito falando coisas que ninguém ali presente entende direito ou invés daquele casal que simplesmente resolveu tocar a vida junto?



É normal ir a um estádio pagando uma grana preta pra ficar espremido feito sardinha no meio de uma turba alucinada e fedida só pra ver alguém cantar (bem de longe)?


É normal passar o ano todo preocupado com o aluguel, irritado com o trânsito, mal humorado com seu emprego e vivendo sua vidinha "normal" mas de repente, sem mas nem menos, por decreto, ficar alegre, feliz soltar a franga durante quatro dias só porque dizem que "é Carnaval"?


E voltar àquela vidinha besta logo depois, como se tivesse um botão "on/off" nas costas?


É normal dizer que ama os animais referindo-se apenas a cães, gatos ou passarinhos enquanto come outros, como vacas, porcos e perus no jantar?


É normal se recusar a admitir ou conhecer a verdade violenta e cruel por trás de cada bife em sua mesa e, mesmo sabendo, não fazer nada a respeito nem mudar seu estilo carnívoro de vida?






É normal "torcer por um time" (que nunca é o mesmo pois jogadores vão e vem o tempo todo) e sofrer se ele perde ou se sentir o máximo e tirar sarro do colega torcedor do time adversário porque o "seu" ganhou "do dele"?


Tudo isso e infinitas outras coisas são "comuns" mas, racionalmente falando, não deveriam ser consideradas normais. Agridem o bom senso, ferem a lógica.


A "loucura" daquela gente que "ao invés de tirar uma criança da rua, fica resgatando gatos" não é maior nem menor que a dos outros. Ela tem apenas um foco diferente.


Assim como o racismo, sexismo e especismo, proponho o "louquismo", o preconceito contra a loucura dos que ainda são minoria.
E viva os loucos, aqueles com coragem de sair da mesmice, de não seguir a manada e pensar por si próprios.




segunda-feira, 28 de setembro de 2009

VOCÊ DEIXOU SEU CARRO EM CASA?


O último dia 22 de Setembro foi o tal Dia Mundial Sem Carro. O objetivo, entre outros, é conscientizar as pessoas sobre a poluição, meios alternativos, meio-ambiente, a vida no planeta e blá, blá, blá...


O real problema de nosso mundo é que nossa sociedade se tornou a "sociedade do atalho". Sempre que nos deparamos com algum problema tomamos a iniciativa mais fácil e rápida, que invariavelmente se mostra inócua e burra.


Quer fazer algo pelo ar que respiramos, pelo planeta, pela vida? Um artigo no Le Monde
(
http://noticias.uol.com.br/midiaglobal/lemonde/2007/09/25/ult580u2679.jhtm) mostra que na escala mundial, a criação de gado é responsável por 65% das emissões de hemióxido de nitrogênio (azoto, essencialmente imputáveis ao esterco), enquanto o gado engendra 37% das emissões de metano.


É preciso 4 kg de cereais para produzir 1 kg de frango, e 6 kg de grãos para 1 kg de porco. Este último necessita, além disso, de 4.600 litros de água. Esta quantidade aumenta para 13.500 litros para 1 kg de boi, enquanto apenas 1.000 litros de água são necessários para produzir 1 kg de trigo.As produções de origem animal - carne, ovos, laticínios - são extremamente poluentes. Os bilhões de toneladas de excreções que delas se originam engendram resíduos nitrogenados nos solos e nos rios. Além disso, a pecuária, por si só, representa 18% das emissões mundiais de gases de efeito-estufa.


Ou seja, uma contribuição para o aquecimento climático que é mais elevada do que aquela dos transportes.Um outro ponto negativo desta produção é constituído pelo seu próprio consumo. Os pastos ocupam 30% das superfícies emersas, enquanto mais de 40% dos cereais que são colhidos servem para alimentar não diretamente os homens, e sim o gado. Uma vez que as áreas disponíveis são insuficientes para atender à demanda, a criação de gado pode provocar o desmatamento de florestas.


Além disso, a pecuária é grande consumidora de matéria-prima e de água... Resumindo, a produção animal vem sendo objeto de muitos questionamentos. Tanto mais que a Terra, daqui até 2050, terá 9 bilhões de bocas para alimentar.


Você quer MESMO fazer algo pela vida, pelo planeta, pelo meio-ambiente?... GO VEG!

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Novo lançamento da Ford, o FIGO.

O carro é até bacaninha, mas cadê aquelas pesquisas mundiais que as montadoras faziam antes de colocar nomes em seus produtos a fim de evitar mal entendidos?

Começou com a Besta. Se alguém, por algum acaso, esquecesse o nome do carro, bastaria falar: “Aquele... como é mesmo... aquele carro, o Estúpido...”.

Não sei o que pensaram os também executivos da Ford quando escolheram Ka como nome de carro. Ka representa um dos elementos que, segundo os egípcios, formavam o ser humano. Ligado ao corpo de alguma forma, era uma individualidade ou personalidade. Você sabia? Executivos da Ford são muito cultos, sabe...

Corsa então nem se fala. Você sabe o que é um ou uma corsa? Coloque no Google “corsa animal” (sim, animal, pq senão só vai aparecer o carro). É uma espécie de veadinho, um Bambi...

A Fiat não deixa por menos: Tipo. Aquele carro é tipo assim... Tipo O QUÊ meu Deus do céu?! Nada, ele é só Tipo e pronto, apenas um problema gramatical de frase incompleta.

Nem preciso falar nada, pois muitos já falaram: Picasso gerou centenas de piadas... Se você achasse a suspensão dele meio firme demais, poderia dizer que “seu Picasso está muito duro” pra atendente da oficina. Bem, melhor Picasso que Pingolin.

Captiva é outro – mau –exemplo. Você compra um desse pq é um doce de pessoa e sai com ele para captivar as pessoas na rua... Será que foi assim o brainstorm?

Fiesta não é de todo ruim, mas sinto um quê de coisa de pobre nesse nome. Talvez seja implicância minha, preconceito com Portunhol.

Se eu fosse executivo de montadora e tivesse algum poder de decisão teria receio em aprovar “Corolla” para o Brasil. Soa como carola, aquela tiazinha que não sai da igreja.

Alguns carros se beneficiam do uso do Inglês, pois se traduzíssemos seus nomes ficariam ridículos. Você compraria sim, mas não acharia esquisito um carro se chamar “Serve” (Fit) ou “Cidade” (City)? Ou um “Fusão” (Fusion)?

Agora o Ford Figo nos apresenta toda uma nova era. Uma nova era em que a quitanda toda pode se transformar em automóvel. Logo você poderá comprar o compacto Uva, o jovem e divertido Goiaba, o Laranja – carro que será muito utilizado por traficantes - ou, se tiver família grande, poderá optar entre o Jaca e o Melancia.

E, claro, para homenagear o país abençoado por Deus e bonito por natureza, seja patriótico e compre um Banana pra passear de fim de semana.

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

PÃO E CIRCO PARA A MASSA IGNARA

De novo, como em todo ano, aí vem a Festa do Peão de Barretos.

Eu nem ia escrever esse
post pois acredito que todas as críticas já foram feitas, todos os vegetarianos já se manifestaram contra e os militantes pelos direitos animais também. Para tentar mostrar que essa prática é cruel, fizeram passeatas (alguém "não-vegetariano" ou "não-militante" viu?), criaram apresentações em Powerpoint, vídeos, cartazes e os distribuiram internet afora.

ONGs, associações, agremiações e simpatizantes "da causa" animal, muitas vezes com recursos dos próprios bolsos de seus integrantes, fizeram o que podiam para conseguir adesão ao boicote ao evento, à conscientização das pessoas de que, por exemplo, derrubar um novilho torcendo-lhe o pescoço quando este está correndo não é muito saudável para o animal.


Mas nada parece dar resultado e mudar a situação.

A
ignorância do povo prevalece, é contagiosa e parece se alastrar mais que a gripe suína.

O lobby das empresas patrocinadoras é muito forte, tem muito dinh
eiro e o apelo é grande: muitos não vão lá para ver o rodeio, mas beber, verem e serem vistos e quem sabe tirar ao menos uma lasquinha dos rapazes e garotas fantasiados de Jeca curtindo os shows musicais que rolam por lá.

E foi por causa dos shows que resolvi escrever.
Li no UOL que "
católicos e evangélicos marcam presença na festa de Barretos", mandando pra lá suas estrelas musicais.

Você deve pensar que tenho birra em relação à religião de modo geral, mas os religiosos fazem por merecê-la.

Quer saber o motivo pelo qual as religiões (exceção para o Budismo e algumas outras do lado de lá do mundo) e os religiosos não abraçam a causa animal e o vegetarianismo? Porque isso seria impopular, perderiam faturamento, quer dizer, adeptos.


Como disse Abrahan Lincoln, "Não me interessa nenhuma religião cujos princípios não melhoram nem tomam em consideração as condições dos animais".

Como pode gente espiri
tualizada, que procura a paz, procura "o Senhor", procura elevação espiritual concordar com isso ou, tão ruim quanto, fechar os olhos a respeito?

Claro, como sempre haverão depoimentos sobre como os animais são bem tratados, pois eles são o ganha-pão dos peões e do espetáculo, blá, blá, blá... E a maioria vai acreditar nisso, como se laçar ou derrubar por torção de pescoço, estressar um animal naturalmente pacífico para que pareça bravo, dar choques para já sair pulando para arena e outras práticas ainda mais sádicas fossem "tratar bem".

Assim como o personagem Cypher (uma alusão à Lúcifer?), grande parte prefere continuar na Matrix, pois só precisam continuar em frente como sempre fizeram.

"- Ilusão é felicidade" - diz Cypher abocanhando um sangrento naco de filé.

sábado, 15 de agosto de 2009

GREAT MINDS THINK ALIKE COISA NENHUMA


Você já deve ter ouvido a frase "great minds think alike". Ela é usada, apesar de algumas informações equivocadas por aí, para expressar superioridade intelectual entre pessoas que pensam de maneira semelhante.

Numa peça de comunicação da Ermenegildo Zegna (que pai é esse que põe um nome desses numa criança?...), três homens bem apessoados usam ternos da marca e lêem o Financial Times.

O cartaz tenta passar a idéia de que são executivos de sucesso e que tem bom gosto para roupas.

Já ouvi essa frase em filmes também, numa situação em que alguém tem uma idéia genial para ganhar muito dinheiro e seu interlocutor, pensando semelhante, adiciona alguns toques nessa tal idéia e o primeiro termina a cena com a tal "great minds...".


Ok, eu sou chato mesmo, mas me parece haver um equívoco nessa frase ou na idéia que as pessoas acham que ela passa. Explico: se grandes mentes pensam parecido, teremos pessoas inteligentes (great minds) tendo nenhuma ou então poucas idéias originais, pois eles "think alike".


Mas como pensar igual, mesmo que seja entre os brilhantes, o fará "fazer a diferença", algo tão valorizado em qualquer área?


Ou seja, mentes que pensam semelhantemente tem um "quê" de espírito de manada, aquele bando que se veste parecido, corta cabelo parecido, usa pulôver cor pastel sobre os ombros de modo parecido,lê as mesmas coisas, conta as mesmas piadas, assiste as mesmas coisas na TV, tem as mesmas opiniões sobre diversos assuntos e tiram conclusões semelhantes, por exemplo, sobre uma peça teatral de Gerald Thomas.


Indo ao extremo nesse raciocínio teremos uma outra frase: "fools never differ" (tolos nunca divergem).


São as grandes mentes, os grandes cérebros (não, não os "cabeção" como há em toda turma, entenda) os que pensaram diferente da grande maioria que fizeram a História. Todo o resto apenas os seguiu ou, pior, resistiu a eles.


Copérnico pensou diferente, muito diferente de todos e mudou o modo como vemos o Universo.

Darwin voou longe das mentes medianas, as que pensavam semelhantemente, e criou a Teoria da Evolução. Você pode não acreditar nela, mas essa idéia mudou o curso da História também.

Antes que algum engraçadinho lembre, Hitler também teve uns delírios
diferentes do resto do mundo... Bem, grandes mentes às vezes tomam rumos estranhos.

Einstein, Martin Luther King, Philip Kotler, Mahatma Ghandi, Gautama Buda, Jesus Cristo... Todos eles pensavam muito diferente de seus semelhantes às suas épocas.


Portanto, quando alguém lhe fizer um elogio dizendo que "great minds think alike", lembre-se de que "fools never differ". Talvez a pessoa seja mesmo brilhante e tenha apenas encontrado uma maneira elegante de lhe dizer que você é um maria-vai-com-as-outras.

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

É SIMPLES DEFINIR O AMOR

O nome de Iggy Pop estará para sempre ligado ao Punk, de quando era o vocalista visceral e avassalador do The Stooges. É esse mesmo Iggy Pop, sobrevivente dos excessos dos anos 60 e 70, que lança "Preliminaires", um disco no mínimo curioso.

E imperdível.

Todas as resenhas que você encontrar por aí tratarão das versões que ele fez para "Les Feuilles Mortes" de Édith Piaf e a lúgebre mas surpreendentemente suave, tendo em vista quem a canta, "How Insensitive"(Insensatez) de Tom Jobim.

O álbum é inspirado no livro “A Possibilidade de uma Ilha”, do polêmico escritor francês Michel Houellebecq, considerado um radical destemido por uns, medíocre e apelativo por outros. Só isso já seria suficiente para ver do que se trata, mas aqui no Café o papo vai pra outro lado.

Ouvi mil vezes e vou ouvir muitas vezes ainda "The Machine for Loving". Uma estória crua, dura mas que é também uma canção/declaração de amor, mas não uma comum como muitas outras. Ao ouvi-la pela primeira vez, no carro dirigindo e sem prestar atenção à letra, os arranjos me fizeram imaginar uma casa em meio a uma planície deserta, montanhas ao longe e o Sol se pondo no horizonte. Freud explica...

A música conta a estória de Fox, companhia da qual o cantor não mais desfruta. Iggy termina essa canção dizendo (dizendo mesmo, pois a canção é falada, não cantada):

Love is simple to define
but it seldom happens in the series of beings
Through these dogs we pay homage to love
And to its possibility.



What is a dog but a machine for loving
You introduce him to a human being,
giving him the mission to love
And however ugly, perverse, deformed or stupid
this human being might be
The dog loves him.
The dog loves him.


Não sei se ele ou o Houellebeq são ou foram cachorreiros.
Acho que sim.